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Versão da Catarina

Qual é o cúmulo da sacanagem para o comandante de uma embarcação em trânsito? A tripulante na TPM, desatenta, esquecida, pronta para iniciar um motim. E qual o máximo da sacanagem para a tripulante? Não poder mergulhar em Fernando de Noronha, para não atrair tubarão.

Não há registros de ataques de tubarão em Fernando de Noronha, mas ninguém quer ser o primeiro da estatística. Quem viu a festa dos tubarões no Porto da Ilha, no cair da tarde, quando se jogam vísceras restantes de uma peixaria local, não pensa em correr o risco; muitos questionam o que pode acontecer quando esse serviço falhar, por qualquer motivo.

Quando estávamos em Recife, no feriado de 7 de setembro, a imprensa noticiou que um estudante foi levado pela correnteza na Praia de Piedade, em Jaboatão de Guararapes, sendo encontrado morto, com partes das nádegas e coxas laceradas por mordidas de tubarão. A causa da morte não foi afogamento, mas a hemorragia causada pelas mordidas. Poucos dias depois, outro caso. As motivações dos ataques, que vem se intensificando desde a década de 90, podem ser várias, desde a poluição, à destruição dos manguezais, e muitos especialistas arriscam ser a construção do Porto de Suape.FN-1

Depois de uma viagem puxada, nada melhor que andar, e não falta morro e trilha na Ilha, para subir e descer. Nos aconselharam a usar camisa de manga comprida, chapéu e óculos escuros, porque o sol é de lascar; venta demais, o que compensa o calor do vestuário. Levamos água para beber, porque o clima é árido, e nem sempre há uma barraquinha por perto.

Pegávamos trilha comendo poeira. Aonde foi parar a mata tropical da Ilha? Onde estão as sombras das árvores? Dizem que elas existiam, e que houve uma devastação por conta do presídio que lá funcionou por anos, por medida de segurança, e hoje os ambientalistas não se entendem quanto ao seu reflorestamento; restam graminha seca e arbusto baixo. Ainda assim, sem mata, o lugar é esplendoroso, com praias de areia fina, água transparente, muita vida marinha, e muitos pássaros. Queria mais tempo para conhecer tudo.

No dia da premiação da Refeno fomos conhecer a praia do Sancho, de bugue, e deu para arriscar nadar de snorkel numas piscinas isoladas que se formam. Muitos peixinhos curiosos vem ver o que está acontecendo, e bicar a ponta dos nossos dedos das mãos. Depois, fomos almoçar na Praia da Cacimba, com amigos. Estava apertada para ir ao banheiro, mas informaram no restaurante que só tinha o natural, nuns matinhos lá trás, o que para mulher é mais complicado; teria que descer a ladeira e ir fazer no mar. Nesse mesmo restaurante passou correndo, por entre as mesas, um rato, que foi formidavelmente morto por uma das irmãs gêmeas, que serviam no local, com um coco verde. Olé!! Parece que eles são praga na Ilha.FN-2

E como não se vê o tempo passar, já era hora de voltar e tomar banho para a premiação da Regata. O traje social teve que ser um molha-bunda-seca-rápido, de tactel, porque no Porto, onde ancoramos, tem muito swell, e você vai se molhando logo no trajeto. Também não dá para colocar salto alto, porque o desembarque é na areia. Ah, pena que não deu certo comprar um bote com quilha, está fazendo uma super falta no Nordeste.

Pela primeira vez na minha vida, subi num pódio. Fiquei com medo de escorregar de lado. Mas deu tudo certo, muitos aplausos, cumprimentos mútuos. Ficamos muito satisfeitos que nossos amigos, do trimarã da Paraíba, pegaram o primeiro lugar na classe multicasco d: merecido para uma viagem puxada, tomando banho de água salgada, o tempo todo.

O excessivo balanço do mar na ancoragem dificulta um pouco o sono. A compensação são os golfinhos rotadores ao amanhecer, em volta do barco, e as tartarugas.

São tão poucos os dias autorizados para permanecermos na Ilha FN-3 que, já no segundo, estávamos planejando a volta. Na véspera, a parte mais difícil da viagem: a despedida de amigos que não sabemos quando vamos encontrar de novo. Temos que nos acostumar com isso, mas não é fácil, principalmente de alguns estrangeiros, que sabe-se lá quando veremos. A amizade, e a afinidade, são sentimentos da alma, transcendem os desencontros eventuais da língua; certo é que, tais amigos vão ser guardados no coração.

Resolvemos ir até Natal, pela oportunidade, e porque não conhecíamos a cidade. Saímos no sábado, dia 26 de setembro, às 8 horas da manhã, horário de Brasília, juntamente com uma flotilha. Dessa vez, o combinado era navegar na boa. Saímos já no primeiro rizo da vela mestra. O mar estava chato, com muitas ondas de lado, que foram piorando à medida que nos aproximávamos de Natal. Tomamos muitos banhos de água salgada, de ondas que lavavam o convés. No nordeste, esse foi o pior mar que pegamos; em compensação, teve bastante vento, o tempo todo, tanto que viemos com a genoa rizada.

Na chegada a Natal, ouvimos pelo VHF o pedido de resgate de nossos amigos do trimarã da Paraíba. Fomos informados pela Marinha que um rebocador já estava a caminho para resgatá-los. Ficamos muito apreensivos, e só pudemos ter notícia de que tinham sido resgatados no outro dia, pela manhã. Pelo que soubemos, o barco capotou, e eles ficaram aguardando resgate por dez horas, naquele mar batido. Por fim, estão bem, nasceram de novo. Então, vida longa aos bravos, digo, aos reis!

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Versão do Dorival

No dia seguinte, em Fernando de Noronha, acordei às 5:00 hs (Brasília). O dia já estava muito iluminado e, ao olhar lá fora, vi que ancorei muito perto das pedras, não mais do que 30 metros, e havia lançado pelo menos 50 metros de corrente. O susto foi enorme, porque se o vento muda, o choque com as pedras seria inevitável. Levantei âncora imediatamente, e fomos para mais perto do molhe do porto.Luthier e wawatoo no porto de Recife

A água em Fernando de Noronha é tão limpa que, com profundidade de 10 metros, pude, com calma, escolher onde baixar o ferro, evitando as pedras. Coloquei uma bóia de arrinque com 8 metros de cabo, de tal forma que ela ficasse submersa, imaginando que poderia me ajudar a soltar o ferro, caso ficasse preso nas pedras do fundo.

Dormi apenas 4 horas, mas depois dessa, mais a adrenalina da chegada, não consegui mais pegar no sono. Fomos para terra.

Já havia festa na Ilha, bandeiras dos patrocinadores, água, refrigerante e frutas à vontade para os participantes. Revimos os amigos que fizemos no Cabanga e, depois de muita conversa sobre as estratégias adotadas, fomos passear. Logo soubemos que fomos o 32º barco a chegar na Ilha. À tarde, saiu a primeira publicação, ainda preliminar, da classificação e vimos que estávamos em primeiro na classe aberta B, e que os nossos amigos do trimarã da Paraíba também foram primeiro na classe multicasco D. Fizeram uma tremenda festa para nós, compraram alguns peixes com os pescadores locais e, em uma casinha próxima ao Museu dos Tubarões, comemos peixe assado e cru, à moda japonesa.FN-5

No dia seguinte, fomos a diferentes praias passear. Encontramos muita gente, a Ilha estava cheia de velejadores.

À noite, a festa da premiação, muita gente, fotos, etc..

A ancoragem em Fernando de Noronha é muito mexida, eu acordava o tempo todo achando que estava navegando. De repente, na manhã seguinte à premiação, tudo acabou, as bandeiras já haviam sido recolhidas e muitos barcos já estavam se ajeitando para sair. Muitas despedidas.

Nesse dia, o skipper do trimarã grandão veio até o Luthier, não falamos muito, estava claro que a despedida era difícil, para mim e para ele. Tanto em Salvador como na Refeno sempre estávamos juntos, trocando idéias e ajudando um ao outro, e a outros navegantes que cruzaram nosso caminho, foram meses de convívio. O adeus foi um abraço rápido, e ele saiu com o bote em alta velocidade sem olhar para trás, também entrei no barco para não ver.

Fui até o trimarã da Paraíba para ajudá-los a resolver uma pane elétrica, falamos muito sobre a regata e combinamos nos encontrar em Cabedelo, um porto próximo à João Pessoa. Um deles me contou que, durante a viagem, ficaram imaginando que eu e a Catarina estávamos comendo iguarias em pratos de louça, enquanto eles estavam no pequeno trimarã comendo sanduíche frio, até que houve a conversa pelo rádio e eles viram que estávamos competindo mesmo, indo para o outro lado da ilha, comendo bolacha salgada, nada de iguarias.FN-4

Dia 26 de setembro saímos junto com outros 15 barcos para Natal. Quando fui suspender o ferro, notei que ele estava em baixo de um outro veleiro da Alemanha. Aproveitei um momento de mudança na direção do vento que tirou o veleiro de cima da âncora e comecei a recolher a corrente, com a Catarina levando o Luthier a vante, lentamente, no motor. Nossa âncora acabou por “pescar” a corrente do veleiro alemão. Com o croque, peguei a bóia de arrinque e, soltando peso da corrente no braço da âncora pude, puxando o cabo, soltar facilmente a corrente do veleiro alemão. Enfim, a bóia me ajudou de outra forma, porque o ferro não ficou preso ao fundo, mas vi um veleiro que ficou uma hora para frente e para trás, para soltar a âncora.

O trimarã da Paraíba também saiu nesse dia, mas seguiu para Cabedelo.

A viagem até Natal foi boa, velejamos tranquilos, em regata, mas sem competir. A chegada foi mais chata, o mar estava ruim, e o vento entre 20 e 25 nós. Assim que chegamos, ouvimos pelo VHF, canal 16, Natal Rádio, o aviso do pedido de socorro do trimarã da Paraíba. Nossos amigos capotaram a 20 milhasFesta da premiação em Fernando de Noronha de Cabedelo, estavam à deriva, em cima do trimarã emborcado. Entrei em contato com o Rebocador de Alto Mar Triunfo, da Marinha do Brasil que, pelo SSB, me informou que estavam indo fazer o resgate deles. Outros dois Navios Patrulha, o Graúna e o Guaíba, também foram. Foram resgatados perto da meia noite, mais ou menos 10 horas depois do capotamento.

O sucesso desse resgate se deve a duas coisas: o preparo, e a inteligência estratégica do Comandante do Triunfo, e aqueles “dispositivos automáticos de iluminação” que a marinha exige que os veleiros engajados na Refeno tenham nos coletes. Além disso, os tripulantes estavam bem equipados, e têm bastante experiência de mar.

Em uma festa no Clube aqui de Natal, o Capitão do Triunfo me contou como foi o resgate. Assim que eu falar com os tripulantes, conto essa história. Eles estão bem, descansando.

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Versão da Catarina

Não me lembro de ter passado tanto calor nos últimos tempos como na cidade de Recife: às 5:00 h da manhã o dia já nasce, quente, e a temperatura ambiente chega aos 34º C antes do meio dia, a da água aos 29ºC, e nem estávamos no verão, ainda. Efeito dos 8º e pouco de Latitude Sul, e do pouco vento dentro da cidade.

Na visita ao Mercado de São José, erigido sob uma estrutura de ferro, tivemos que tomar uma decisão: ou ficávamos por lá para comprar frutas, legumes e pão, ou pegávamos uma condução para o shopping: venceu o ar condicionado. Do Mercado levei sândalo, um capim perfumado, que dizem ser bom para o bolor; na mesma barraca de ervas, perguntaram ao Dorival se ele não queria levar catuaba, ou jenipapo, as “pílulas azuis” naturais.

