VELEIRO HIPPOCAMPUS


Relatos do Newton, Vi e Luca (newtonquinteiro@yahoo.com.br)

 

Austrália (maio/2005)

Finalmente saímos!!
Pois é pessoal, eu tinha resolvido enviar uma mensagem somente quando finalmente saíssemos. Isso finalmente aconteceu. Depois de tantos contratempos e atrasos dia 09/05/05, saímos de Brisbane. Como não podia ser diferente, a âncora insistia em não sair do fundo lamacento do rio. Alguns palpitaram que talvez tínhamos ancorado em um barco que foi afundado há muito anos, outros que era porque o Hippocampus queria ficar mais. No fim após muito motor e até ajuda com a catraca, conseguimos tirar a âncora do fundo. Saímos motorando devagar e nos despedindo do pessoal do ancoradouro. Devagar mesmo pois o hélice estava cheio de cracas e o casco muito sujo o que nos dava apenas 3-4 nós com a ajuda da maré. Tínhamos pela primeira vez um tripulante a bordo, o John Acsinte, nosso amigo Romeno que queria pegar experiência em veleiros e nos acompanhou nessas primeiras pernas. Olhávamos com um pouquinho de saudades esses prédios que já nos era familiar mas o coração agora estava lá na frente e seguimos rio abaixo. O dia estava nublado e com pouco vento, apenas 10 nós, mas estava previsto um sistema que entraria com 30-35 nós nos próximos 03 dias. Quando chegamos próximo a foz, 13 milhas adiante sentimos aquela brisa marítima de sudeste e rumamos para o norte ao fundo da Deception bay onde James Cook procurou incessantemente  uma foz de rio e não encontrando deu esse nome a essa bela baía. Ao fundo já se delineava Red Cliffe, nosso primeiro ponto de parada onde chegamos à noite e dormimos amarrados nos piles seguros do porto. Acordamos cedo e decidi que teria que limpar o fundo do casco e o hélice pois estávamos muito lentos. A água estava a 20 graus e eu não tenho equipamento adequado, mas mesmo assim criei coragem e mergulhei naquele gelo e fiz uma limpeza rápida que melhorou nosso desempenho. Saímos às 09 horas contra a maré e começamos a negociar com a barra da baia de Moreton. Ela tem vários canais intercalados com bancos de areia que ficam a menos de 0,5 metro, mas com o tempo nublado fica difícil de ver os limites, então confiamos no GPS e seguimos as bóias do canal mais ao oeste próximo a ilha de Bribie e seguimos em frente. Ás 13 horas entrou um vento bom e desligamos aliviados o motor para seguirmos velejando até próximo de Mooloolaba. Passamos por vários navios que entravam para Brisbane e quando fomos ligar novamente o motor, a mangueira da mufla (radiador) estoura e sou obrigado a fazer uma substituição rápida. Tudo resolvido, apontamos o barco para entrada de Mooloolaba e jogamos a âncora em 3,0 metros nesse aprazível porto já nosso conhecido. O tempo já ameaça a mudar e resolvemos aguardar a melhora para seguirmos em frente. Nos despedimos do nosso amigo John que contente e com muitas fotos e anotações voltou de ônibus para Brisbane para sua rotina de trabalho e ficamos aqui de olho na meteorologia para seguirmos para ilha
Fraser, a maior ilha de areia do mundo, como os australianos dizem com orgulho.
É isso aí, agora sempre que pudermos enviaremos algumas fotos junto com as mensagens, pois consegui um programa para reduzi-las e será muito mais fácil e barato carregá-las do grupo.
Um abraço,
Newton,Vi e Luca
 

 

Austrália (segunda quinzena de maio/2005)

Oi nóis aqui tra veiz! Pois e' pessoal, o Hippo esta novamente nas águas tranqüilas do Burnett River em Bundaberg.
A velejada de Mooloolaba para cá' foi muito boa com a exceção da barra da ilha Fraser que para mim foi pior do que qualquer atol no pacifico: muita arrebentação, correntes fortes e profundidades muito baixas além de um canal realmente estreito. Depois foi só ter paciência de aguardar o vento na costa protegida da ilha Fraser e quando a paciência esgotava, as vezes precocemente, tivemos a ajuda do vento do porão que não falhou.
Ficamos dois dias pela costa da ilha, aproveitamos para conhecer a Hervey city que é a base de todos os charters para ilha e cruzamos a baia tranqüila que separa da entrada do rio Burnett. Como a marina só tem vaga para docagem do Hippo dia 23-05, subimos o rio e estamos curtindo um pouco mais essa cidade agradável. Como disse na segunda e terça estaremos em processo de pintura do fundo do barco com venenosa e depois vamos para ilhas Keppel em plena barreira dos corais. estamos muito ansiosos para conhecê-la.
Um abraço a todos,
Newton,Vi e Luca
 

 

Austrália - junho de 2005

Olá pessoal,
O Hippocampus está agora em Townsville depois de uma velejada tranqüila de Arlie Beach até aqui. Estamos aguardando até quinta-feira quando o barco será finalmente içado e pintado o fundo com a venenosa. Essa cidade tem construções antigas e alguma parte reconstruída após a passagem de um furacão que destruiu parcialmente a cidade.
Logo na saída da marina, tem uma cachoeira em plena cidade! Uma beleza. O rio está muito congestionado não possibilitando a ancoragem e tivemos que ficar do lado de fora da marina onde tem um quebra mar com águas protegidas. Vamos explorar a cidade e depois daremos mais informações. Ficamos com saudades de Arlie com sua praia e ambiente "holiday city" sempre com gente bonita e descontraída pelas ruas, barzinhos com música ao vivo e parques a vontade para Luca se divertir. Encontramos um casal, David inglês e Fernanda portuguesa e duas filhas Sofia e Amélia e foi muito bom pois o Luca não parou de brincar com as crianças e pudemos trocar idéias em português de novo. É muito bom ouvir novamente a língua pátria embora com o sotaque lusitano. Eles estavam já no fim das férias e no outro dia devolveriam o Beneteau que alugaram em um charter. Gente muito boa. Na quinta-feira dia 09-06, subimos o Hippocampus e começamos o processo de pintura: primeiro a mão de obra para retirar as cracas que ficou mais fácil depois do "water blaster" que nada mais é do que um jato fortíssimo de água a 5000 psi que retira todas as algas e parte das cracas. Inspecionando o casco verifiquei que a placa de cobre que faz o aterramento do SSB estava solta devido a corrosão dos parafusos de cobre. Troquei por de inox, refiz a junção com sikaflex e tudo ok de novo. A bucha do leme estava com uma pequena folga e fiz uma operação daquele Francês "armengeau" e coloquei um calço de nylon. Perfeito e não tive que usinar toda a bucha. Pintamos o fundo do barco e 48 horas depois já estávamos na água novamente.
Seguimos no dia seguinte para Magnetic Island a 11 milhas de Townsville em um dia ensolarado com ventos fracos. Chegamos em 03 horas e imediatamente fomos para a terra. A ancoragem e muito protegida em Horseshoes Bay e a praia tem redes contra tubarões. Luca logo correu para praia e ficou todo o tempo na água e jogando bola com um amigo Australiano. Nada como ter segurança. Seguimos o outro dia para Orpheus island a 48 milhas de Magnetic. Uma ilha protegida como parque nacional e com estação de pesquisas. Logo que chegamos vimos vários moorings públicos. Amarramos o Hippo e ficamos observando e ouvindo os pássaros. O vento caiu bastante nos últimos dias e decidimos fazer a viagem somente de dia, dormindo em ancoragens pelo caminho. Isso evita o stress dos encontros inevitáveis com os pesqueiros sem capacidade de manobra e também o aborrecimento de ficar boiando e balançando em alto mar. Acordamos cedo e seguimos devagar para a próxima ancoragem - Cape Richard- a apenas 28 milhas. No início conseguimos velejar, mas depois das 11 horas tivemos que usar o vento de porão pois o vento sumiu. Chegamos as 15 horas e ficamos extasiados com a beleza do lugar e com a quantidade de tartarugas marinhas que ficavam rodeando curiosas o Hippo. Cedinho seguimos o rumo norte. O vento inexistente. Conseguimos cobrir com dificuldade 15 milhas durante todo o dia. Chegamos em Dunk Island a apenas 78 milhas de Fitzroy island, nosso objetivo. A situação estava ficando chata: 05 dias para cobrirmos 110 milhas! Acordei de madrugada e tinha uma brisa de terral pois estávamos muito próximo do continente e então decidi levantar âncora imediatamente apesar dos protestos da tripulação e continuamos a viagem. Chegamos em Mourilan harbour e as 18 horas de novo seguimos para Fitzroy a 42 milhas. O vento voltou a 10 nós e antes de meio dia de 16-06 amarramos o Hippo na poita da ilha. Finalmente chegamos! Quase seis dias para cobrirmos 160 milhas! Isso tem o lado bom. Passamos por ilhas muito bonitas e pudemos curtir um pouco as paradas. Agora vamos ficar um pouco por aqui, mergulhando nos corais que são muito bonitos nessa ilha e depois seguiremos para Cairns onde temos que providenciar o pagamento do Cruising Permit para a Indonésia e abastecer o barco para a próxima etapa.

