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Lição 3 - Ajustes Complementares nas Velas

 

Este curso foi desenvolvido e está sendo apresentado autorizado por:

O curso foi traduzido do original em inglês. Algumas palavras foram deixadas propositalmente nessa língua ou porque são empregadas usualmente aqui no Brasil ou porque não encontrei uma expressão que traduzisse o sentido correto. Agradeceria qualquer contribuição para aperfeiçoar o texto traduzido. João Carlos (joao@veleiro.net)

 

"Rondadas" no Vento

Como você aprendeu na lição 2, é muito importante a observação constante do ângulo relativo entre o barco e a direção do vento (Vento Aparente) para que você possa manter a correta "mareação" das velas. Algumas vezes esta tudo correto quando ocorre uma mudança súbita na direção do vento. Quando isto acontece, você tem que reajustar as velas. Entender os dois tipos de "rondada de vento" vai ajudá-lo a se adaptar a eles facilmente.

 

 

Quando o vento "ronda" para uma direção mais a proa do veleiro ele causa o panejamento das velas e a redução na velocidade da embarcação. Você pode fazer duas coisas: a primeira é girar a proa na direção contrária (arribar) para afastá-la da linha do vento e obter novamente o mesmo ângulo anterior entre a direção do vento e o barco; a segunda é caçar as escotas até a correta mareação. Se você já está navegando na orça fechada, a sua única opção é arribar ou cambar para adotar um novo rumo.

 

Quando o vento "ronda" se afastando da proa do barco, as velas ficam caçadas demais o que, geralmente, aumenta o ângulo de inclinação. Esta situação é mais difícil de ser diagnosticada do que a "rondada" na direção da proa. A melhor forma de estar preparado é manter a observação cuidadosa da biruta. Você pode corrigir essa rondada folgando as velas ou orçando e assumindo um novo rumo. Se você não esta certo se ocorreu uma "rondada" de vento se afastando da proa, folgue as velas assim mesmo. Se elas panejarem logo que você folgar é porque não havia ocorrido a "rondada". Volte então a caçá-las. Este tipo de "rondada" de vento é bom quando você esta orçando em direção a um destino pois permite que você possa adotar um rumo mais direto.

 

Ajustando a Área Vélica as Condições de Vento

Quando estamos velejando há uma contínua interação entre as velas e o vento. Essa interação é que produz a força que movimenta o barco. A velocidade, performance e controle são muito influenciados pela quantidade de vela exposta ao vento, que chamamos Área Vélica. Quando o vento esta forte, o barco necessita de uma área vélica menor.

Em condições diferentes de vento, a área da vela grande é reduzida através de uma técnica chamada de rizo. A área da genoa, geralmente, é ajustada pela troca por uma genoa menor ou pelo enrolamento de parte desta usando o dispositivo enrolador instalado no estai de proa. Um barco com muita área vélica exposta ao vento se tornará instável e muito difícil de controlar, além de sofrer uma inclinação excessiva (adernamento). A inclinação excessiva faz com que uma área maior do casco fique submersa, aumentando o arrasto e reduzindo a velocidade do barco. A medida que a inclinação aumenta, uma área menor da quilha atua na prevenção do movimento lateral, o que provoca a deriva do barco, afetando também a performance no contravento.

O excesso de vela pode também forçar o barco a ficar fora do rumo. O timoneiro terá que compensar o leme, girando-o para um dos lados, o que funcionará como um freio, diminuindo a velocidade do barco e afetando o seu controle. Um barco com muita vela para um determinado vento vai se mover mais devagar, deixará a tripulação mais desconfortável pela excessiva inclinação e forçará mais os vários dispositivos envolvidos. Quando a vela é reduzida, o excesso de pressão do vento é aliviado, o barco velejará mais docilmente e rapidamente. Usar uma área vélica reduzida adequada a intensidade do vento é um sinal de sabedoria e esperteza.

Reduzindo a Genoa - A área da vela de proa é, geralmente, reduzida pela troca por outra genoa menor ou pelo enrolamento de parte da genoa no estai de proa. Com essa redução, os carrinhos de genoa devem ser re-posicionados mais a frente. Os barcos de regata normalmente possuem um perfil instalado em torno do estai de proa, com duas calhas, que permite a troca rápida da vela. Como regra geral use o descrito na tabela abaixo:

 
TABELA SIMPLIFICADA PARA  SELEÇÃO DA VELA DE PROA
Vento Fraco 0 -10 Nós 110% - 150% Genoa 1
Vento Moderado 11 - 25 Nós 90% - 110% Genoa 3
Vento Forte 25 Nós ou mais 60%- 90% Storm Jib

 

Seguem os passos para efetuar a troca da vela de proa:

  1. Solte a adriça da genoa e abaixe a vela. Certifique-se que a vela não caia dentro d'água nessa operação

  2. Desconecte a adriça do tope da genoa. Prenda a ponta dessa adriça em um lugar seguro

  3. Guarde a vela que você abaixou dentro do barco

  4. Entralhe a nova vela no estai de proa

  5. Passe as escotas pelo lugar apropriado re-posicionando os carrinhos de genoa, se for o caso

  6. Conecte a adriça ao tope da vela

  7. Suba a nova genoa

 

Reduzindo a Vela Grande

A área da vela grande é reduzida pelo uso da técnica de rizar. Esta operação é muito mais fácil do que trocar a vela. O rizo é executado abaixando-se a vela grande, estabelecendo-se um novo ponto na testa da vela como punho da amura e um novo ponto na valuma como punho da escota e subindo-se novamente a vela com a área agora reduzida. O novo punho da amura é preso ao garlindéu usando-se um cabo (Reefing DownHaul) ou a um gancho próprio para essa operação e que fica permanentemente preso ao garlindéu. O novo punho da escota é preso a ponta da retranca usando um cabo (Reefing OutHaul) que deve ficar permanentemente passado pelo olhal próprio para essa operação.

 

 

Passos para Rizar a Vela grande:

  1. Ajuste o rumo para uma orça fechada (Velas bem caçadas)

  2. Folgue a escota da vela grande até que ela paneje

  3. Solte a adriça da vela grande até que o novo punho da amura fique bem próximo ao garlindéu. Prenda a adriça

  4. Prenda o novo punho da amura no gancho próprio ou prenda o cabo (Reefing DownHaul) que passa pelo novo punho, tensionando-o para baixo

  5. Puxe novamente a adriça até obter a tensão desejada na testa da vela

  6. Puxe o cabo (Reefing OutHaul) que passa pelo novo punho da escota prendendo-o na ponta da retranca

  7. Cace a escota da vela grande.  Arrume a parte da vela que foi reduzida prendendo-a ao longo da retranca com cabos auxiliares próprios

É comum nos barcos de cruzeiro a existência de mais de um ponto de rizo (normalmente três). O rizo de baixo é chamado de primeiro rizo, o seguinte de segundo rizo e assim por diante. Para cada rizo é necessário ter um jogo de cabos próprios.
O mais importante na operação de rizo é fazer com que os novos punhos de amura e escota fiquem bem presos e próximos ao garlindéu e a ponta da retranca respectivamente, por dois motivos:
1. A maior tensão na parte de baixo da vela grande deve ficar nos punhos de amura e da escota porque esses pontos são reforçados para agüentar essa tensão. Ao contrário, os cabos auxiliares que prendem a sobra da vela reduzida não estão dimensionados para suportar tensões. Se os punhos não estiverem bem presos e a tensão se transferir para os cabos auxiliares, a vela sofrerá uma deformação  e pode até rasgar nesses pontos
2. Manter a vela grande suficientemente plana para auxiliar o controle do barco

 

 

Outros Ajustes nas Velas - Há ainda um outro ajuste que deve ser feito e que fará muita diferença na performance do seu barco. É o ajuste da curvatura da vela, modificada pela tensão na adriça (e conseqüentemente na testa) dessa vela. Muita tensão conduz a uma vela plana e pouca tensão produz uma vela "barriguda". Quando a tensão estiver correta, não devem ser observadas rugas horizontais nem verticais ao longo da testa da vela. Muita tensão promove rugas verticais (ao longo da testa) e pouca tensão promove rugas perpendiculares a testa da vela.

O mesmo princípio se aplica a esteira da vela grande. Muita tensão provoca rugas ao longo da retranca e pouca tensão provoca rugas perpendiculares a retranca.

Outros controles são o traveller (folgue o traveller para tornar a vela mais plana) e o controle de tensão do estai de popa (tensione o estai de popa para obter uma vela mais plana).

 

 

Exemplos Extremos de Testa da Genoa Muito Tensionada e Pouco Tensionada

Em velas de proa que não usam garrunchos é mais difícil perceber as rugas que se formam quando a tensão da testa da vela não esta adequada. A medida que você caça a adriça, observe a testa da vela até que ela fique lisa; esta é a tensão correta. Quando há um aumento na intensidade do vento, torna-se necessário aumentar a tensão na adriça para tornar a vela mais plana. Muitas vezes a vela parece que esta com a tensão correta mas, quando as escotas são caçadas e o vento enche a vela, as rugas aparecem indicando que a testa precisa ser mais tensionada. Por isso, ao levantar a vela, é recomendável que você aplique uma tensão um pouco maior para que, quando você começar a velejar a tensão fique correta. Os velejadores de regatas estão sempre re-ajustando a tensão das adriças para adequá-las as várias condições de vento. Isto significa muito mais trabalho a bordo mas se reflete diretamente na performance do barco.