O artesanato vendido ali é colorido, cheio de bonecos, figuras esculpidas em madeira. Há muitas casas com artigos para umbanda e candomblé, o que me surpreendeu, achei que essa fosse a tônica da Bahia.

Foi no Recife que venci o desafio de fazer tapioca: a massa é fácil de encontrar, e barata. Fiz à moda, com queijo coalho e coco ralado. A delícia é muito calórica e, talvez por isso, gostosa que “é a gota”.

Nossos amigos nos levaram ao Museu Ricardo Brennand, que expõe uma vasta coleção particular, doada ao estado. Impressiona a jardinagem externa, que inspira a celebração de casamentos da alta sociedade, inclusive, entre pessoas do mesmo sexo, como um recém ocorrido. Há uma extensa coleção de armas brancas: várias formas de perfurar os outros, com a ponta afiada entrando diretamente, ou torcendo, em tamanhos e punhos à escolha do agressor. Crueldade humana ou defesa própria? Certo é que, desde épocas remotas, o homem não se entende.

Gostei mesmo da coleção francesa de bonecos de cera, que reproduzem as feições, estaturas e vestuários da corte de Luis XIV, no julgamento de um encarregado de finanças do rei, chamado “Nicolas Fouquet”. O “cabra” resolveu dar uma festa deslumbrante para 600 pessoas, em um castelo que ostentava luxo, e o rei desconfiou que algo estava errado. O próprio Fouquet fez sua defesa, justificando a herança que tinha recebido, seu trabalho árduo, blá, blá, blá, mas seus inimigos há muito preparavam sua fritura. Incrível como ele conseguiu se safar da morte: pegou prisão perpétua, e arresto dos bens.Largada  no Porto de Recife

O capitão do Luthier se encantou com uma carta náutica de 1850, onde aparece o Rio São Francisco. O interessante foi ver que, naquela época, a foz do rio tinha profundidades sempre maiores que 12 metros.

Grande correria às vésperas da Regata: finalmente prendemos umas aparas na dinete, para proteger o corpo no descanso, fizemos outras modificações no convés, conserto de vazamentos na pia da cozinha, prendemos os estofados que voam na viagem, etc… Parte da lista de itens intermináveis. E mais o supermercado de véspera, contando com não encontrar produtos em Fernando de Noronha.

Em que pese a REFENO tratar-se de uma festa, dava para perceber o clima de disputa, meio tenso, entre as tripulações, e um certo estresse para arrumar os últimos itens do barco, a tempo.

Apesar de eu não entender muito bem essa estória de linha imaginária de largada, porque era a primeira vez que participávamos, não fizemos feio, e nos apresentamos em primeiro lugar no check-in. Depois da largada, e de passarmos a bóia vermelha, minha primeira mancada: aquartelei o barco enquanto o Dorival prendia o punho da mestra, que se soltou, e ajeitava o cabo da genoa, que enroscou. Renderia o prêmio pato.Refeno velejando 1

Diferente do relato de outros barcos, não topamos com pirajás, talvez por estarmos mais a leste; pegamos, sim, um sol inclemente, a ponto de não ter uma sombra para se abrigar, e nem uma chuvinha para refrescar. Naquele marzão, de profundidades de mais de mil metros, cor papel carbono com um pouco de azul cobalto, parecia que estávamos num deserto. Dentro do barco, um forno.

Concordei com o Dorival com o fato de nos mantermos mais a leste da linha inicialmente traçada para Noronha, que nos trazia mais vento, co m um certo pé à trás. Perguntava a ele: “Quem garante que vamos ter vento para voltar?”. Se a minha função é questionar, traduzindo, buzinar na orelha do Dorival, quando estávamos a mais de 20 milhas da linha, comecei a minha campanha para voltar. Enfim, ele concordou, e tomamos o rumo para o norte. Começamos a nos aproximar da linha traçada para Fernando de Noronha muito devagar. Eu dizia para ele que estávamos andando paralelo à linha, e bem longe, mas ele não me ouvia. Foi quando uns amigos nossos, de um trimarã da Paraíba, falaram com o Dorival pelo rádio, através de seu capitão: “Eu recomendo que você volte para a linha”, com todo o cuidado para não melindrar o comandante do Luthier. Aí eu soltei meu clássico: “Tá vendo?” Seguindo o conselho dos nossos anjos da guarda, começamos a rumar para a linha, sempre bem à leste dela.

A oitenta milhas da Ilha, avistamos os primeiros pássaros, planando a maior parte do tempo.

Nesse ponto, já achávamos que seríamos uns dos últimos, por conta do número de horas navegadas, em comparação com as edições anteriores da Refeno. Qual foi nossa surpresa ao nos aproximarmos da linha, vermos outros barcos por bombordo, cada vez em número maior.

Por não conhecermos o lugar, a chegada foi um pouco confusa: com tantas luzes, não sabíamos qual era a do luminoso da Regata. E era um tal de perder o vento depois da Ponta da Sapata, e entrar rajadas repentinas, realmente, um sufoco. Catarina em Fernando de Noronha

Até que passamos da linha de chegada e ancoramos, exaustos, pelas últimas 30 horas de vigília, com mar batido. Tão exaustos que o Dorival brigou comigo, por uma besteira; isso não é comum e, por conta disso, concluí: regata não é para nós. Avisei ao Dorival que quero cruzeirar por aí, com previsão de ventos favoráveis, saindo na hora mais conveniente para nós, rizando as velas antes do anoitecer, levando o barco macio para fazer refeições, tudo sem estresse. 

Levamos a nossa casa nas costas, com todas as nossas coisas. Esse barco é nossa vida, esperamos muito por ele, tenho muito xodó pelo nosso baby e, o quanto seja possível, quero só paparicá-lo. Valeu, aprendi muito, acho também que me diverti. Depois de tudo, era só desfrutar da Ilha, nos poucos dias que podíamos permanecer, e das festas da Regata. Assunto para depois do mergulho, tá bom? Ou, como dizem os recifences, “entendesse?”

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Versão do Dorival

A REFENO é uma festa, desde a chegada no Cabanga, à preparação dos barcos, largada, e, é claro, a Ilha de Fernando de Noronha. Só não é uma festa a navegação de 300 milhas competindo: é cansativo, duro, mas, muito gratificante.

Chegamos ao Cabanga no dia 1º de setembro, fomos bem recebidos. No clube havia apenas três barcos de fora, que vieram para a regata; o nosso, o quarto, era o único com alguém morando a bordo. Logo chegou um casal do Rio Grande do Norte, que também mora a bordo de um veleiro de 33 pés.

Alguns dias depois chegou, às 5:00 hs da manhã, um trimarã de 30 pés com 4 tripulantes da Paraíba, muito simpáticos. Ajudei na atracação do barco ao lado do Luthier. Estavam tão cansados que, um deles, muito falador, ficava segurando o cabo na mão e não me passava para usá-lo na amarração. Eu pedia o cabo, e ele ficava me olhando, parado, sem fazer nada, mas falando sem parar. Quando perceberam que estavam safos, eu ainda amarrava o barco e eles já estavam devorando sanduíches, com duas mordidas, e pratos de arroz de polvo.

Aos poucos, principalmente na última semana, chegaram muitos barcos: algumas máquinas de regata, barcos de série e muitos candidatos a tripulantes. Para meu gosto, aquele trimarã enorme que estava em Salvador, cujo skipper foi comigo ao resgate de um veleiro, foi contratado por um patrocinador para participar da REFENO.

O Luthier estava pronto muito antes de toda essa muvuca se iniciar. Depois de muitos encontros de fim de tarde, cervejas, mentiras, vantagens, etc.. o dia da largada se aproxima, e, antes disso têm a reunião dos comandantes. Nessa reunião, são apresentadas as regras da regata, as do ICMbio (parte separada do IBAMA que cuida do Parque de Fernando de Noronha), e os procedimentos de acompanhamento usados pelos navios da Marinha do Brasil. Foi solicitada a colaboração dos barcos equipados com HF (SSB), na tomada de posição dos barcos fora do alcance VHF, repassando as informações aos navios da marinha.Refeno velejando 2

Um amigo de Parati, que têm HF no barco, falou comigo que não tinha experiência para fazer aquilo. Procure incentivá-lo a participar.

Na noite anterior à largada, recebi o skipper do trimarã no Luthier. Juntos vimos que a previsão era de vento ESE na largada, fraco, que rondaria para NE, e junto à costa iria ficar sem vento. Os tripulantes do trimarã da Paraíba também me falaram que era melhor ficar acima da linha que seria o rumo direto de Recife até Fernando de Noronha, principalmente na chegada, por conta de uma correnteza de leste para oeste que têm na região.

Chegou o dia 19 de setembro. Às 15:00 horas abriu o check-in do grupo vermelho, primeiro a largar, e o Luthier foi o primeiro barco a fazer o check-in. Depois, ficamos com apenas a mestra, indo e vindo na área de partida até que, faltando quatro minutos, abri a genoa e saímos em direção à largada. Logo vi que ia queimar a largada, dei um bordo e voltei. Acabamos largando em 7º lugar. Porém, o vento de 11 nós nos levou para a saída do porto a 6 nós, com isso passamos do molhe de fora já em quinto. Depois de dois bordos bem sucedidos deixamos a bóia norte a bombordo. Uma hora depois se soltou o punho da vela mestra junto ao garlindéu. Fui até o mastro arrumar, mas, quando folguei a mestra, a Catarina perdeu o rumo e aquartelamos. Ficamos parados por alguns minutos, o suficiente para que muitos barcos passassem, para arrumar o punho da vela e soltar uma das escotas da genoa, que estava enroscada no bote.Porto de Fernando de Noronha

Retomamos o rumo direto para Noronha em uma orça fechada, 35º com o vento aparente, cada vez mais fraco, confirmando a previsão. Estava  ficando difícil manter-se na linha direta para a Ponta da Sapata em Fernando de Noronha. Logo comecei a ouvir no rádio, VHF, alguns relatos de barcos que estavam sem vento algumas milhas à minha frente. Dei um bordo e comecei a orçar para E, 110º magnético, 87º rumo verdadeiro. Velejamos com velocidade de 3 a 4,5 nós durante 22 milhas. Depois disso, dei outro bordo e adotamos um rumo paralelo à linha direta Recife – Fernando de Noronha. Essa opção é conhecida pelo pessoal como bordo suicida, porque tipicamente deixa o velejador sem vento. Não foi o caso: com vento o tempo todo, depois do bordo começamos a desenvolver velocidades sempre maiores de 6 nós, porém, isso fez o percurso total até Fernando de Noronha ficar em 327 milhas.

Ficamos tão distante dos outros competidores que a única forma de passar nossa posição para a Marinha foi pelo HF. Lembro que, quando passei o rumo de 110º mag o operador de rádio do navio da Marinha pediu para eu confirmar o rumo. Soube depois que fomos os únicos a adotar essa estratégia.

Depois de algumas horas, comecei a ajustar nosso rumo para se aproximar da linha direta, mas estava tão cansado que os ajustes foram insuficientes. Mesmo assim, foi o suficiente para, quando estávamos a 80 milhas da Ilha, ouvir 5 veleiros tentando passar suas posições para a Marinha, pelo VHF, sem sucesso. Anotei a posição, rumo e velocidade de todos eles e passei para o Navio da Marinha pelo HF-SSB. Avisei a todos que tinha passado as posições e, então, o comandante trimarã da Paraíba, aquele que ajudei a atracar, perguntou qual era a minha posição, quando passei para ele, ele disse assim “ olha comandante, eu recomendo que você mude seu rumo para seguir em direção à linha porque assim você vai chegar do outro lado da Ilha”, soube depois que os outros tripulantes disseram para ele: “recomendar nada “p#$!”, manda o cabra mudar o rumo”. Parece que acordei com isso. Rumo acertado, velas ajustadas, e o Luthier rumou muito rápido para a Ponta da Sapata, vindo de leste, com a correnteza a favor. Fomos o 32º barco a chegar, 1º na classe aberta b.Na Ilha

Depois de 2000 milhas navegadas, estou começando a aprender e entender a meteorologia. Deu tudo certo. Com ajuda dos amigos da Paraíba, velas bem trimadas, muita sorte de principiante e uma companheira com muita paciência, chegamos às 23:30 hs em Fernando de Noronha. Eu estava muito cansado, tanto que briguei com a Catarina por um motivo tão bobo que não me recordo mais qual foi.