Um abraço,
Newton,Vi e Luca
 

 

Austrália - julho de 2005

Cairns a Thursday Island
Chegamos em Cairns dia 17 de junho em um dia perfeito com ventos brandos e mar calmo. Antes ficamos dois dias na ilha Fitzroy mergulhando em um coral muito bonito com tons variados de azul, verde-limão e amarelo. Realmente fantástico. O grande detalhe sem crocodilos e com água muito transparente com 26 graus de temperatura. Logo depois dos mergulhos uma ducha quente free e com direito a um por de sol da praia de restos de corais.
Mal jogamos a âncora vieram a bordo o pessoal do Green Nomad um barco brasileiro tripulado pelo cap. Luiz Manoel e Marly sua esposa e o Zazen com uma grande figura, o Majj, também brasileiro que roda por esse mundão e sua esposa Alemã Sofyio. Papo garantido por toda a noite. Ficamos muito feliz de encontrá-los pois achávamos que não seria possível uma vez que eles estavam em Solomons Islands.
Botado o papo em dia com os brasucas, partimos para a parte desagradável que era pagar o CAIT (permissão de cruzeiro) para Indonésia o que me custou 230 dólares mais muita sola da sandália para fazer cópia dos documentos e enviá-las para Bali. Tudo resolvido exploramos a cidade e achamos até barato os alimentos. Tem um mercado de frutas de sexta a domingo que vende por quase a metade do preço dos supermercados. Fizemos um churrasquinho com picanha preparado pela gaúcha Marli auxiliado por Majj. Bastou o cheiro subir e chegava sempre mais uma turma de barco e no final todos ficaram satisfeitos e voltamos já tarde para o barco com um pouco de carne para o café da manhã . Consegui água de graça na marina, comprei diesel e ficamos prontos para seguirmos até Thursday Island no topo da Austrália. Despedimos da turma e saímos rumo norte. Antes queríamos visitar um coral que fica fora de Cairns (outer reef), mas quando chegamos lá estava com a água turva e com swell forte o que impedia a visualização dos cabeços de coral. Abortei com o coração partido, mas a segurança vem em primeiro lugar e ficamos desconsolados vendo aquele lugar maravilhoso afastando.
Paciência. Bola, digo, barco pra frente. Somente com a genoa com ventos de 25 nós, com a corrente a favor e com o mar pequeno devido a proteção da barreira de corais, seguimos rápido até a ilha Lizard a 153 milhas. Fizemos a perna em 26 horas nessas condições. Lizard é uma ilha continental muito bonita e com um morro alto onde o capitão Cook avistou as saídas da barreira de corais depois dele ter encalhado diversas vezes próximo a Cook Town. Trilha imperdível, mas muito cansativa com uma subida íngreme até o cume da montanha onde fica o monumento com nome de "Cap.Cook look out". A vista é deslumbrante com 360 graus de pura beleza. Corais belíssimos contrastando com Cays (ilhotas de areia branca) e o mar azul. Só vendo para crer.
Descemos mais leves e partimos para outra trilha onde fica o blue lagoon que como o nome diz é um coral que forma uma lagoa de águas azul turquesa realmente fantástico. Aqui tem uma estação de pesquisas que foi montada somente para estudar umas espécies de conchas gigantes que, segundo dizem, são as maiores do mundo. Nós mergulhamos e conferimos. São realmente grandes chegando a 1,5 metros! Aproximados. E com cores azul fluorescente tipo aquela das boates. Lindo! Fizemos uma lista de espécies e somente não encontramos o peixinho que estrelou o filme do "procurando Nemo". O resto vimos todos. (que pretensão). Ok vimos muitas espécies de corais e peixes.
Esperamos o vento amainar um pouco - estava dando 30 nós - e seguimos para ilhas Flinders com parada em Bathurst bay para dormir. Péssima escolha pois lá tinha rajadas (bullets) fortíssimas que fez a gente garrar na madrugada. Isso ancorado a 03 metros de profundidade e 35 metros de corrente! O problema, além das rajadas foi que o fundo tinha muita alga e impedia a âncora enterrar e trabalhar bem. Noite de cão (cachorro). No outro dia em compensação, vimos dezenas de tartarugas e leões marinhos (Dugongs ou Manatee) e seguimos para Flinders a apenas 17 milhas. O mar estava picado com ondas curtas e chatas a menos de 05 milhas da costa decorrentes dos bullets, mas íamos rápido e em menos de 03 horas ancoramos em Flinders. Ficamos um dia somente para dar uma passeada e tirar fotografias. Havia aviso de crocodilos na área o que impediu o mergulho. Uma pena. A ancoragem é muito boa. Seguimos bem cedo para Portland Roads distante 72 milhas, mas como estávamos com corrente e ventos favoráveis, conseguimos chegar antes de anoitecer. Mais uma parada para descanso e no dia seguinte partimos para um overnight sail até Thursday entre os intricados canais de recifes, mas foi necessário por que o vento estava forte e não há boas ancoragens para esse vento nesta área. Noite inteira acordados dando passagem para os navios (05) que avisam por rádio que não podem se desviar e sugerem que devemos sair do caminho. Fazer o quê? Vamos para as bordas dos recifes confiando no GPS pois a noite estava um breu. Tudo deu certo e quando amanheceu estávamos no través do cabo York no extremo norte do continente australiano. E melhor: chegamos no momento que a maré estava a favor (4 nós!) e somente com a genoa íamos a 07 nós até nosso destino. Ancoramos em Horn Island que é protegida para o vento de sudeste e dormimos o resto do dia.
Essa primeira etapa da travessia da Austrália está agora completa. Analisando a travessia podemos concluir que seria mais fácil e seguro fazermos ela com mais tempo para permitir somente velejada diurnas o que evitaria o stress de passar por canais estreitos e dividi-los as vezes com grandes navios e pesqueiros que infestam essas áreas. Felizmente todos com radar. O guia de Alan Lucas foi muito útil e fornece todas as ancoragens possíveis e o nível de conforto. Todas as vezes que ele alertou sobre um assunto, correspondia completamente. As correntes em alguns momentos são realmente perigosas. Fico imaginando os velejadores da era antes do gps e fico admirado. Várias vezes íamos no rumo certo na bússola mas no GPS estávamos mais de 45 e as vezes 90 graus! (podem acreditar) de desvio para um dos lados. Realmente impressionante. Tudo bem que o vento estava fraco nesse momento do desvio maior, mas 45 graus é muito comum, principalmente entre as ilhas próximo a Mackay (Percy, Keppel) onde a maré chega a 07 metros! Usamos muito o motor nessas situações. Os corais apesar de perigosos são realmente uma maravilha que vale a pena atravessar o mundo para apreciá-los. O mergulho é fantástico, obedecendo as restrições, e todo tipo e cores e espécies de peixes são vistos. A partir de Townsville a água fica quente e agradável e nessa época do ano não tem as famosas Box gelly fish (água viva) mortais. Toda praia tem vinagre disponível e serviço de socorro a nadadores atacados. Os crocodilos ou crocs como eles chamam, são uma realidade e sempre ouvimos yachties falarem sobre ataque com morte. Eles são muito perigosos e nas áreas demarcadas o mergulho e até o camping é proibido. Ouvimos sobre dois Alemães que morreram no ano passado e um Francês que não acreditou e também foi comido por essas feras. Sobre os tubarões não ouvimos muito durante nossa travessia. Nas praias mais movimentadas e perto de cidades grandes sempre víamos redes que protegem os banhistas e somente no verão desse ano foi que li nos jornais sobre um ataque de um grande tubarão branco perto de Cairns com uma vítima fatal, mas via de regra eles são relativamente "tranqüilos" se é que pode dizer isso desses bichos. Eu prefiro optar por não mergulhar se avisto um ou se dizem que existem tubarões na área. A maneira mais segura de evitar esses perigos é ficar bem longe deles. Outro perigo em potencial são as serpentes marinhas que são venenosíssimas e podem matar em duas horas! Mas só encontramos em alto mar e são bastante arredias. Tentamos fotos mas captamos somente a sombra. Elas fogem rapidamente.
E isso aí, breve enviaremos mais um abraço,
 

