Retorno a terra


 

 
   
 


O mais difícil é realmente se adaptar a viver em terra, trânsito, stress, a correria de todos, a falta de tempo. Não é nada fácil conviver com esse povo de terra.
Quando estive no Brasil em 2007 "aluguei" minha casa com filhos, cães e etc... à minha irmã, afinal ficaria fora mais de 2 anos e assim teria alguém cuidando da minha pequena família, como voltei antes do previsto, estou com a casa cheia, coisa que não estou mais acostumada, isso termina também sendo uma fonte de stress embora a gente se dê maravilhosamente bem.
Rapidamente dei um jeito de sair de casa, fui passar uns dias próximo a Araxá em Minas onde minha irmã mais velha possui uma fazendinha, é um paraíso, cercada de muito verde, com um rio serpenteando pelo terreno, muitos pássaros, tucanos e de vez em quando um tamanduá bandeira fazendo alguns estragos nos valentes cães da fazenda. Não existe nada a fazer a não ser apreciar a paisagem, fazer uma caminhada pelos pastos, ir a algumas praias nas margens do rio, ler e jogar conversa fora deitada em uma rede na varanda, e mesmo não fazer nada.
Em pouco tempo voltei novamente as Minas Gerais, Campos Gerais é a cidade de meus pais onde tenho alguns familiares. Tenho paixão pela Serra do Paraíso, a montanha que circunda a cidade, são lembranças de criança num tempo muito feliz. Quando pequena moramos no nordeste por vários anos e era ali aonde vínhamos passar férias e rever a grande família. Tenho a sorte de ter uma família grande onde todos se dão bem, portanto é sempre uma alegria encontrá-los. Ouvir e contar as peripécias da vida que levamos, com primos que não vemos há anos pela madrugada afora.
Ver o céu escuro salpicado de estrelas é outra coisa que me faz sentir bem, desde criança tenho o hábito de namorar o céu, isso agora também faz lembrar o tempo vivido no mar onde grande parte da noite era perdida na observação prazerosa da Via Láctea.
Foi nesta viagem, mais exatamente na comemoração do aniversário de Sai Baba que resolvi que não iria voltar em abril a velejar com a Marisa no Huayra. Iria para a Índia conhecer Sai Baba em julho. Decisões que não possuem explicação.
Vem a época de Natal, só correrias, todos parecem elétricos, não tenho mais pique para essa loucura toda, ainda bem que tenho um quintal maravilhoso - o clube Castelo na Represa de Guarapiranga - estou sempre por lá fazendo caminhada, hidro, velejando, admirando o pôr-do-sol no bate papo com os amigos ou simplesmente tirando uma soneca na beira d'água.
Como estou necessitada de outro tipo de água, a salgada, arranjo um jeito de ir para a praia, poucos dias, mas que já garantem meu estado emocional um pouco mais alinhado.
Vêm as festas, casa cheia, tudo é festa, revejo os familiares depois de tanto tempo ausente, mas o que quero mesmo é ficar só, sinto falta do silêncio, sinto falta de estar comigo mesma, de falar com Deus e isso é coisa que estando num veleiro fica muito mais fácil.

Beijos

Cristina Berringer

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