No dia seguinte, a Ilha e um pequeno susto. Continua….

Vejam ainda no youtube, o vídeo "Refeno 2009 – parte 1/6", vocês vão ver o WA WA TOO  largando com gennaker, ao lado do Planckton, e o Luthier chegando por trás.

http://www.youtube.com/watch?v=ayXgAvB30Z0

O veleiro Luthier tripulado pelo Capitão Dorival e imediata Catarina cumpriu o percurso da regata em pouco mais de 56 horas e classificou-se em primeiro lugar na classe aberta B da Refeno (barcos menores que 40 pés). Veja na página oficial da regata em www.refeno.com.br  e a classificação em www.refeno.com.br/admin/regata_rel_abertab.php

Parabéns Dorival e Catarina. Vamos aguardar o relato desta travessia com ansiedade.

Luthier em Noronha

Reproduzo abaixo trechos do e-mail recebido agora há pouco:

Oi João,
Largamos na primeira turma, às 15:20. Passamos a linha 5 minutos depois da largada, por uma bobeira minha, achei que ia queimar, e o vento diminuiu, sairia em primeiro, mas saí em sexto.
Com vento de E de 12 nós, após dois bem sucedidos bordos, montamos a boia em terceiro. Dois barcos grandes ficaram para trás dentro do canal.
Logo depois, 3 horas, demos uma bobeira no rizo da vela, e perdemos uns 20 minutos. Em seguida, o vento apertou e  virou nordeste. Depois de dois bordos, com o vento diminuindo para 10/8 nós, resolvi dar um bordo e rumar para leste, andamos 22 milhas a 4 nós. Depois foi só ir orçando em direção da linha reta que marquei entre a boia norte do porto do Recife e a Ponta da Sapata. Deu certo, achei mais vento que o pessoal, fizemos 100 milhas nas primeiras 24 horas, e andamos a 7,5 nós em uma orça folgada nas ultimas 24 horas, cheguei a ter mais de 8 no GPS, mas era a corrente me ajudando.
Fomos o 32º barco a chegar.
O Barco está inteiro, não quebrou nada.
Depois comento mais, vou tomar um café e voltar a dormir.
Abraço
Dorival

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Versão da Catarina

Nos últimos dias que passamos em Salvador, antes de seguirmos para Recife, começaram a chegar os primeiros barcos brasileiros, para participar da Refeno. Até então, só estávamos tendo contato com barcos estrangeiros, e deu para aprender bastante coisa com eles.
Aprendi a fazer o “Pão da Tracy”, uma sul-africana que perdeu 11 quilos na travessia para o Brasil, de tanto enjoar, e me deu empolgada sua receita. Comi do pão, feito por ela, numa reunião de velejadores, na prainha de Itaparica. É muito prático de fazer, porque só leva farinha, água, e fermento em pó, não o biológico, sendo “assado” numa frigideira antiaderente; se não for comido na hora, vira uma pedra. Não se compara ao pão assado, feito com fermento biológico; dá até para suspeitar do porquê ela teria emagrecido tanto. Concluí que esta seria minha última opção, numa travessia.
Achei interessante o modo como assam o peixe e o frango numa fogueira, enrolados no papel alumínio. Conseguem fazer um bom jantar com poucos recursos.
Também aprendi a comer “fondue”, à moda suíça, acompanhado de uma bebida à base de cerejas, para molhar o pão, e de vinho branco. Dá para imaginar o suador que causa uma comida dessas no calor de Salvador, com aquela panela acesa permanentemente, em cima da mesa de servir, somado ao calor de um lampião, bem em cima de nossas cabeças. Os anfitriões quiseram servir o que eles têm de melhor, foram muito delicados. Só não consigo aprender a gostar de vinho branco.
Eles também estranham nossas comidas: uma holandesa me disse, num churrasco em um barco brasileiro, que nossa farofa parecia areia da praia; de certa forma, ela tem razão.
Salvador voltarei Na nossa saída da Baía de Todos os Santos, no dia 27/08, com destino a Recife, o Dorival me saudou “_Bem-vinda ao clube”, quando subi no cockpit para vomitar. O mar estava batido, e eu dei uma bobeira: ao invés de ficar lá fora, me acostumando ao balanço, resolvi lavar a louça do café da manhã, naquela neura de deixar tudo limpo, arrumado. Meu corpo também não estava na melhor forma, ainda estava me recuperando de um resfriado, um pouco congestionada. Sei que enjoar é muito ruim!
Me lembrei dos baianos e clamei: misericórdia! Pensei na minha mãe, nos amigos novos que fizemos, e nos antigos, em coisas boas da vida, e cochilei. Quando acordei, já estava me sentindo melhor. Logo depois, me deu uma fominha, comi e fiquei bem. Para o Dorival, a misericórdia não veio tão cedo, mesmo tomando remédios; eu jurei que iria levá-lo para fazer acupuntura no Recife, quando chegássemos, minha última esperança. Dava desespero vê-lo desidratar.
Já aprendi que, para subir a Costa com frente fria se pega vento favorável, o que é bom, mas junto vem o mar mais alto, então paciência, tem que se acostumar ao desconforto. Pelo menos, pudemos velejar a maior parte do trajeto, mas pegamos muita chuva.
Próximo à Aracajú, fomos acompanhados por muitos golfinhos, que cercavam o barco. Pareceram-me menores do que os que eu já vi, e com o dorso mais escuro.
À noite quase não havia barcos de pesca, pois passamos para lá da Plataforma Continental, em profundidades elevadas, mas avistei alguns cargueiros; um deles passou um pouco mais perto, a uma distância segura, parecendo uma árvore de natal, de tão iluminado; fiquei pensando em quantas árvores ele não teria que plantar, para compensar tamanho consumo de energia.
Na manhã do dia 28, acordamos com peixinhos no convés, provavelmente atraídos pelas luzes de navegação.
A chuva, e a nossa condição física nessa viagem, que não estava das melhores, fez com que avaliássemos a possibilidade de parar em Maceió, para descansar, e foi o que fizemos. Lá chegamos no dia 29, às 7:30 horas. Pegamos uma poita da Federação de Vela de Maceió, perto do Porto. Logo fomos abordados por um barqueiro, que faz o trajeto até a Federação, e vende água e diesel.
As águas que cercam Maceió são de um verde mais claro que as de Salvador, e contrastam com o azul do mar de maior profundidade de lá de fora. E quanta luminosidade!
O desembarque na Federação é feito no meio de lixo, muitos sacos e embalagens na prainha que fica em frente; achei meio trágico quando o barqueiro indicou um saco preto cheio, sabe-se lá do que, para que eu pisasse, como apoio ao desembarque. Isso é que é entrar pela porta dos fundos de um lugar! Como diz a Cássia Eller: “explicação, não tem explicação, não tem, não tem”.
A Federação dá para uma rua que chega à orla de Maceió, na Praia de Pajussara, muito bonita, com bancos de areia em frente, e muitos saveiros de passeio.
Depois de 2 dias de descanso partimos para Recife, na expectativa de pegar uma janelinha de tempo com vento favorável, que se confirmou no nosso trajeto: velejamos praticamente o tempo todo. Pegamos um Pirajá, do qual não foi possível desviar, que trouxe ventos de 30 nós, e chuva.
Na altura da Barra de Camaragibe, uma grata surpresa: duas baleias passaram numa rota paralela à nossa, dando saltos para trás, soltando borrifos dágua, fazendo arruaça; daí para a frente, vimos muitas delas, dando show para nós.
A ótima novidade do trajeto foi o Dorival não vomitar. Tive companhia para conversar, pudemos dividir melhor os turnos, fiquei mais tranquila por ele estar bem. Como dizem os baianos: “Deus é mais”.
Chegamos em Recife no dia 1º de setembro, e rumamos paro Iate Clube Cabanga, não sem antes encalharmos no Canal. Íamos esperar a maré subir, quando o clube mandou apoio. Encalhamos de novo na entrada da vaga.
Agora vamos explorar a cidade, e preparar o barco para a Regata, “visse”?

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Versão do Dorival

Voltamos de Itaparica para Salvador (TENAB) com a intenção de preparar o Luthier para viajar para o Recife. A idéia era ficar uma semana no máximo, e voltar para Itaparica para esperar uma boa janela de tempo. Mas as coisas nunca são assim tão precisas, logo fiquei com uma gripe forte, que começou com uma dor de garganta, dor de cabeça e, quando apareceu a febre, fomos a um Hospital.
No Hospital Santa Isabel me foi informado que o atendimento demoraria porque havia muita gente no pronto socorro devido à ocorrência da Influenza A (H1N1). Prontamente, deram uma máscara para mim e outra para a Catarina. Depois de duas horas, fui muito bem atendido, o médico me examinou e diagnosticou que não era Influenza A, mas uma variação da gripe comum que na Bahia está ocorrendo, com a característica especial de provocar uma dor de cabeça muito intensa. Fui medicado e fiquei com “dengo” 3 dias no Luthier, sem fazer praticamente nada. Acreditem, não me lembro ter sido tratado com tanto carinho e cuidado como nesse hospital.
Claro que, na sequência, a Catarina também ficou doente, mas de uma forma muito mais amena. Enquanto não ficamos curados, tive a oportunidade de ter, por dois dias, a bordo do Luthier, um AIS classe B. Gostei muito, pode-se ver a posição, nome, rota e velocidade de todos os navios em um range de 10 milhas (depende da altura da antena). Também iniciei o acompanhamento, pelo SSB, de um veleiro que estava viajando para a Europa. No TENAB, com a grande quantidade de mastros à volta, geladeiras e carregadores de bateria gerando ruído, a recepção foi muito prejudicada mas, mesmo assim, consegui contato. Os tripulantes do veleiro estavam bem.
Dia 27 de Agosto, seguimos com uma rota planejada diretamente para Recife. Enquanto saíamos da Baia de Todos os Santos tivemos vento contra e, devido aos 29 navios ancorados, preferi motorar. Logo que saímos, um vento SE (través) nos permitiu velejar a 6,5 nós. Em seguida, fomos brindados com chuva, muita chuva, o mar aumentou, e o vento começou a aumentar até 25 nós e cair a 5 nós, em intervalos de algumas horas. Todo esse movimento, ajustar velas, chuva, ligar motor, desligar motor, etc., me fez passar mal, vomitei muito. Foram 43 horas dessa forma. Decidimos parar em Maceió para descansar.
Maceió A viagem de Salvador a Maceió levou 47 horas, 12 delas usando motor. A velocidade média foi de pouco mais de 6 nós. Ficamos em Maceió dois dias, fomos até a praia de Pajussara (em alguns lugares com outra grafia – Pajuçara). Usamos uma poita muito boa e bem posicionada, mas o desembarque é em uma praia onde não se vê a areia, só têm sacos de lixo. É um lixão.
Na poita, em Maceió, e também porque a propagação melhorou, pude entrar em contato todo dia com o veleiro que eu estava acompanhando, que, a essa altura, já estava viajando de Cabo Verde para as Ilhas Canárias. Eles estavam enfrentando ondas altas e ventos fortes. Pude passar as previsões do tempo pelo rádio SSB diariamente. Todo dia anotei a posição, o rumo verdadeiro e a velocidade, para passar para os amigos que estavam apreensivos e também para que o comandante do veleiro se sentisse melhor, porque sabia que eu o estava acompanhando. As previsões, elaboradas com a ajuda de um amigo mais experiente, ajudaram que eles se preparassem para enfrentar o tempo, e decidissem pelo melhor rumo.
Saímos de Maceió dia 31 às 9:30 hs, com previsão de ventos SE e ondas de 1,5 metros. A viagem de Maceió até Recife foi “ÓTIMA”: enjoei pouco e não vomitei, o vento foi se alterando caprichosamente, de forma que enquanto eu contornava a costa sempre tinha um través muito gostoso; as ondas estavam com 1,5 metros em média com período de 6 segundos, consegui falar com o veleiro que estava acompanhando sem qualquer problema de interferência no funcionamento dos instrumentos e equipamentos do Luthier.
Agradeço aos amigos que fizeram muitas sugestões sobre controle do enjôo. O que deu certo para mim, desta vez, foi não tomar remédio, nenhum mesmo. Manter o estomago cheio, mas não muito, ajuda bastante, também. Talvez eu esteja acostumando.
A viagem de Maceió até Recife levou 22 horas, velejamos quase todo o tempo, desde 100 metros da poita em Maceió até 2 milhas do molhe que fica em frente à entrada do canal. A entrada foi feita a motor, devagar, porque havia muitas canoas de pesca e eu não conhecia a região. A velocidade média foi de 6 nós.
Fomos muito bem recebidos no Cabanga, o Clube ainda está vazio e calmo. Por isso, com pouca interferência, consegui acompanhar, pelo SSB, por mais dois dias, a viagem do outro veleiro. Fiquei feliz de saber que eles estão bem, superaram as condições de mar e vento e estão quase chegando nas Ilhas Canárias.
Recife Cabanga Hoje em dia, existem muitas formas de comunicação para quem está no mar, principalmente, via Satélite, mas eu acho que: o velho e bom SSB, que permite a comunicação grátis e independente, para tomar a posição e outros dados de navegação, aliado à espera da hora marcada para a conversa, acaba por fazer o dia passar mais rápido, é humano, ajuda muito saber que independente de terceiros (operadoras), haverá do outro lado alguém com quem falar.
O Sol que tem como um de seus caprichos ciclos de 11 anos no número de manchas, que alteram o seu fluxo de radiação eletromagnética, é um dos fatores preponderantes na propagação de sinais radioelétricos. Hoje estamos saindo do fundo do poço, praticamente não há manchas solares, e a propagação anda ruim. Daqui a um ano, mais ou menos, com o início de um novo ciclo de 11 anos, a propagação vai melhorar muito.
Agora vamos aproveitar Recife, preparar o Luthier para a regata (REFENO), e aprender como é que se faz uma largada, o que para mim é novidade completa. Aceito dicas, palpites etc. que me ajudem a não ganhar o prêmio PATO.
Em Salvador lavei toda a roupa, mas já acumulou outra vez.