Newton,Vi e Luca
 

 

Thurday Island a Darwin - julho de 2005

Chegamos em Thursday Island, no final do estreito de Torres no dia primeiro de julho com a intenção de ficarmos somente dois dias para abastecermos o barco e seguirmos a viagem. Logo no dia seguinte ouvimos um forecast que viria um mal tempo com 30-35 nós e tivemos que estender a estadia. A ancoragem em Thursday é péssima pois ela fica a barlavento para os ventos de sudeste e não tem quebra mar, isto agravado pelas correntes fortíssimas que normalmente ficam em torno de 5 nós. Resultado: swell de sudeste + barco um momento filado a corrente para um lado e para o outro e sempre de lado para as ondas = dormida impossível. Teimoso que sou,tentei ficar uma noite e não dormimos nada durante o período. A ancoragem tida como satisfatória fica do outro lado na ilha Horn a 2 milhas e aprox. 20 minutos a motor por causa da corrente e bancos de areias que temos que desviar. Após a experiência resolvemos optar pela segunda alternativa e atravessar o canal toda vez que necessitávamos. Tem também uma terceira alternativa que é atravessar de ferry mas custa 8 dólares por pessoa one way. Na ilha Horn tem um pequeno e caro supermercado, um cais, casas de aborígenes e imigrantes provavelmente de Papua New Guiné e mais nada. Em Thursday é mais organizado e é possível encher o botijão de gás mais barato do que em Brisbane. O supermercado tem de tudo com o preço salgado pois tudo vem do continente via navio ou avião. Internet rápida e lojas de ferragens que vendem também alguns artigos náuticos. A população em sua maioria é aborígene e imigrantes de PNG como já disse antes e os brancos me parecem ocupam os cargos de direção ou são os donos dos estabelecimentos comerciais. Não podia faltar, é claro, as lojas e restaurantes dos chineses que são também donos da única lavanderia tipo laundromat do lugar.
Ficamos cinco dias um dos quais preso no barco pelo vento forte. Abastecido o barco, gás cheio e tudo pronto ficamos a espera de uma janela de tempo que custava a chegar. O cara do tempo dizia que entraria outro sistema em 4 dias o que nos deixaria pelo menos uma semana a mais nessas condições. Resolvi seguir caminho. Peguei o clearance da quarentena que é obrigatório em Thursday e saímos dia 05-07 as 13 horas como uma "bela" corrente a favor com vento de 25 nós. Fazíamos 12-13 nós no canal! Chegamos em Bob Island antes do anoitecer e entramos no Mar de Arafura. Devido a proteção dos corais o mar estava até relativamente calmo para o vento que fazia.
Cruzamos com diversos navios indo e vindo do estreito de torres mas não encontramos, felizmente, com os pesqueiros clandestinos que infestam essas águas e andam com todas as luzes apagadas e sem radar. No segundo dia a velejada ficou mais desconfortável e toda a tripulação ficou enjoada. No terceiro dia já tínhamos percorrido 376 milhas e parece que o tempo deu uma melhorada, talvez por já ter ultrapassado o cabo Wessel e o mar ficou mais dócil. Almoçamos peixes voadores que caíram aos montes no convés. Dia 09 recebemos o forecast avisando um mau tempo e nos escondemos em Port Essington, uma das muitas ancoragens seguras para os trade winds nessa região. A noite o estai "cantou", mas a ancoragem é realmente boa, com boa unhada da âncora e dormimos tranqüilos. No outro dia o vento amainou um pouco e seguimos caminho até cape Don onde ficou variável e fraco obrigando-nos a usar o motor para não retrocedermos. No golfo Van Diamen vimos uns redemoinhos estranhos que nos assustaram no inicio. Ele surge de repente e o barco perde o rumo momentâneamente seguindo o turbilhonamento e depois enfraquece deixando o barco seguir o rumo. Fica somente um borrão na água que é a areia que é levantada para a superfície. Isso tudo a 35 metros de profundidade. Seguimos em frente e novamente corrente a favor..., contra... e finalmente chegamos em Fanie bay , Darwin dia 12-07 `as 22 horas. Como eu dissera antes, Fanie bay fica um pouco distante do centro de Darwin, mas as facilidades que o clube nos oferece e a ancoragem boa torna atraente o lugar. Ficamos sócios temporários do clube de graça e temos que pegar ônibus para o centro da cidade. Aqui se encontra de tudo para barco e se não tiver o pessoal providencia rápido o envio via aérea. Fechei a conta do banco, revisei o estaiamento e ferragens e comprei peças de reposição pois agora somente na África. Compramos o necessário de alimentos e vamos fazer a compra maior na Indonésia que é muito mais barato. Só falta o clearance da Custom e imigração que estão sobrecarregados com o rally Darwin-kupang com 70 barcos inscritos. Ficou agendado para segunda feira dia 18-07 e então estaremos prontos para mais um mar e com com a ajuda de Deus vamos conhecer uma cultura diferente da nossa que é a oriental.
Por enquanto só expectativas. Nosso próximo contato será de Bali na
Indonésia em aproximadamente 15 dias.