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Versão da Catarina

Quantas novidades no linguajar da Ilha de Itaparica!
No supermercado Bom Preço, em Vera Cruz, me deparei com os seguintes cortes de carne: “CHUPA MOLHO”, “CAPOTE”, e “CRUZ MACHADO”. Eu nunca tinha ouvido falar neles… A cena se repete: pedi ajuda ao açougueiro, e ele me mostrou as costas e outras partes do corpo dele próprio; não ajudou. Como dizem por aqui: “Ave Maria! Que agonia!” Como é que pode, em um mesmo país, tanta denominação diferente para a mesma coisa?
Itaparica Dentro do supermercado, nós fomos abordados por um taxista, que perguntou se estávamos na marina, e ofereceu os seus serviços, por R$20,00. Não somos estrangeiros, mas somos de fora, e a consequência é a mesma, o preço mais alto. Pegamos um “táxi pequeno”, um Fiat Uno que cobra R$2,50 por pessoa, faz lotação, e volta para a cidade de Itaparica pela estrada asfaltada da Ilha.
No Mercado da rua da praia, no Município de Itaparica, achei algumas opções de frutas, legumes, carnes e peixes, mas tudo é mais precário. O peixe é fresco, mas não o conservam no gelo, o que não combina com o calor de 30ºC do inverno baiano. Lá, o comerciante me informou que “tratava” o peixe. Como, se ele está morto? Claro, ele quis dizer que “limpa”, tirando as escamas e a barrigada. Depois, pediu “miúdo” para o pagamento.
É bom o Dorival aprender a pescar. Das últimas vezes em que ele tentou, eu fiz com que ele devolvesse, ou porque achei que fosse filhote (e não era), ou porque era um bagre amarelo, e eu fiquei com medo dos ferrões. Acho que ele ainda não acertou o tipo, e o tamanho da isca. E eu não acertei no incentivo.
Aqui também tem acarajé, e a baiana que vende disse que, em Salvador, o camarão na massa “é longe”; acho que ela quis dizer que, lá, colocam “pouco” do crustáceo. Discordo, o do lá, do Comércio, é mais bem servido, e saboroso, além ser frito na hora, e tem ainda o dengo da baiana, que me chama de “minha menina”; quer mais?
Itaparica coroa Itaparica é uma típica cidade pequena, com muitas casinhas geminadas, em que todos se conhecem, e se cumprimentam, Nos finais de tarde, os meninos jogam bola na rua, com o uniforme da escola, e as meninas desfilam, parecendo bonecas de porcelana, perfeitas, com o cabelo todo enfeitado por tranças e laços. Nos fins de semana, os homens escutam futebol no radinho de pilha, e as pessoas jogam cartas, com as portas e janelas das casas abertas. Nada que combine com os episódios de violência ocorridos por aqui, sinal de que bem poucos podem fazer muito estrago. Como explicam os comerciantes, a culpa é do avanço do tráfico de drogas, principalmente, o “crack”. Já as pessoas do povo, acham que é serviço do anjo caído, daquele que não se pronuncia o nome dentro dos barcos, assediando os jovens com a promessa de vida fácil. Então, que Nosso Senhor do Bonfim nos proteja.
A sensação do lugar é andar na coroa de areia descoberta pela maré baixa, pisar em seco no que vai ser o fundo do mar, em poucas horas. E corra, porque ela sobe depressa….Melhor ainda é levar uma âncora para o bote não ser surpreendido.
Bom daqui, também, é a fonte de água mineral, testada e aprovada, disponível a todos, e o apoio da Marina, aonde você pode desembarcar, mesmo ancorando fora.
Nos finais de semana, chegam lanchas com motores possantes, em alta velocidade, fazendo marolas; uma dessas nos surpreendeu no bote, e nos jogou com força em direção à popa do barco. Vaias e mais outras cobras e lagartos para o condutor!
Resolvemos passear em Salinas Margarida, a uma hora e meia daqui, ou 9 milhas náuticas, aproximadamente. Quem fez o planejamento da navegação fui eu; primeiro, nas cartas de papel, para não esquecer os conceitos, depois, passei tudo para o GPS, que vai guiar o piloto automático, nossos confortos modernos. Tá bom, eu errei nas aproximações, mas tudo foi checado a tempo.
Incrível, quando estávamos saindo, o céu escureceu completamente, e fomos surpreendidos por rajadas de vento de 25 nós. Velejamos embaixo de chuva pesada. Voltamos para dormir em Itaparica, porque lá não tinha nenhum veleiro perto de onde podíamos fundear.
Poço de gás na coroa Eu sou um perigo à navegação. Fique longe quando eu estiver no controle do bote inflável, ou na atracação. É que as situações de risco aparecem do nada, e exigem rapidez, mas eu sou lenta. Não devia ter faltado às aulas de Educação Física, aos jogos de voleibol, etc… Além disso, eu tenho dificuldades geográficas, saber onde estou na carta náutica, qual é a Ilha que estou avistando, e por aí vai… Ah,tenho dificuldades com nós, pedi para uma tia minha fazer um sapatinho de tricô, para eu passar em Educação Artística.
É muita informação! Mas eu estou praticando, e o Dorival não dá moleza. Alguma semelhança com o serviço militar? Alerta total, disciplina, planejamento, treinamentos… Mas é a sobrevivência, né? Então, vale tudo.
Termino com um trecho de uma música antiga: “dicen que viajando se fortalece el corazon, pues andar neuvos caminos te hace olvidar el anterior”. (Canción “Solo se trata de vivir”, de Litto Nebbia)

Vale lembrar que respirar oxida, comer oxida, então, melhor é viver a vida. Muito axé, para todos nós!

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Versão do Dorival

A Ilha de Itaparica fica linda iluminada pelos mesmos raios de sol que brilham no mar que a rodeia. Nela há dois municípios: Itaparica e Vera Cruz. O pequeno centro velho do Município de Itaparica, no inverno, é quase desabitado. Suas ruas, arborizadas e limpas, ficam vazias o dia todo. O comércio é fraco, a sorveteria só tem uns poucos sabores à venda, muitos restaurantes só abrem na temporada, e um hotel próximo à marina opera unicamente o primeiro andar.
O povo local é muito amável e educado, qualquer um que você cruzar na rua lhe dirá um bom dia. Há, ainda, uma argentina doida que mora em uma cobertura de uma praça próxima a uma padaria, onde só trabalham mulheres. Claro que a cor predominante na pintura da padaria é o rosa.
Enquanto a Catarina escolhia pães e frutas, vi a dona da padaria chamar atenção de uma funcionária porque ela estaria flertando com o marido de uma freguesa e, se não parasse com isso, seria demitida. Ela justificou que era fofoca do povo lá de baixo (não sei onde é), mas a dona disse que se o povo todo diz é porque é verdade. Esse assunto por aqui é sério, costuma terminar em violência.
A miséria está escondida mais adentro da ilha.
Ancoragem vista da coroa A ancoragem entre a praia e a coroa de areia, em profundidades de 6 metros, é muito boa, o fundo é de lama, o que oferece uma boa tensa. A entrada é sinalizada por bóias cegas, com um X (balizamento especial), não mantidas pela Marinha. Há muitas bóias e sinais de balizamento: perigo isolado, sinais cardinais, etc.. Existem alguns poços de gás da Petrobrás que também são sinalizados.
À noite, os poços emitem luz vermelha piscando uma vez a cada 5 segundos; os demais sinais luminosos têm seus períodos e cor conforme informados na carta náutica.
Dediquei algum tempo à noite identificando esses sinais e balizas, caso fosse necessário sair no escuro. Disseram-me que esta ancoragem não é muito abrigada para ventos SW. Realmente, com 20 nós, o mar levanta um pouco, mas não chega nem perto do efeito do NE em Búzios. É seguro, sem problemas e, até agora, o SW não durou mais que 12 horas.
Coroa Itaparica Planejamos uma rota entre Itaparica e Salinas, passando pelos pontos de maior profundidade. Saímos em um domingo, às 11:00 hs. Ainda ancorados, sem vento, levantei a vela mestra para ver se estava tudo em ordem. Sem vento, liguei o motor e, com a mestra em cima, comecei a recolher a âncora. A Catarina estava no leme, o motor desengatado, eu limpava a lama da âncora, ainda pendurada próximo à água, quando entrou um vento de 15 nós (mais ou menos, não olhei o medidor). O Luthier entrou em uma orça fechada e saiu a navegar com uns 4 nós de velocidade dando muito trabalho para a Catarina governá-lo no meio dos barcos. Recolhi a âncora ainda suja, e tomei o leme para render a Catarina, que estava assustada; fiz a volta por trás de um catamarã e saímos da ancoragem com vento de popa, só com a mestra, a 6 nós. Muita gente ficou olhando com ar de reprovação, e com razão. Logo em seguida, notei a nuvem escura que vinha por trás da ilha. Além disso, deveria ter visto os sinais de vento no mar mais distante. Lição do dia: em ancoragens lotadas, mesmo sem vento, não levantar âncora com velas abertas. O motor não vai ajudar muito.
Logo que saímos do canal, resolvi voltar, porque iniciou uma chuva pesada. Essa chuva, razão do vento repentino, não durou mais que 10 minutos, e se foi. Com o vento acalmando, e uma abertura no céu, retomamos a rota para Salinas.
Velejamos até Salinas e ancoramos próximo a um píer. A profundidade era de 4 metros. Estávamos sós. Na praia tinha um jogo de futebol e, além de um restaurante com alguns fregueses, a cidade parecia deserta, domingão de inverno por aqui é assim mesmo.
Almoçamos no Luthier e voltamos para Itaparica velejando.
No meio do caminho de volta apanhamos outra chuva gelada. Fiquei resfriado, com uma moleza incrível, há dois dias que tenho preguiça de fazer qualquer coisa. Ainda bem que não estou com febre, não deve ser H1N1, nem dengue, acho que é DENGO mesmo.
Com esse DENGO, e o tempo que chove a qualquer hora, a roupa para lavar está se acumulando (sou eu que lavo a roupa), e já preciso lavar o barco outra vez. Para judiar um pouco mais, apareceu um vazamento de água salgada na bomba de pé da bica da cozinha. Esses pequenos problemas de manutenção têm que ser resolvidos logo, para que não virem um grande problema, tanto no serviço quanto no custo.
Agora vou dormir, até a próxima.

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Versão da Catarina

Tem um assunto que aterroriza qualquer comandante de embarcação, e sua tripulação, homem ou mulher, de qualquer nacionalidade. Não é tubarão, mar grosso ou temporal, nem ferro garrando, ou alma penada, é a …barata. Todo mundo tem uma estória de horror para contar.
Quando chegamos no TENAB, havia um veleiro alemão infestado por elas. O comandante resolveu fechar o barco e dedetizá-lo. Deixou o gato de estimação no veleiro chileno, atracado por nosso bombordo, que também estava tomado pelas ditas cujas.
Contou-me a tripulante de um veleiro holandês, com a feição visivelmente transtornada, ter pego a praga em Israel, e que veneno nenhum teria dado jeito; teve que fechar o barco num inverno rigoroso, sem água, nem comida, e elas finalmente morreram, por inanição. Hoje, ela deixa as frutas e legumes pendurados no cockpit, ou os coloca direto na geladeira, e seca as pias todas as noites. Será que isso já não é paranoia?
Um casal sul-africano nos contou que elas estão fora de controle em seu país, aliás, eles as têm no barco. Dizem que, como o ciclo das “cucarachas” é curto, já nascem e se reproduzem antes de morrer com o veneno, deixando ovos postos, para eclodirem. Eles foram nos visitar, e eu fiquei olhando fixamente para a mochila de onde tiraram o laptop, para ver se não saia nenhuma dali. Acho que estou ficando paranoica…
Saída de Salvador Mas todos são unânimes quanto a tirar as embalagens de papelão dos alimentos e produtos que entram no barco, e até os seus rótulos. Que mais se pode fazer?
Falando de bicho melhor, nossa diversão no TENAB era jogar pão amanhecido para os peixes, porque a água é transparente e aparecem muitos, sargentos, manjubas, e outros coloridos. Chamávamos nosso vizinho uruguaio, que adorava fazer isso, tanto que os peixes andavam atrás dele. Um dia, apareceu no cais um moço de camisa vermelha, para ver a brincadeira, e os peixes se esconderam, rapidinho. Essa cor desagrada muitos animais, de papagaio ao touro.
Agora estamos em Itaparica, para meu deleite. O Dorival queria ficar mais uns dias em Salvador, porque ele adorou aquele lugar, e ainda queria comprar uns parafusos na Calçada, uns acessórios no Taboão, visitar outros museus e igrejas, apreciar o sagrado acarajé da baiana, etc… Mas ficou para depois; ainda voltamos lá, antes de irmos para Recife.
E nos últimos dias em Salvador, num final de tarde, o Dorival me avisou que estava saindo para resgatar um veleiro à deriva, junto com um skipper espanhol. Depois de uma meia hora, vi o espanhol voltando sozinho no bote. Quando chegou, me avisou que o Dorival tinha conhecido “una chica muy guapa”, e tinha ficado por lá. Palhaçada dele, mas nessa vida tem que dar risada, mesmo. E afinal, nada que não se resolva com ácido, como aprendi por aqui: uma mulher jogou ácido em outra, suposta amante de seu companheiro, em um salão de beleza no Pelourinho.
Veleiro encalhado na coroa Bem, ele me avisou que o Dorival tinha ficado para trazer o barco na vela, porque estavam sem motor, e iriam se comunicar conosco pelo rádio, sendo que a operação deveria durar mais de 1 hora. Então, entrei no barco e fui fazer um lanche para mim. Uns 15 minutos depois, chamou uma mulher, pelo rádio, identificou-se e disse que estavam vindo à vela; perguntei se precisavam de mais algum apoio, e como ela respondeu que estava tudo sob controle, fiquei aguardando nova chamada. Uma meia hora depois, ela me disse que estavam no Forte de São Marcelo, logo ali em frente. Saí depressa, chamando pelos tripulantes uruguaios do barco ao lado, que saíram atarantados, perguntando: “que pasa?”. O skipper do trimarã estava ouvindo nossa conversa pelo rádio, e tinha saído antes, com o bote, para ajudar na atracação, que por fim foi feita com dois botes.
Deu tudo certo. Todos chegaram bem, barco e tripulação. Ganhamos um vinho.
Como tudo é festa, fomos almoçar no trimaran no dia seguinte, e compartilhar o vinho. E o skipper espanhol, que já trabalhou com golfinhos e baleias, e nas filmagens do “Blue Planet” da BBC, nos contou que os parques aquáticos enchem esses bichos de tranquilizantes, para mantê-los confinados, e que, naquele famoso vídeo em que uma baleia orca pula por cima de outra, com o treinador no meio, a motivação foi o ciúme do treinador. Os relacionamentos ficam bem atrapalhados.
Fizemos uma boa viagem para Itaparica, com pouco vento. Insistimos na vela um bom tempo, andando a três nós. Tempo para observar muitos navios cargueiros e a paisagem de morrinhos de, no máximo, 100m de altura, tão diferentes da Serra do
Veleiros em ItaparicaMar, de mais de 1000 metros, que se avista no litoral do sudeste.
Cá estamos, ancorados numa piscina, com coroas por todos os lados. Assim, o Luthier gosta. E eu também.
Quando chegamos, encontramos um veleiro de bandeira holandesa, que estava no TENAB. Nos contaram que estavam sem motor, e sugerimos que eles voltassem na vela, caso não conseguissem consertá-lo, já que tinha começado a soprar um bom sudoeste. E foi o que fizeram. Lá se foi mais um barco “sin maquina” para o Cais Cayru.
Para encerrar, não gosto das mudanças ortográficas; alguns estudiosos da língua se recusam a aceitá-las, e dizem que vão fazê-lo só a partir de 2012.
O resto fica para a próxima. Como escutei aqui, no rádio: “que aconteça tudo de bom para você”.

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Versão do Dorival

A saída do TENAB para Itaparica atrasou um pouco porque ficamos esperando o enchimento de um botijão de gás, e me envolvi com o resgate de um veleiro, que estava à deriva na Bahia de Todos os Santos.
Na tarde de sexta-feira do dia 17 de julho, eu estava conversando, no cais, com o capitão de um trimarã de 63 pés, um espanhol muito simpático e experiente, quando fomos interrompidos por um funcionário do TENAB que havia recebido um telefonema pedindo ajuda para resgate de um veleiro, que estava sem motor, à deriva, próximo à Ilha de Itaparica, na face que fica em frente à Salvador.
O Veleiro saiu de Itaparica rebocado por uma pequena traineira. O leme da traineira quebrou e os dois estavam à deriva, próximos a um navio ancorado, quando, de bote, chegamos eu e o capitão do trimarã. Subi no veleiro e desci na cabine para ver se estava fazendo água, enquanto isso, meu companheiro passava a nossa posição para a Capitania dos Portos e soltava as amarras que prendiam o veleiro à traineira. O veleiro não estava fazendo água. Assim que soltamos os barcos, abri a genoa e velejamos para fora da proa do navio, que buzinava a cada 2 minutos. Estávamos, mais ou menos, a 100 metros do navio. O casal a bordo do veleiro, 36 pés, estava bastante assustado; tratei de acalmá-los continuando a velejar, só com genoa, com o vento de popa, para afastar do navio até uma posição segura. A lancha da Capitania dos Portos, depois de verificar que estávamos bem, foi rebocar a traineira até o TENAB. Depois de desenroscar vários cabos, levantei a mestra e começamos a velejar em uma orça fechada, dando vários bordos até chegar próximo ao Forte de São Marcelo. Enrolei a genoa e baixei a mestra quando estava entre o molhe e a bóia cega, que fica ao lado do forte. Dois botes já nos esperavam para ajudar na atracação. Levamos 45 minutos para chegar, o vento de 16 nós permitiu velocidades de 6 a 6,5 nós. Pedi à mulher que estava a bordo para falar no rádio com a Catarina. Acho que a voz tranquila da Catarina ajudou que ela se acalmasse. Sem heroísmo algum, chegamos tranquilos, em uma velejada noturna muito gostosa.
Depois desse evento, por menor que seja a navegação que eu for fazer a motor, e seja aonde for, vou deixar o Luthier prontinho para velejar, porque ter que arrumar os cabos na correria, porque o motor parou, em geral, complica muito.
Os estais do Luthier estão com apenas seis meses de uso e 1250 milhas navegadas, a maior parte costeira. Notei que a tensão nos cabos de aço caiu muito na viagem de Vitória para Salvador, por isso, refiz a regulagem.
Prendi o botijão de gás (de alumínio, operação horizontal) na targa, mas deixei para terminar a instalação em Itaparica, porque vou ter que fazer um furo de passagem para mangueira, selar a madeira com epóxi, instalar um flange com sikaflex, etc…
Saída de Salvador 1 Saímos para Itaparica dia 20 de julho às 10:00 hs, com vento de través bem fraco, 5 a 6 nós, que nos levou a 3 nós até o meio da baia, onde começamos a orçar. Próximo à Itaparica o vento parou (menos de 3 nós), ligamos o motor e, sem pressa, fomos a 5 nós até a região da marina em Itaparica.
Eu e a Catarina temos um acordo: em locais abrigados, se não houver razão para pressa, só ligamos o motor se não for possível velejar a mais do que 3 nós.
Há, na minha opinião, uma grande diferença entre velejar em mar aberto (navegação costeira) e em regiões abrigadas.
Na navegação costeira, em geral (pelo menos no inverno), os ventos e ondas envolvidos são maiores do que em regiões abrigadas, e as mudanças climáticas podem ser um fator importante, limitando o tempo disponível para se chegar ao destino. Até agora, adotei, por sugestão de amigos mais experientes, 6 nós como velocidade média desejada. Toda vez que a velocidade média poderia ser comprometida, eu usei o motor para ajudar. Talvez no verão as janelas de tempo para as travessias sejam maiores e possamos adotar outra velocidade. O Vento, em geral maior que 15 nós, além de obrigar o uso de rizo, não exige ajuste fino da regulagem das velas para se conseguir a velocidade desejada. Nesse tipo de navegação adoto mais critérios de segurança e conforto no ajuste das velas, do que desempenho, tudo dependendo da condição do mar.
Em baias e outros lugares abrigados, velejar é bem diferente. O mar em geral é calmo, e os ventos abaixo de 15 nós. Na época em que eu tinha que voltar para a marina em tempo de viajar para trabalhar, depois de um feriadão ou fim de semana, não dava para ficar velejando devagar. Ligar o motor era a única opção. Depois que viemos morar a bordo, se o tempo está bom, adoro velejar com pouco vento, e ficar fazendo ajustes finos nas velas para ganhar imaginários 0,1 nós de velocidade. Uso genaker ou balão, e vamos devagarzinho curtindo a paisagem. Assim foi nas diversas idas e vindas de Paraty para Angra, entre Bracuhy e Vila do Abraão, e agora de Salvador até perto de Itaparica.
Velejando para Itaparica Ainda estou estudando as cartas aqui da região, existem muitos bancos e coroas de areia. Em alguns lugares a passagem não é larga o suficiente para ficar cambando e orçando. Dependendo do vento, do clima e do destino, vamos ter que usar motor, por segurança. O Luthier tem quilha de bulbo com fundo chato. Ainda não tive a experiência, mas me contaram que encalhar na areia com esse tipo de quilha costuma ser uma encrenca das boas para desencalhar. Não pretendo testar.
Estamos ancorados entre a marina e uma coroa de areia, que na maré baixa fica toda à mostra. O espancamento de um casal de franceses em dezembro do ano passado e o assassinato de um velejador no início do ano ainda estão bem presentes na memória dos moradores locais. Estamos dormindo trancados.
A cidade está deserta, baixa temporada. O lugar é lindo, têm outros 29 veleiros ancorados por aqui. Já emagreci um quilo.