Um abraço,
Newton,vi e Luca

 

 

Darwin a Kupang - agôsto de 2005

Ficamos em Darwin mais 03 dias por causa novamente de um aviso de ventos fortes e mar alto na área que estávamos. O barco estava todo pronto e não foi difícil arranjar o que fazer. Visitamos um free market que é o equivalente a nossa feira livre mas com muitas atrações. Além das verduras e frutas, tem palcos variados com shows de musica, coral, apresentação de peças teatrais e aborígenes e vários comediantes. É realmente muito divertido. Fica-se o dia todo com entretenimento garantido e com tudo na sua maioria de graça. Voltamos tarde da noite para o iate clube em uma caminhada muito agradável pela praia em noite de lua. Final de noite perfeito.
Saímos de Darwin no sábado 23-07-05 com ventos de 10 nós, mas com a ajuda da corrente conseguíamos fazer 4-5 nós. Isso durou pouco tempo e após 06 horas o vento se foi e ficamos somente com a maré nos empurrando. Nesse dia também partira o rally Darwin-Kupang, mas todos os veleiros passaram pela gente motorando na calmaria e logo se distanciaram no horizonte.
A noite uma constelação de luzes dos mastros iluminou o mar. Eram 70 barcos a nossa frente. Resolvemos seguir viagem e talvez parar em Kupang por dois dias já que com tantos barcos as autoridades ficarão mais relaxadas e não farão inspeção dos barcos. Não queria fazer os
papéis pois isso custaria 25 dólares por pessoa e como iríamos ficarsomente dois ou três dias não compensaria o gasto. Voltando a viagem, o vento ficou ausente por muito tempo. No primeiro dia fizemos 85 milhas, no segundo 35, e só nos restava baixar todos os panos e aproveitar a noite belíssima dormindo no cockpit olhando as estrelas e a bio fosforescência do mar. Parecia outro céu com milhares de pontos luminosos. Quando passava algum peixe víamos o rastro de luz que ele deixava e ele parecia um torpedo de luz. Muito bonito. Coisa que somente se aproveita quando não se tem nada a fazer em um mar acalmado e liso como um rio.
Essa é a parte boa, pois quando entra uma brisa, esta traz ventos variáveis em intensidade e direção o que nos obriga a ficarmos negociando migalhas de milhas e regulando constantemente as velas o que é acompanhado as vezes com um palavrão ou insatisfação. Coisas de calmarias... no terceiro dia ainda acalmados fomos visitados por uma baleia que, curiosa, deu a volta no Hippocampus e estranhou, provavelmente, aquele "animal" de barriga para cima e barbatanas negras (quilha) balançando no mar. Satisfeita a curiosidade deu um suspiro ruidoso e seguiu caminho. Nós ficamos de espectador privilegiado das evoluções do grande mamífero com uma pontinha de medo de que ela resolvesse "paquerar" o nosso barquinho. Imaginem o carinho de um bicho desses... Após esse encontro inusitado, entrou um vento de 15 nós e pudemos velejar novamente.
Chegamos na zona do final da plataforma continental onde o mar se torna profundo e também é o lugar preferido para a pesca. Não deu outra. Passamos por dezenas de barcos pesqueiros com suas formas esquisitas parecidas com um sapato tipo "bobo da corte" e outros com a caixa desse sapato. Nesses barcos a proa é fina e alta com a casa de máquinas e comando a ré e no meio do barco a área de trabalho, onde eles lançam a rede e fazem todo o trabalho. A aparência fica esquisita, pois estamos acostumados aos pesqueiros com popa baixa, a forma mais comum. Aliado a isso durante a noite quando eles acendem as luzes, fica difícil de identificar as luzes de navegação se é que elas existem em alguns. Nós até esse momento estávamos velejando com todas as luzes apagadas como forma de ficarmos o máximo possível escondidos pela noite, mas em momento algum nos nossos encontros com os pesqueiros sentíamos ameaçados por eles, então ficamos mais relaxados e passamos a usar as luzes de navegação durante toda a noite o que nos dá mais tranqüilidade. Sempre que fico no escuro tenho sonhos e pensamentos sobre atropelamento por navios...isso me perturba bastante.
Chegamos no estreito entre Timor e Roti na manhã do quinto dia e no final da tarde jogamos âncora em 08 metros de profundidade em frente a cidade de Kupang, nosso primeiro porto no oriente. Como eu previra, nenhuma autoridade vistoriou o barco e ficamos sem fazer os papeis durante a estadia de 03 dias na cidade. Tínhamos também o álibi da falta de mantimentos e da compra de uma correia da bomba de água que refrigera o motor para alegarmos se fossemos abordados pelas autoridades e também temos direito a 72 horas em qualquer porto para manutenção. Descemos o dingue e fomos a terra já com a noite caindo. Chegamos a tempo da premiação do rally e é claro entramos meio que de penetras na festa com shows de dança tradicional e um jantar free que infelizmente não aproveitamos pois tínhamos acabado de jantar a bordo. Teve até discurso de políticos e do ministro da cultura e turismo da Indonésia que veio da capital Jakarta prestigiar o evento. Ficamos fotografando e filmando as pessoas com as vestimentas típicas do oriente e alguns mulçumanos com seus trajes. No dia seguinte fomos ao comércio que mais parece uma feira com camelôs e vendedores de frutas pelas calçadas e vimos que são as vans que fazem o transporte pela ilha por apenas 1500 rupias (25 cents de dólar). Esse transporte vale uma descrição especial pois são multi coloridos com som pesado tipo dos jovens brasileiros com sub woofer martelando nos ouvidos e sempre cabe mais um como coração demãe. O cobrador fica pendurado na porta gritando o destino. Qualquersemelhança é pura coincidência. É verdade, voltamos ao terceiro mundo e nos divertíamos muito com as semelhanças com o nosso País. O comércio é o forte com a barganha sendo uma regra. Pede-se 10 porcento do que eles oferecem e aí começa a pechicha. Geralmente o preçofinal fica entre 30 a 50 % do pedido originalmente. Isso tudo em um "macaquês" muito divertido. Imagine o "mico" que é a negociação misturando inglês, francês, espanhol e é claro português e muitos gestos para demonstrar se gostou ou não da proposta do comerciante.
As telecomunicações são ainda muito precárias com internet muito lenta. As pessoas muito amistosas e sempre nos cumprimentam com gestos e sorrisos francos, não são bonitas como os polinésios e são de estatura medianas a baixa de uma maneira geral. Depois de três dias deixamos Kupang rumo a Rinja uma ilha a 290 milhas onde se vê os famosos dragões de Komodo, mas isto é outra história...