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Versão da Catarina

Fomos ao Largo do Carmo, por indicação de um amigo, e ganhamos um presente: a vista do mar em 180º, da sacada de uma loja, um show, de encher os olhos. À frente, o Porto de Salvador, e ao largo, o comércio e muitas construções. Os antigos casarões abandonados à volta podem dar uma nota triste à paisagem, mas o mar lá embaixo compensa, é esplendoroso, e está lá há milênios, alheio aos feitos, e desfeitos, dos homens.
De fato, impressiona o mau estado de conservação das igrejas e prédios históricos. Viemos aqui há uns 9 anos, as construções estavam sendo restauradas, muitas pareciam novas, e o Pelourinho tinha outro aspecto.
Nesse mesmo largo, há uma igreja centenária, com museu anexo, que conta muito de um passado luxuoso, do tempo em que se esculpiam estátuas de Cristo em madeira, e pintava-se o teto, com figuras tridimensionais, para adornar os santuários. Tive a sensação de que o teto está prestes a ruir, pelo peso da água das chuvas, que se vê atuando nas paredes laterais, estas se desfazendo, camada a camada. Cobram taxa para visitação.
Mas nem tudo está se deteriorando no Pelourinho, caso do Museu do Dinheiro, bem organizado, com detalhes de mobiliário dos bancos, guardando diversas moedas, autênticas, desde o tempo de Roma. Sem taxa para visitação. Disseram que seu futuro é incerto, pois há um litígio, decorrente da liquidação do Banco Econômico, que o mantem. Coisas do dinheiro…
Era véspera do dois de julho, data comemorativa da independência da Bahia, em 1823, quando houve a aclamação de Dom Pedro, como príncipe regente. As ruas do Pelourinho tinham sido lavadas, e estavam surpreendentemente limpas, para a visita do Governador do Estado, e de outras autoridades. Foi decretado feriado, pela data, e aqui tem… FESTA!! Com desfile; show no Farol da Barra; políticos no Pelourinho, lançando-se em campanhas; concurso de redação nas escolas; atividades da Marinha, com barcos enfeitados por bandeirolas, na Baía de Todos os Santos, e banda no Distrito Naval. Orgulham-se, na Bahia, de terem se antecipado à independência do país, em sete de setembro, e de, nessa ocasião, ter sido criada a Marinha do Brasil.
Festa para eles, dia de trabalho, para nós: o Dorival começou a limpeza do aço inox do convés às 9:00 da manhã, e foi terminar às 4 da tarde, com a lavagem do costado; lá dentro, eu fiquei caçando bolor, limpando o barco, e os seus avessos, abrindo os paióis para ventilar.
Tenho cozinhado menos aqui, porque o valor da refeição, às vezes, não compensa o custo de comprar e preparar alimentos; o meu prato sai por R$4,00, em média, num bom restaurante por quilo, bem limpinho, aqui perto, frequentado por pessoas que trabalham no comércio. O único problema é que o Dorival não é muito regrado para comer e, se têm opções, ele pega as porcarias, de toda sorte. Às vezes, ele pega um raminho de brócolis, para me agradar, e ainda me mostra, mas é só enfeite. Além disso, ele sempre quer comer um acarajé, na saída do restaurante. Resultado: 2 quilos a mais, em duas semanas, e, castigo: sem acarajé, na saída, nem sorvete. Vamos ver se eu aguento a pressão da criança por guloseimas!
O convívio na marina é com estrangeiros, na maioria. Param um tempo aqui para fazer reparos ou melhorias no barco, e muitos põem a mão na massa.
Por nosso bombordo, há um barco chileno, de madeira, com o comandante e seus dois filhos. Os meninos se dizem escravos do comandante; conversa, quase todos os dias vão surfar, e fazem uma cara, como se estivessem morrendo, quando têm que lavar a louça, numa bacia no cais. Já o pai-comandante se queixa que os filhos sempre querem velejar a todo pano, levar o barco ao limite, e que ele ameaça dizendo ser o cozinheiro, e que não vai se matar para fazer algo de bom; aí, todo mundo sossega. Não sei onde eu já vi essas situações…
Levamos um susto com a chegada de um barco com tripulação uruguaia, vindo de Vitória, que estava tentando parar na vaga ao nosso boreste; veio com a proa em direção ao Luthier, e foi uma correria para segurar. Eles diziam que estavam “sin máquina”, sem motor, mas fizeram uma confusão, enroscaram o cabo da nossa poita no leme deles, não tinham colocado nenhuma defensa. Só posso creditar a manobra desastrada ao cansaço, e ao stress da viagem.
A vantagem da marina é sua localização, próxima de pontos de ônibus, do comércio, de bancos, etc… A desvantagem é que, por não ser área residencial, nos fins de semana e feriados tem som bem alto, até de madrugada, em um posto de combustível, que fica em frente.
Diferente do sudeste, aqui não é fácil encontrar um varejão, ou horti-fruti, tudo se compra em banquinhas nas calçadas, e não é por quilo, é por unidade, penca, dúzia, ou por “monte”. Ainda não entendi bem o monte, mas é mais ou menos assim: um tanto que visualmente parece um morrinho, de frutas como o caju, ou o cajá, que, por sinal, estão em plena estação, uma delícia. E as pessoas param nestas banquinhas, no horário de folga do almoço, para comer fatias cortadas de melancia, ou abacaxi, de terno e gravata mesmo.
Os dias de inverno têm temperatura média de 29ºC, chegando a 34ºC, e chove a qualquer hora, mesmo com sol. Só refresca à noite, quando a temperatura vai a 26ºC, mas venta todo o tempo, aliviando o dia quente.
Nesses dias fiquei afônica, por conta de uma inflamação na garganta, um vírus baiano, que pega em quem gosta de conversar, e não tem pressa de ir embora. É uma tortura não conseguir falar! O Dorival diz que é praga dele, por eu ficar falando o que ele deve, ou não, comer. E os vizinhos latinos acham que não vai fazer falta se eu ficar calada, por uns dias. Mas que fama internacional tem a mulher!
Há tantos dias aguardando o tapeceiro, que também é cantor na noite, fazendo manutenções, etc…, estamos nos sentindo presos aqui, o barco ainda mais, pela proa e popa, lutando contra um rebojo que tem horas que parece que vai arrancar os cunhos. Já está dando aquela coceira de querer ir embora, ver outras paisagens, nadar com peixinhos, etc…
O Luthier quer independência das amarras, e nós, liberdade. Nos falamos de outros sítios, da próxima vez.

 

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Versão do Dorival

No TENAB, a todo tempo, chegam e saem veleiros, brasileiros e de fora. Enquanto aqui ficam, seus comandantes, inevitavelmente, participam de conversas no cais. Quem chega quer contar a viagem, e os que já estão querem ouvi-las, e saber dos planos dos que partem.
No papo de cais sempre aparecem muitos palpites, alguns muito úteis, outros nem tanto; também são comuns ventanias, ondas imensas e aventuras em geral. Claro que faço parte desses momentos. Confesso que me divirto muito com isso.
A nosso bombordo está um veleiro chileno com três tripulantes, pai e dois filhos, com 18 e 22 anos. Segundo o comandante, só há dois barcos chilenos dando a volta ao mundo. O veleiro, de madeira, precisa de verniz novo. Os meninos trabalham lixando e envernizando até as 15:00 hs, depois, todos os dias, tomam dois ônibus para irem surfar.
Muito simpático, o comandante chegou contando como, em uma de suas travessias, perdeu o mastro. Ele não se conforma com o que aconteceu, porque não foi marzão nem ventania, foi bobeira mesmo; se sente um babaca total, igual eu me sinto quando meus óculos caem na água e se perdem, guardadas as proporções, porque comprar outros óculos é muito mais simples que repor um mastro.
A nosso boreste está um Beneteau de 45 pés. Um italiano que vive na Espanha comprou esse veleiro, de bandeira americana, que estava há anos no Uruguai. Segundo o Skipper que o está levando para a Espanha, o dono achou que fez um negócio melhor no Uruguai do que poderia fazer na Europa. Quando chegou, o skipper estava bastante aborrecido porque o dono o obrigou, por conta de um cronograma que ele não sabe bem qual é, a sair de Vitória com vento NE. Resultado: levou 5 dias para chegar a Salvador, motorando e orçando o tempo todo. Como conseqüência, quebrou o reversor, que devido à orça teve problemas de lubrificação. Também, estava com óleo velho e nível baixo. Ele trouxe o barco na vela até a marina, e parou o barco em cima das defensas do Luthier. Eu e a Catarina levamos um tremendo susto. Tudo bem, não houve danos. Ajudamos na atracação. Um tripulante me contou que, por conta da orça, imposta pelo vento NE, navegaram para fora quase 200 milhas. Quando deram o bordo para voltar a se aproximar de terra, passando bem por fora de Abrolhos, notaram que um navio os estava alcançando. Cada vez mais perto, quando chegou a uma milha, eles optaram por mudar o rumo, o navio fez o mesmo, deram um bordo, e o navio seguiu novamente, mais um bordo e assistiram o imenso navio de contêineres passar muito perto; foi quando, no rádio VHF, canal 16, ouviram a transmissão de uma gargalhada. O Capitão acha que devido à hora, 3:00 hs, provavelmente o comando estava na mão de algum subalterno, pois um capitão de navio não faria isso.
Fiquei pensando que, se tivessem um “AIS” (Automatic Identification System), poderiam chamar o navio pelo nome e declarando a posição dele. Talvez isso inibisse a brincadeira, ou pelo menos, forneceria dados para uma reclamação formal na Capitania dos Portos. Já ouvi muitas histórias parecidas com essa.
Um pouco mais distante de nós está um Hunter de 50 pés, os donos Argentinos contrataram uma brasileira de Porto Seguro para ajudá-los a trazer o barco da Itália até a Argentina. Segundo eles, fizeram um negócio melhor na Itália do que poderiam fazer na América do Sul.
Não sei se os argentinos conversaram com o uruguaio, skipper do Beneteau, mas muitos por aqui não entenderam essa, nem eu.
O capitão de um barco francês, vindo de Cabedelo, me contou no banheiro, enquanto eu tomava banho, que veio o tempo todo na orça por conta de um vento SE, segundo ele, não conseguia andar a mais de 5 nós. Perguntado, não soube dar uma justificativa por não ter esperado um NE.
Outra conversa comum no cais é a Refeno. Nós vamos.
Mudando de assunto, Salvador é calórica, já engordei dois quilos, estou com 72. No meu caso isso tem duas consequências, se chegar a 75 quilos meus joelhos começam a doer, e se eu não tomar providência, e engordar mais, terei dificuldades para circular pelo convés; a segunda consequência é a Catarina falando na minha cabeça sobre as porcarias que eu escolho em um restaurante por quilo aqui perto, além é claro do sagrado acarajé da baiana, que tem uma barraca no comércio, uma região de bancos e escritórios na cidade baixa. Vou ter que comer chuchu, cenoura e muitas frutas. Tem uma amiga minha que diz que casamento é uma caixa de chuchu. Enquanto namorados, se vai a pizzarias, é só casar, que ela vai preparar chuchu combinado com outros legumes, e, se você tiver sorte, um pedacinho de linguiça. Sei não, chuchu faz bem, mas feijoada e churrasco, humm. Sorvete, nem pensar. Aliás, o meu sorvete preferido é o “grande”, sabor é apenas um detalhe. Se a Catarina não me controlar, eu danço.
Em breve vamos mudar para Itaparica. É uma viagem de apenas 12 milhas, velejando pela Baia de Todos os Santos. Eu acho que velejar em águas abrigadas é muito diferente do que em mar aberto. Aqui, o vento pode mudar a direção e intensidade, mas não falta. As diferenças e minhas percepções a respeito ficam para o próximo relato. Até lá.

 

Salvador - outras impressões

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Versão da Catarina

Ao acordar em Salvador, no dia seguinte ao da nossa chegada, com o Luthier atracado no Terminal Náutico da Bahia, tive duas primeiras impressões: a maior luminosidade do local, (pudera, estamos andando atrás do sol!), e sua riqueza histórica, proporcionada pelas construções centenárias, encravadas no morro, e pelo Forte de São Marcelo.
Quando atracamos em qualquer porto, depois de uma viagem, o combinado é tirar o dia de folga, para relaxar e comemorar; no dia seguinte é que vamos pensar em tirar o sal do convés, e colocar as coisas no lugar.
Então, fomos ao Mercado Modelo, que fica em frente ao TENAB, para passear. Almoçamos no segundo andar do prédio, com direito à vista da Bahia de Todos os Santos, ao mar, nos seus vários tons de verde, ao movimento das embarcações, apreciando um prato regado à pimenta, azeite doce, e farofa de mandioca.
Depois, fomos andar pela cidade, então, outra sensação: a de perfume no ar, de incenso, misturado ao de azeite de dendê, ao das frutas nas bancas, do jenipapo no ponto para o licor, de bolo assando nos fornos, de rosas e outras variedades de flores, vendidas em barracas, e lançadas em oferenda por mulheres, na ponta do cais.
Não que a cidade seja um primor de limpeza, não é, há muitos casarões abandonados, aos fins de semana há lixo de montão, não recolhido, e por aí vai, mas acho o vento constante, que sopra por aqui, faz prevalecer o perfume local, das frutas, flores e alimentos.
No TENAB, atracamos ao lado de um barco suíço, e de frente para um Catamarã, sul- africano. Ambos estavam em Búzios, na mesma época que nós; à nossa volta, muitos outros barcos estrangeiros, a maioria, franceses.
Os estrangeiros embarcados se vestem, sem receio, de uma forma totalmente diferente dos locais. Acho que não observam os hábitos, e as diferenças de clima; dá até medo de andar ao lado deles na rua, parece que, na testa, já trazem escrito: assaltem-me, por favor! Encontramos, perto do Mercado Modelo, o capitão de uma embarcação estrangeira que conhecemos em Paraty. Estava chovendo, naquele dia, e ele usava uma sombrinha cor-de-rosa, “pink”, além de colete cheio de bolsos, rabo-de-cavalo, e os próprios olhos azuis, mas esses, não tem jeito de esconder.
A minha mãe diz que se disfarçar de morador local é perda de tempo; me aconselha a relaxar, e tomar uma água de coco. Acho que tem limite, mas ela tem certa razão: no Pelourinho, tivemos muito assédio de vendedores e pedintes, logo na saída do Elevador Lacerda, muitos tentando se comunicar em inglês comigo; a solução foi o Dorival dizer: “Sou daqui, ela está comigo”. Deu certo, eles se dispersaram.
Esse assédio todo só aconteceu nos pontos turísticos; foi tranqüilo andar pelo centro da cidade, que concentra a sede de bancos e prédios públicos, assim como no supermercado e no shopping. E, aos poucos, eles vão se acostumando com a nossa presença, como no Mercado Modelo, onde alguns vendedores já nos cumprimentam, e mesmo no Pelourinho.
E se há uma roupa que a baiana gosta é o “jeans”, de preferência a bermuda, que deixa mais à vontade, acompanhado de blusa verde, em vários tons claros; já cheguei a contar 5 vestidas assim, num grupo de 10, é muito!
Fomos ao Shopping Iguatemi, que é enorme. Achei interessante o fato haver uma capela, lá dentro, que indica a quantidade de igrejas, por aqui, e a religiosidade do povo. Além disso, têm um andar, o último, só com marcas de grife, de roupas e sapatos; as pessoas dos pisos inferiores não frequentam este andar, muito menos nós, que descemos rapidinho. Indício de um sistema de casta, ainda que informal. No cafezinho, tem doces e salgados típicos; o meu preferido é o lelé, que leva coco e milho, e não é muito doce.
Chegamos no mês de São João, que por aqui é levado a sério, uma festa familiar muito aguardada. Parece até fim de ano, com confraternizações nas empresas, caixinha tipo “boas-festas” no restaurante, etc.. Vimos uma confraternização de contabilistas, numa praça do centro comercial, com comida típica e música ao vivo. E muitas outras festas, principalmente, no espaço do Pelourinho, com shows ao vivo e barracas de comida.
Algumas pessoas, do nosso convívio, me perguntaram: E o São João? Como a dizer, o que você vai fazer de bom? E eu não sabia o que responder, porque não era do meu costume comemorar, assim; acabei falando o que eles acham o mais triste: “Vou passar em Salvador, mesmo”. E muitos desejavam: “Um “éxcelente" São João, para você”, que é pronunciado com a tônica no “ex”.
Tiro o chapéu para os baianos: notei que, mesmo pessoas mais simples, usam os plurais, observam as concordâncias dos verbos, em frases pausadas. E colocam muito carinho nas palavras: o “painho”, usado aqui, é uma graça; deve ser a glória para o pai, que ouve. Além disso, eles gostam de conversar, e têm o dom da argumentação: fazem ponderações, tiram conclusões. Só disse, na barraca do acarajé, que preferia o abará. E começou a polêmica: “Eu nunca me fiz essa pergunta…”, disse uma moça, e por aí foi….
Fico imaginando que isso pode ser herança dos portugueses, que chegavam por aqui, discutindo a melhor rota, os lugares para se abrir os olhos, a bitola dos cabos, os ventos, etc…, naquelas conversas longas, e cheias de ponderações, a que se atém os velejadores, até hoje, durante horas, que não se vêem passar.
As pessoas aqui são tranquilas, falam baixo nas ruas, supermercados, shopping, e as crianças não fazem escândalo.
Sou alérgica a frutos do mar. Nos restaurantes self-service, muitos pratos são de comidas típicas com camarão, então, não posso pegar nada que está ao lado, naquela “neura” de um talher ter sido trocado por outro; aí, vou ficando com as últimas opções, a mais frequente, frango de cardíaco, aquele bem branquinho, cor e sabor de isopor.
Dias desse, eu provei um pedaço de abará, que uma moça na barraca disse não ter camarão, mas depois, a baiana que cozinha disse que o põe, na receita dela. E não aconteceu nada comigo. Estou pensando na possibilidade de comer um abará completo para testar. Depois eu conto no que deu.

Como dizem por aqui: um feliz dia, para vocês!

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Versão do Dorival

“Os saveiros, de velas coloridas, cortam a baía de Todos os Santos, vêm de Mar Grande, de Maragogipe, de Cachoeira e São Félix. No cais Cairu, em frente ao Mercado, eles descansam. Ali arriam as velas, ficam balouçando tranqüilamente sobre as águas”. Bahia de Todos os Santos – guia de ruas e mistérios – Jorge Amado – 1945.

Sessenta e quatro anos depois, no píer do Terminal Náutico da Bahia, com as velas arriadas, o Luthier está balançando tranquilamente sobre as águas. Está atracado de popa, preso por dois cabos, boreste e bombordo, em pneus que estão fixados a cunhos do flutuante. Os pneus ajudam muito, aliviando o esforço, nos cunhos e passa-cabos, que é provocado pelo rebojo. Rebojo é um movimento de vai e vem imposto ao barco pela energia das ondas que, apesar de contidas nas proteções do Forte e do porto, ainda passa muito forte, especialmente, na maré alta. O TENAB fica em frente à Praça Visconde de Cayrú, onde está o cais citado por Jorge Amado.
Dia 23 de Junho, véspera de São João, acordei, como todos os dias, com a sequência de apitos vindos da Capitania dos Portos, anunciando a alvorada. Esses apitos, com diferentes ritmos e timbres, soam o dia inteiro anunciando as atividades e a presença de oficiais no Distrito Naval. Gostem ou não, é uma tradição que compõe o cenário do cais.
À tarde, estava apoiado no gradil do cais, olhando para o nada, quando se apresentou um dos funcionários do TENAB, declarou seu nome, perguntou de que veleiro eu era e, em seguida, passou 20 minutos me explicando porque, esse ano, ele não iria ao interior para comemorar São João; estava chateado, precisava dividir isso com alguém. São João, na Bahia, é um dia de festa, talvez tão importante quanto o Natal.
Ao lado do TENAB, tem um pequeno cais onde operam diversos barcos de transporte de pessoas para: Itaparica, Maragogipe, Morro de São Paulo, etc.. Os mais modernos, Catamarãs, transportam turistas, em sua maioria, para destinos mais distantes; e barcos mais simples, de madeira, pessoal local e cargas leves para Itaparica. O movimento foi intenso porque muitos soteropolitanos viajam para passar o São João no interior. Dependendo do destino, há uma economia de 200 km tomando o ônibus em Itaparica, evitando dar a volta na Baia de Todos os Santos, por terra.
Numa tarde de sexta-feira, vi sete saveiros chegarem, com suas velas coloridas. Não traziam farinha e frutas pois somente iriam participar de um filme, por isso tantos. Enquanto as cenas eram rodadas a bordo de um deles, os outros, com os panos em cima, faziam fundo, que, junto com barracas imitando uma feira livre, compunham o cenário.
No TENAB, veleiros estrangeiros são maioria, com seus capitães sempre reclamando da burocracia brasileira, como se nos EUA, ou na França, fosse diferente. Um Sul Africano me disse que aqui é ruim, mas no Caribe é muito pior. Há também barcos de pesca, lanchas da Capitania, dos práticos do porto, escunas e muitas canoas a remo. Todos os barcos ficam em poitas, ou atracados lado a lado, bem próximos a uma rampa, localizada ao lado da Capitania.
O entorno do Cais é lindo. O espaço total não é maior que meia milha quadrada, mas tudo funciona bem, barcos entram e saem a todo tempo, manobram com uma facilidade e precisão que dá inveja. Os primeiros motores são ligados meia hora antes dos apitos da alvorada, e os últimos barcos se aquietam às 21:00 horas.
Nos diferentes espaços à volta do TENAB, convivem: velejadores, turistas, comerciantes, pescadores, trabalhadores e miseráveis que, dormindo ao relento, em parte, nada mais são que fruto do descaso de uns poucos eleitos.
Gosto daqui, dessa ordem sem controle, da tradição e da harmonia, do sorriso e da agonia, da luz e do olhar de um povo que brinca e festeja a vida, por qualquer motivo.
Se puder, venha conhecer e viver um Cais muito diferente de qualquer marina. Aqui, no meio de veleiros de fora, onde mais se fala inglês, há um certo mistério no fim da tarde, onde se vê um baiano falando ao celular em um cais velho, tendo por fundo um antigo forte, um moderno catamarã, barcos mais antigos, uma réplica de caravela, navios e um daqueles saveiros velejando graciosamente em direção ao cais, para ficar “balouçando” tranquilamente.