Uma abraço a todos,
Newton,Vi e Luca e o Hippo

 

 

Hippocampus zarpando para Cocos Keeling - Agôsto 2005

Pois é pessoal, estamos prontos para sairmos para Cocos Keeling a 1110 milhas de Bali. Aproveitamos muito a Indonésia e recomendamos como parada para todos os velejadores. Bali é um lugar muito especial, certamente o que possui a cultura mais diferente de toda nossa viagem. Aqui as coisas são bem mais baratas, por isso alugamos uma moto que nos permitiu conhecer um bocado da ilha. Andar pela cidade é uma arte, pois as motos se espremem entre os carros, as carroças, as pessoas. Moto é o meio de transporte escolhido pela população, em sua maioria. E nunca vimos tantas motos juntas, quando abre o sinal parece uma largada de corrida de motos. Divertidíssimo! Embora seja muito tumultuado, nunca presenciamos acidentes e muito menos brigas no trânsito, nem mesmo uma cara feia se quer. A comida é fantástica com um sabor inigualável,o povo muito amigável e hospitaleiro, alguns falam inglês, mais sua grande maioria o "bahasa Indonesian". O comércio e o turismo são fortes, há cultivo de arroz por todo canto. Artesanatos, pinturas e esculturas são de uma beleza e de um detalhe assombroso, barganhar é uma obrigação, desta forma consegue-se , em alguns casos baixar em 75% do valor da mercadoria. Distribuídas pelas cidades encontramos vários monumentos esculpidos. Há muitos templos Hindus ( maioria de sua população é hinduísta). Na cidade, espalhados por todo lado, encontramos altares contendo oferendas com frutas, flores, arroz, biscoitos e etc para seus deuses e muitos colocam no chão da calçada em frente a seus estabelecimentos comerciais esses manjares em pequenas cestas com incenso, e em determinadas horas eles molham e fazem suas preces. É muito interessante. Há também templo Budista e algumas mesquitas (muçulmanos). Todas as manhãs acordamos com os cânticos e lamentações na mesquita (uma choradeira, só), mas muito bonito e para nós diferente. Assistimos às danças balinesas, com suas ricas indumentárias e movimentos suaves, embaladas por músicas típicas. Muito interessante os movimentos que fazem especialmente com as mãos e cabeça. Fomos as praias de Padang-padang e Ulu watu, lugares fantásticos, praias isoladas entre rochas, freqüentadas por surfistas do mundo todo, e como não podia deixar de ser, encontramos muitos brasileiros que viajam em busca de ondas. Enfim, conhecemos muitos lugares legais e nossa estadia está uma delicia. Porém precisamos navegar, depois de 20 dias de exploração, estamos nos preparando para zarpar amanhã (sábado 27/08), temos que chegar a África até inicio de novembro.
Bem, organizamos o barco, com muitos mantimentos (comida saindo pelo ladrão), enchemos todos os botijões de gás e diesel, compramos 300 litros de água, revisamos o equipamento de salvatagem, todas as roupas lavadas, e rota revisada, Ok, parece que estamos prontos para o Índico e para estarmos mais perto de casa. Naturalmente os contatos vão ficar mais difíceis, pois as pernas a partir de agora serão grandes (10-20 dias). Logo que chegarmos em um local com internet, enviaremos noticias.

Um abraço a todos,
Newton,Vi e Luca
 

 

Hippocampus em Cocos Keelings - setembro de 2005

Ola' pessoal,
Após nove dias de velejada em um mar extremamente desconfortáveldevidos as ondas (swell) de sul e ventos de SE, chegamos em Cocos Keeling, um paraíso no meio do Indico. O barco se comportou muito bem e não tivemos quebras a bordo, apenas uma folga no leme de vento que foi rapidamente reparada em Christmas Island e em 03 horas seguimos viagem.
Logo que chegamos em Cocos, estávamos no púlpito do barco para pularmos na água, quando vimos dois tutu dando volta no Hippocampus.
Abortamos o banho ficamos jogando peixes voadores que estavam no convés alimentando os bichos. Depois soubemos que eram tubarões de recifes muito amistosos. pudemos então mergulhar. O processo de papeis aqui esta muito simplificado, não confiscaram nossos vegetais e ovos; não inspecionaram o barco e somente preenchemos um monte de formulários e pudemos curtir o lugar.
Estamos em Direction Island, uma maravilha de lugar mas sem nada de facilidades exceto um telefone público, banheiro e um abrigo onde há encontro com outros velejadores todas as tardes.
Quando necessitamos de algo é necessário pegar o dingue (motor 3.3 hp), motorar por uma hora até Home island e de lá pegar um ferry até West Island para podermos ter acesso a internet, supermercado, banco e padarias. Não é fácil não, mas é até agradável o passeio.
Luca esta gostando muito de ficar pertinho da praia de areias alvinhas como talco e em uma água inacreditavelmente transparente e quente.
Vamos encomendar o pão para sexta feira e voltamos a acessar internet neste dia.
Provavelmente partiremos na segunda com destino a Chagos, porém não existe uma alma viva lá então o próximo contato devera' ser em Madagascar daqui a 45 dias aproximadamente.
PS: O problema do notebook em Bali foi no HD e perdi algumas
fotografias incluindo as dos catamarans de Bali e o programa de redução delas.
Um abraço a todos
 

Newton,Vi e Luca

 

 

Hippocampus em Madagascar - outubro de 2005

Olá Pessoal,
Chegamos em Madagascar finalmente após uma viagem muito cansativa e com muitas quebras no barco, porém todos bem e com o Hippo necessitando de vários reparos, mas nada de muito grave. Estamos em Hell ville (nome do almirante Hell e não o significado da palavra) uma vila muito acolhedora e bonita. Os papéis agora estão muito mais fáceis e baratos de fazer. No passado gastava-se quase 200 dólares para fazer tudo agora "só" gastamos 60 dólares. Temos que pagar para olhar o dingue (01 dólar/dia) pois rouba-se sistematicamente o dingue ou o motor de popa. Infelizmente estamos no terceiro mundo com seus problemas que estamos acostumados. Vamos em breve ao parque dos Lêmures que só existem aqui em Madagascar. Enfim vamos ficar 10-15 dias e depois seguiremos para Moçambique no continente africano.
Um Abraço,
Newton,Vi e Luca

 

 

Hippocampus em Madagasgar - outubro de 2005

Cocos a Chagos
Deixamos o paraíso de Cocos Keeling com um aperto no coração no dia 12-09-2005. Primeiro porque íamos fazer uma grande travessia de 1560 milhas e segundo porque realmente era difícil deixar aquele lugar tão bonito e acolhedor. A rota era com ventos sempre de popa o que nos obrigaria a usar as velas em "asa de pombo", uma maneira não muito confortável de velejar. O tempo estava ótimo com ventos de 15-20 nós e os dois primeiros dias transcorreram tranqüilos. No terceiro dia, o vento aumentou um pouco e tivemos que usar somente a genoa e parcialmente enrolada. No momento que enrolamos a genoa o perfil superior do enrolador soltou e não pudemos completar a manobra. A solução foi arriar a vela e consertar o enrolador. Descer a vela não foi difícil, mas subir no mastro e consertar o problema foi uma novela tragicômica. Liguei o motor para colocar o barco em um curso mais confortável, coloquei o cinto de segurança e subi aos poucos quando o mar assim o permitia. Levei quase 5 minutos para chegar a o tope do mastro e parecia um guri subindo um `pau de sebo' grudado no mastro e parando em cada cruzeta para aguardar o momento certo de progredir. Quando cheguei finalmente no tope, me amarrei todo e constatei que o problema foi o parafuso que segura o perfil no lugar soltou-se com a vibração ou esforço deslocando todo conjunto para cima e soltando o perfil, ficando duas partes distintas; A de baixo funcionando normal e a de cima parada, não enrolava. Colocar o perfil no lugar foi fácil, mas o parafuso foi muito difícil, O problema era que o parafuso era muito pequeno e quase foi engolido com o balanço e trancos que o barco dava o que adiaria o serviço para o dia seguinte, Foi muito difícil. Concluído o trabalho desci com as pernas bambas e com o tornozelo ferido devido ao atrito com o mastro, e bastou içar a vela e seguir viagem. Ainda faltam 1100 milhas! No domingo dia 18 o tempo ficou bom,mas em contrapartida os ventos foram diminuindo gradativamente até ficar somente uma brisa de 5 nós. Nossa média diária caiu drasticamente.
Estávamos fazendo 130-140 milhas diária até agora e passamos a fazer menos de 60-70 por sete dias! Motorei por diversas vezes e em uma delas entrou água no carter, um problema que pensei tivesse resolvido com o uso de registro na entrada de água e saída da descarga. Troquei óleo e filtro e ficou tudo bem. Encontramos diversos navios pesqueiros e um deles tivemos que contatar via VHF para ele desviar da rota pois estávamos acalmados. Dia 26-09 entrou um vento de NE com nuvens pesadas e escuras que logo desabaram sobre nós em forma de um belíssimo, mas indesejado thunderstorm. Quando terminou a chuva no dia seguinte, de novo a calmaria com o mar picado e bastante desconfortável. Decidi ligar o motor e quando abri a descarga, veio uma onda e bateu forte contra o costado e saída do cano de descarga entrando como um pistão e enchendo o cárter com mais ou menos 7 litros de água do mar. Não tinha mais filtro nem tampouco óleo suficiente para a troca então o que resolveu de maneira satisfatória, já que não tinha ligado o motor ainda, foi somente drenar a água que é menos densa e portanto fica no fundo do carter e depois completar o óleo remanescente. Por sorte não tinha contaminado o óleo do filtro e o resultado foi muito bom; óleo limpo
e sem água. Seguimos a viagem pois faltavam somente 30 milhas. Chegamos em Chagos na ilha de Tanaka ás 15:30 do dia 27-09, muito cansados e aliviados por completar essa viagem a contento.
Um Abraço a todos;
Internet muito difícil em Madagascar. breve o relato Chagos a Madagascar;
Newton,Vi e Luca
 

 

Chagos a Madagascar  - outubro de 2005

Após ficarmos 06 dias em Chagos saímos para nosso próximo destino, Hell Ville em Madagascar dia 02-10-05. Chagos é realmente um paraíso perdido. Um atol com cinco ilhas desabitadas devido a presença de uma base naval americana em Diego Garcia, outro atol próximo daqui. Havia uma vila em Bodan, mas foi removida restando apenas os escombros das casas já sendo envolvida pela floresta. Nessa ilha os velejadores adotaram uma casa e a conservam com cozinha,churrasqueira,quadra de vôlei, água doce,etc. que chamamos de Iate Clube.
Normalmente, quando se chega em Chagos ancora-se na ilha de Tanaka que é mais fácil de entrar. O passe é bem largo e profundo e nessa ilha também é possível conseguir água doce de uma cisterna. Após isso a maioria se dirige a ilha Bodan que tem um canal estreito e tortuoso não muito fácil de passar, necessitando uma pessoa na proa ou cruzeta para guiar entre os corais, mas vale a
pena o esforço e risco. As praias são belíssimas com areia parecendo talco rodeada de coqueiros e com a água transparente típica dos atóis. O mergulho é fantástico e apesar dos tubarões de corais, pode-se pescar a vontade ou somente ficar observando a variedades da fauna e flora local. Alguns velejadores passam uma temporada completa aqui vivendo somente de pescado,coco e muita paz. O único ponto negativo é que os britânicos passam toda semana cobrando uma taxa de 100 dólares gerando protestos dos velejadores. Nós tivemos a sorte de chegarmos um dia depois deles coletarem a taxa e saímos antes deles voltarem.
Primeiro dia da viagem foi embaixo de muita chuva e vento duro de través. O barco desenvolvia muito bem com a grande no segundo rizo e genoa parcialmente enrolada, depois o vento melhorou até o dia 05-10 dando uma falsa impressão de que a viagem seria boa. O gás acabou e quando fui trocar pelo de 09 kg fiquei surpreso pois a válvula estava danificada na rosca e vazava continuamente tornando impossível usá-lo. O cretino que encheu o botijão não imagina o que uma avaria como essa pode causar. Felizmente tenho um terceiro botijão de reserva e que não foi danificado. Caso não tivesse teria que abortar a viagem que duraria aproximadamente 15 dias e ir até
Diego Garcia, cozinhar usando um pequeno fogareiro a álcool que temos para uma emergência ou pedir emprestado a um dos veleiros que ficaram em peros banhos a 25 milhas de onde estamos. Seria realmente um grande transtorno.
Dia 06-05, o tempo começou a deteriorar e logo estávamos em orça apertada com ventos de 20-25 nós e ainda faltavam 1100 milhas para o destino. No dia seguinte contatamos via SSB o Dragonfly que optou por ficar mais ao norte e eles também estavam com vento duro, o mesmo com o Suela que estava a 100 milhas na nossa frente. Nos dias seguintes o vento chegou a ficar com 35 nós nos deixando muito cansados e com muita dificuldades de manter aquela rota para o sul.
O problema era que tínhamos que passar entre dois bancos que ficam na longitude 90 senão teríamos que dar a volta pelo norte perdendo 120 milhas ou passar sobre eles com aquele tempo seria muito perigoso devido as ondas que se formam e a corrente contra. Dia 08-10 o tempo continuava horrível e usava pela primeira vez o quarto rizo na grande quando ouvi um estouro. Corri ao convés e vi a ferragem de redução da escota da grande quebrada e a retranca batendo violentamente no brandal de BE. Imediatamente descemos a grande e constatamos que sem ela era impossível manter o rumo de orça. Fiz uma operação do "Fracês armengeau" (armengue) amarrando o sistema de redução em um cabo de 12mm e fixando precariamente na retranca o que possibilitou a continuação da viagem porém perdendo toda a regulagem que a grande nos permite.
Dia 09-10 passamos pelo "mardito" banco e quando pensávamos que iria melhorar a s coisas pois não teríamos que manter aquela proa, o vento ronda mais para SW nos mantendo na orça apertada e a chuva caía que os pingos doíam as costas.
Isso se manteve até dia 11-10 quando uma onda que veio de não sei onde nos pegou de través e inundou o barco causando danos em diversos eletrônicos. O SSB que era a única forma de contato com os outros barcos e de receber cartas meteorológicas se foi; o inversor de 12volts para 220 também; o carregador de baterias não funciona mais; tudo molhado e o barco em uma bagunça danada causada pela onda que a turma chama de "sulista". Tentamos arrumar o barco da melhor forma que pudemos e com o moral baixo seguimos tomando porrada a todo momento desse mar que se revelou como o mais desconfortável e chato de velejar. Concordo plenamente com a descrição de Ceccon que disse que velejar o Índico é algo como "instável,variável,miserável e detestável".
Dia 13-10, quando faltavam apenas 300 milhas o tempo tinha melhorado um pouco e estávamos um pouco relaxados, mas entrou um pirajá com rajadas fortíssimas e antes que diminuíssemos a genoa ela explodiu literalmente em várias tiras dificultando a sua retirada. Era a nossa primeira perda de vela em toda a viagem até aqui. Coloquei a genoa 3 tomando chicotada por todos os lados e seguimos em frente com um desejo imenso de chegar e acabar esse tormento que se transformou essa viagem. A passagem pelo cabo D'ambre já era previsto como com muito ventos e ondas altas então passamos bem safos da costa e apesar do vento forte, 35-40 nós, não tivemos nenhum contratempo e o Hippo passou liso por esse obstáculo, depois desse cabo os ventos melhoraram e o mar ficou mais calmo devido a proteção que a ilha de Madagascar. Procuramos uma ilha com boa ancoragem e escolhemos Nosy Mitsyo a 20 milhas. Motoramos e chegamos a tardezinha. Jogamos a âncora em 6 metros em uma baía bem protegida e dormimos um sono merecido após 13 dias de velejada para percorrermos 1560 milhas até Madagascar. No dia seguinte fomos até Nosy Be nosso destino final dessa perna e ficaremos por aqui até consertarmos o SSB e descansarmos bem .
Findamos essa etapa da travessia das 5100 milhas do oceano Índico desde Darwin. Foi desconfortável quase todo o tempo. Tivemos calmarias próximo a Bali e antes de chegarmos em Chagos; sem dúvidas a pior perna foi de Chagos a Madagascar com ventos fortes e orçando todo o tempo com ventos fortes e muita chuva. Tivemos várias avarias , mas nada que não pudéssemos resolver ou continuar a
viagem. Foi um grande teste para a sanidade mental da tripulação pois o nível de stress foi altissimo. Agora temos que nos preparar muito bem para a próxima etapa que é contornar o continente africano
com suas famosas "freak waves" e finalmente, com a ajuda de Deus, entrarmos no nosso oceano Atlântico já olhando para o Brasil a oeste.
Um abraço a todos da família Hippocampus