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Versão da Catarina

Barco abastecido de água, fomos ao supermercado, comprar alimentos e bebidas, para a viagem. No dia anterior, feriado do dia 11/06, não conseguimos quase nada; o comércio realmente fecha, em dia santo.
Acabei preparando uma carne com muitos legumes, pensando em balancear a proteína, e o carboidrato, e comemos um dia antes, para ver se a gororoba não ia fazer mal. Ainda deixei, à mão, umas sopas instantâneas, uma massa para lasanha, molho, e uns lanchinhos.
Checada a previsão, saímos no dia 13 de junho, às 15 horas, com destino a Salvador/BA, velejando com um vento de alheta maravilhoso, constante, de uns 15 a 20 nós, suficiente para levar-nos a 6 nós, com a ajuda de ondas vindas de sul.
Logo depois de passar o Porto de Tubarão, avistei um bichão cinza, vindo no través do barco, bem rente à água, que só podia ser um golfinho; indício de uma boa viagem, ou de nada, mesmo, só ele indo procurar sua turma.
Quanto ao mar, não teve jeito, a previsão já dizia que ia ser em torno de 2 metros, em média, e balançamos muito, principalmente depois de Abrolhos, quando as ondas vinham de leste. Foi difícil arranjar um jeito de tomar banho, que foi no cockpit, com aquele ventinho sul, gelado, soprando, mas achei tudo ótimo: a sensação de ficar ensebada é pior que o desconforto. Tudo ficou mais difícil: beber água, comer, esquentar a comida, mas assim saímos, balançando, e assim chegamos.
Eu nunca vi uma noite tão estrelada, tão linda, quanto na passagem por Abrolhos, acho que por estar longe de qualquer clarão das cidades. E que lindo ver a lua nascer no horizonte, uma bola alaranjada, à meia noite, subindo devagarzinho.
Tive certeza que estávamos no nordeste do país, quando um pescador pediu, pelo VHF, para que fossemos para o canal “dezoiTWO”. Logo depois ouvi, pelo FM, a rádio Ubatã, da cidade de mesmo nome, na Bahia, apresentada pelos médiuns videntes Mestre Jacob, e Dra. Janaína, se é que entendi direitinho, falando bem devagarzinho. Até então, no Espírito Santo, só tinha captado rádios religiosas católicas, na maioria, ou evangélicas.
O rádio AM/FM foi um companheirão, para mim, naqueles momentos em que você fica contando as ondas, e vai dando um soninho. Você escuta os vários tipos de música, regionais, pontos de vista diferentes, e notícias. E isso tudo a 20 milhas da costa!
Chegando perto de Salvador, deu para captar um programa noturno, com esclarecimento de dúvidas sobre sexo, por uma médica local, Dra. Gilda, e um outro muito semelhante, em um canal próximo; nada a ver com os do gênero, de São Paulo, aqui muito mais diretos, e informais; as doutoras parecem umas amigonas, dando conselhos. E cada pergunta! Assunto de grande relevância, por aqui.
A viagem transcorreu bem, com um pequeno incidente com o GPS, e outro com a escota da genoa, mas sempre tem que ter alguma emoção. E emoções não faltaram ao ver a minha chaleira voando para bombordo, com um onda mais forte que bateu no casco por boreste. Claro que ela não estava vazia, mas como água evapora, tudo bem. E se fosse uma panela com o rango? Ou se ela estivesse com água quente, vindo na minha direção? Ia chorar muito. É bom eu largar de ser besta, e prender as coisas direito!
Fiquei namorando, fortemente, a idéia de ter um microondas. E já estou casada com a de arrumar uns estofados para o cockpit, que mais parece, hoje, um chão de cimento gelado; e também uns protetores para o sofá da dinete, para a gente não cair com o balanço do mar. Coisas que fomos deixando para depois.
O Dorival mareou, mas conseguiu, desta vez, controlar a situação, e foi melhorando, a cada dia. Se fosse comigo, não sei se teria esse controle mental, e ia ficar muito chata, eu me conheço. Ainda não mareei, mas como sei que isso pode acontecer com todo mundo, a qualquer momento, não estou dando bobeira com a alimentação, e com o calor.
Os nossos turnos de vigília foram um desrespeito só: um ficava com dó de acordar o outro, e ia se aguentando, até que o outro acordasse sozinho. Assim não dá! Falta de organização!
Mas assim chegamos, à terra dos reis, às 22 horas, do dia 16 de junho de 2009, pedindo licença para singrar as águas da Baía de Todos os Santos, e cansados, mas muito contentes, satisfeitos por mais essa perna, que transformou em realidade, um sonho antigo. Isso é que é emoção!

Tenho certeza que, depois dessa, vamos juntos a qualquer lugar!

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Versão do Dorival

A decisão de ir direto para Salvador surgiu a partir de uma janela de previsão de tempo muito boa. Teríamos uns 3 dias de vento SE, e chegaríamos a Salvador com vento Leste. Ondas de 1,5/2 metros.
Preparei uma rota direta de Vitória para Salvador e, caso fosse necessário parar, programei alguns waypoints para Caravelas, Ilhéus e Camamu.
Dois pontos devem ser observados com cuidado nessa rota: o Canal de Abrolhos e o Banco Royal Charlotte. Saindo de Vitória, a rota que usamos passa por dois Waypoints no Canal de Abrolhos, um no início e outro no fim da rota recomendada na carta 1310 (Canal de Abrolhos e Proximidades). Depois, seguimos um rumo direto para Salvador, com um pequeno desvio próximo a Belmonte, para passar com segurança pelo Banco Royal Charlotte.
Saímos de Vitória às 15:00 hs do dia 13 de junho de 2009, logo após abastecer com diesel. Com a mestra no segundo rizo, motoramos um pouco até sair da proteção do Porto de Tubarão, onde abri a genoa e desliguei o motor. Com o vento de alheta (SE) de 16 nós rumamos para o Canal de Abrolhos, desenvolvendo velocidades entre 6 e 7 nós.
Logo que anoiteceu, avistei um barco de pesca que me pareceu ancorado. O nosso rumo o deixaria pelo nosso bombordo. Logo, ele chamou pelo rádio e avisou que estava com a rede dele, 1 milha de comprimento, lançada a 70º, com uma bóia em cada ponta, sinalizadas com piscas. Depois de alguns câmbios, até eu entender qual era a referência dos 70º que ele reportava, verifiquei que nosso rumo estava safo. Algumas horas mais tarde, avistei outro barco de pesca, desta vez, eu chamei pelo rádio perguntando se ele estava com o material na água, ele respondeu que não, seguido de várias formas diferentes de agradecimentos pela minha preocupação com o material dele. Não me lembro dessas gentilezas no sudeste.
Traduzindo: material é o conjunto de rede, bóias e sinalização luminosa; xº, lançado, é em relação ao norte magnético; a posição é reportada pelo valor cheio (arredondado) dos graus, primeiro a latitude e depois a longitude. Exemplo, se você estiver na Latitude 12º58’ S, e Longitude 38º 30’ W, chame o pesqueiro assim: Barco de pesca perto de 1338, aqui é o veleiro Luthier…
Às 07:30 hs do dia 14, reduzi a área da genoa mantendo a velocidade de 7 nós. O vento subiu para 25 nós SE e as ondas eram de popa, 2 metros, 8 segundos, vindas de S.
Chegamos no primeiro Waypoint, da rota do canal de Abrolhos, às 18:30 do dia 14, com ondas de 2 metros e período de 6 segundos. O Vento continuava SE. Enrolei a genoa completamente, reduzindo a velocidade para 5 nós, com medo de colisão com alguma baleia, e liguei o motor para, com o barulho, acordar alguma que estivesse nas proximidades. A passagem pelo canal de Abrolhos durou seis horas. Logo depois, desliguei o motor e abri a genoa, e, sem ter visto baleia, rumamos a 6,5 nós, direto para Salvador.
Às 7:30 hs do dia 15, o vento reduziu para menos de 10 nós, então, liguei o motor para manter a velocidade acima de 6 nós. Logo em seguida, o vento mudou e ficamos em popa rasa, o que me obrigou a reduzir a genoa para estabilizá-la. Às 10:30 hs, o vento voltou a aumentar, então, desliguei o motor, e abri a genoa. Seguimos a 6,5 nós, com vento de alheta. Nessa hora, percebi que, enquanto a genoa estava reduzida e usava o motor, o cabo da contra-escota ficou roçando na escota da genoa, provocando desgaste.
A viagem seguiu sem problemas e fomos observando Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Santo André passarem. As ondas começaram a mudar de direção, passando a vir de leste, e o vento também. Desta vez, a previsão foi certeira.
Logo depois de passarmos pelo Banco Royal Charlotte, fui alertado pelo alarme do piloto automático que ele tinha desligado, por uma falha de dados do GPS. Como estávamos com vento de alheta, quase popa rasa, o barco girou 180º e aquartelou as velas, parando completamente (o motor estava desligado). A contra-escota funcionou perfeitamente. Tudo ocorreu lentamente, sem qualquer adernada violenta, só uma sensação de pisada no freio porque estávamos a mais de 6 nós.
Folguei as escotas da genoa e ajustei o rumo, com isso a mestra se acertou, mas, infelizmente, a escota de boreste da genoa se enroscou no bote, que estava preso logo avante do mastro. A falha de dados do GPS sumiu, sem que eu pudesse saber o que ocorreu, permitindo ativar novamente o piloto automático.
Fiz várias tentativas para livrar a escota da genoa, mas só consegui enrolar a genoa até que ficasse um pequeno triangulo. Enquanto isso, o vento de leste foi diminuindo para uns 8 nós, e estávamos com ondas diretamente na lateral do barco. As ondas não eram altas, a maioria com 1,5 metros, mas algumas, com intervalo de 5 a 15 minutos, vinham com mais de 2 metros, em grupo de 3 ou 4, balançando bastante.
Liguei o motor, e percebi que, com velocidade de 6,5 nós, a navegação ficava mais confortável, mas não o suficiente para que eu tivesse coragem para ir até o mastro abrir toda a mestra, e livrar a escota da genoa do enrosco, para poder andar a mais de 6 nós, sem motor.
Assim, viemos até Salvador com a mestra no segundo rizo, 50% de genoa, e motor a 2000 giros.
Chegamos no TENAB (Terminal Náutico da Bahia) às 22:00 hs do dia 16 de junho de 2009. Chamamos pelo rádio e ninguém respondeu, então, peguei uma poita para ir de bote ver onde iríamos atracar o Luthier. A Catarina não queria que eu fosse, achava que podíamos ficar ali mesmo e tratar com a marina no dia seguinte. Teimoso, e com medo de ser acordado na madrugada para sair dali, fui até a marina. O guarda estava desesperado para me avisar que eu saísse dali, porque a poita era de um barco a serviço da Capitania dos Portos, e estava para chegar. Eu não sabia, a Capitania fica em frente à poita, ao lado do TENAB.
Navegamos 471 milhas, em 78 horas, velocidade média de 6 nós, 30 horas com ajuda do motor, porque nas 6 horas que gastamos para passar por Abrolhos o motor estava ligado mas desengatado.
No dia seguinte, foi só lavar o convés, aduchar os cabos, e o Luthier estava como saiu de Vitória, nada quebrou.
Mareei, mas, desta vez, consegui lidar melhor com isso.
Ficaremos um tempo em Salvador, haverá o que relatar. Aguardem.

Próximo a Ilheus

Salvador

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