Newton,Vi e Luca
 

 

Olá pessoal, 
Depois de 18 dias de velejada com diversas paradas, na costa de Madagascar e Moçambique, chegamos finalmente em Richards bay a primeira cidade da África do Sul. Por aqui e necessário negociar com as frentes frias que sobem a cada 3-4 dias com ventos fortes e ondas muito grandes. por duas vezes nos escondemos de um temporal desses, mas Deus esta do nosso lado e chegamos a tempo em uma ancoragem segura.
Um abraço a todos e depois mandarei o relato desse trecho.
Newton,Vi e Luca
 

 

Madagascar a Mocambique (dezembro de 2005)

Saímos de Nosy be dia 05-11-05 para uma baía próxima para encontrarmos um Francês que iria consertar o SSB. Ficamos lá até o dia seguinte para limpeza do rádio, porém ele continuou sem transmitir, somente recebendo os faxes com boletins meteorológicos. Tudo bem, vamos tentar alcançar o Ella e o Good hope dois barcos que saíram 03 dias antes da gente, assim poderemos velejar juntos ao alcance do VHF e discutirmos sobre o tempo. Levantamos âncora as 04 da matina e motoramos por 30 milhas e somente depois das 13 horas entrou um vento de SW que possibilitou a velejada em orça até Nosy Vahila. Na manhã seguinte saímos motorando aguardando o terral que não veio, então tivemos que seguir até que o SW venha de novo. Às 13 horas novamente lá estava ele pontual e com 20 nós, a proa um pouco melhor e pudemos velejar. Chegamos em Ananalava uma pequena cidade onde encontramos o Ella. Descemos e compramos verduras e verificamos que seria necessário ir para Mahunga para comprar diesel, pois gastamos 60 litros até agora e com certeza iríamos precisar para as pernas seguintes. O vento terral que tem todas as manhãs insistiu em não aparecer e só tínhamos o SW que a partir de Ananalava seria de proa impossibilitando a velejada. O resultado. Motorada quase o tempo todo. Uma chatice ter que ficar ouvindo o ruído e a vibração do motor funcionando, mas não tínhamos outra escolha. Fizemos duas paradas para cobrir as 140 milhas até Majunga, uma em Moramba bay, muito bonita e outra em uma baía que não tem nome no meu c-map, mas bem protegida para SW. Pegamos um vento um pouco duro na última perna ,mas chegamos dia 11-11 em Mahajanga quase no extremo oeste de Madagascar. Apesar da fama de ser muito perigosa com roubo e até assalto, não tivemos problemas nessa cidade grande e compramos tudo que necessitamos para a travessia do canal de Moçambique. O diesel era um pouco mais caro que Nosy be, mas as verduras, net e supermercado eram mais baratos. Dormimos no outro lado da baia que era mais seguro e seguimos para Bali bay no dia seguinte.
A travessia para o sul de Madagascar geralmente é tranqüila e se pode, geralmente ser feita aproveitando o terral de NE ou E que geralmente sopra durante a noite e manhã, quase nunca superando os 20 nós e quando o vento vem do mar com direção de SW ou S é melhor procurar um das muitas ancoragens e esperar o vento favorável novamente. Infelizmente não tivemos a sorte de aproveitar esse vento favorável que insistiu em não aparecer nos restando a orça ou o uso
do motor. Como não queríamos ficar esperando pela mudança do tempo ficamos com a segunda opção, ou seja, usamos o motor e sofremos um pouco com o vento contra. Começamos nossa travessia para Moçambique dia 15-11 com um vento de 15 nós de NW que permaneceu por dois dias. A corrente era contraria mas mesmo assim fizemos 106 milhas. No segundo dia o tempo continuou bom e resolvemos mudar o rumo mais para o sul. O nosso primeiro objetivo era Islãs primeras e agora estamos nos dirigindo para ilhas Bazarutos a 600 milhas . Sentimos pela primeira vez a força da corrente quando fizemos 162 milhas em 24 horas e procuramos aproveitar o bom tempo e mudamos novamente nosso objetivo. Agora estávamos indo para Linga-linga em Inhabame, quando chegamos a 80 milhas de Linga-linga, recebemos um fax com aviso de mal tempo de SW, o mais temido para essa área. Não pensamos duas vezes, com ajuda do motor chegamos  antes da tormenta no dia 21-11-05 a tarde. No dia seguinte, o pau comeu deixando o mar todo branco, mesmo estando abrigados. Que bom que estamos aqui ancorados e não lá fora...
Hesitamos um pouco, mas descemos a terra o que foi uma excelente idéia. O lugar é muito bonito e como foi bom falar com outras pessoas na nossa língua pátria e conhecer um pouco desse povo que sofreu com a guerra civil até pouco tempo atrás. Fomos muito bem recebido e todos queriam saber sobre o Brasil e fomos até convidados para jantar na casa de um dos pescadores. Gente muito receptiva e espontânea. Um fato nos chamou atenção: uma tripulante do Good Hope ia passando por uma casa de palha onde uma moça fazia umas bolsas e chapéus de palha e achou o trabalho dela muito bonito. A moça agradeceu. Seguimos em frente e depois já no dingue umas três horas depois, nos aparece aquela moça com um chapéu e uma bolsa recém feita de presente para a tripulante. Aquilo mostra mais ou menos como esse povo é com o visitante. Não se iluda entretanto com as grandes cidades. Nós temos o exemplo do Codessa, um barco americano que optou por ir para a cidade de Inhabame. Depois ele nos contou que foi alvo de todo tipo de extorsão pelas autoridades portuárias e o pior que ele já tinha o visto para o país. Ainda bem que ficamos
fora da zona urbana. Passado o mau tempo, seguimos dia 24 para Maputo a capital do país com uma janela de 03 dias para cobrirmos 240 milhas. Com a ajuda da corrente e um bom vento de N-NW não foi difícil cobrir o trecho a tempo e tivemos que reduzir bem os panos e esperar amanhecer do dia
26 para entrarmos na baia de Maputo e irmos para a ilha de Inhaca. O fato que nos assustou foi o quase atropelamento por um grande navio conteineiro que aproximou muito rápido e só deu tempo de fazer o jaibe ver aquele monstro passar jogando o Hippo para o lado com as ondas da proa e o mastro quase batendo no costado com o balançar violento causado pelas ondas. Foi nosso maior perigo que passamos em toda a viagem, superando até mesmo a tempestade de Aitutaki-Tonga. Logo depois ainda com as pernas bambas fui descuidadamente para o convés fazer um rizo na mestra sem o cinto de segurança e fui arremessado para trás e graças ao poste de guarda-mancebo, fiquei a bordo, mas com um grande hematoma nas costas devido ao choque. O anjo da guarda teve muito trabalho! 
OK, depois mando o trecho até Richars Bay.
Um abraço a todos,
Newton,Vi e Luca 
 

 

Olá pessoal,
Ainda estamos em Richards Bay. O tempo aqui não é brincadeira, a cada três dias entra uma frente fria com ventos de SW que transforma o mar rapidamente em um turbilhão de ondas contra acorrente das agulhas. Estamos aguardando uma boa janela para seguirmos para Durban. Visitamos o parque Uhluhlwe-Umfulosi e vimos quase todos os tipos de animais selvagens da África, faltando infelizmente os leões que fizeram greve e não apareceram para a gente. Tivemos alguns momentos de emoção quando atravessávamos uma ponte e vimos um elefante próximo. Estávamos filmando tudo  e de repente surgiu um grande elefante do meio do mato e veio em direção do nosso carro. Engatei a ré e não pude sair de imediato por que havia um outro carro atrás. O pânico quase se instalara a bordo com uma mistura de espanhol, alemão e português gritando ao mesmo tempo (estávamos dividindo as
despesas com o casal  do veleiro Ela,Wolfgang,alemão e Jocilene, uma Venezuelana ). Finalmente pudemos sair rápido daquele lugar e ficamos observando o bicho que apenas queria passar pela ponte e nós estávamos no caminho dele. Dormimos em um acampamento muito bonito com a companhia de antílopes, impalas, gnus, zebras e búfalos em um clima muito holliwoodiano, parecendo que estávamos em um set de filmagem daqueles filmes antigos de safári.
No retorno, passamos em outro parque, o Sant Lucia wet park, onde vimos muitos crocodilos e hipopótamos na foz do rio e relaxamos sob a sombra das arvores observando aquela cena incomum para nós. Realmente uma experiência impar. Retornamos felizes e mal chegamos já estávamos vendo as fotos daquele safári moderno que fizemos.
É isso aí,
Logo enviaremos mais notícias.
Um abraço,
Newton,Vi e Luca
em 14 de dezembro de 2005

 

 

Olá pessoal,
surgiu uma boa janela de tempo por aqui e nós aproveitamos para seguirmos viagem para Durban. Aqui temos marina de graça por duas semanas e clube também. internet muito mais fácil e deveremos manter contato mais freqüentes. a velejada foi um pouco estressante somente por causa dos navios que sobem a costa muito próximo ao continente e em grande quantidade. o clima foi perfeito. Talvez vamos ficar por aqui para o natal e ano novo.
Um abraço a todos,
Newton,Vi e Luca
em 16 de dezembro de 2005
 

 

Maputo a Richards Bay (dezembro 2005)

A ilha de Inhaca perto de Maputo é bonita e bastante explorada pelo turismo, em outras palavras, um pouco cara em relação a Inhabame. Logo que cheguei em terra veio a autoridade portuária solicitando os papéis de entrada,visto etc. Como sabia que por aqui é muito comum os preços altos das taxas, comecei a conversar com ele  em português e falei que era brasileiro e imediatamente a conversa derivou para carnaval, futebol, mulheres, etc e no final com apenas 10 dólares pudemos ficar e sem as outras taxas. Soubemos depois que um americano pagou 100 somente pelo visto. 1x0 para os brasucas.
Saímos para Richards bay dia 28 de dezembro de 2005 com a maré descendo. Logo depois pegamos uma correntada contra que durou a noite inteira fazendo somente 2-3 nós no motor e vela. No final das 24 horas da saída, estávamos apenas a 72 milhas de Inhaca e o sudoeste estava previsto para a quarta feira, 30-12. durante o dia já estávamos com corrente favorável e ventos fracos , mas conseguíamos manter 5-6 nós e era imperativo que mantivéssemos a média. Durante a noite o barco começou a andar muito com o mesmo vento, já íamos a 7-8 nós o que não foi ruim pois pudemos chegar em Richards bay dia 30-12 as 15 horas. Ufa! Ainda bem pois as 18 horas o SW bateu forte em 40 nós, mas o Hippo já bem amarrado no porto que aqui é totalmente de graça.
A Primeira etapa da costa brava estava cumprida agora bastava aguardar uma janela para Durban a apenas 85 milhas daqui. Essa velejada é muito tranqüila, desde que se espere  uma  boa janela. A contra corrente que pegamos na saída de Maputo é muito comum e a corrente das agulhas nesse trecho fica muito ao sul próximo ao cabo Santa Lucia, portanto não se deve contar muito com a corrente no primeiro dia até a metade do segundo. O porto de Richards bay  é muito bem protegido para todos os ventos, mas a entrada em vento NE é no mínimo emocionante com a arrebentação das ondas no canal. Existe duas marinas privadas com preços acessíveis e o cais público que é livre de taxas. O supermercado, bancos e grandes shoppings estão no centro da cidade que fica distante e é necessário pegar um táxi. Sempre se pode dividir com outros barcos e não fica caro.
É isso ai, logo envio Richards a Durban (um pouquinho atrasado rs) mas pode ser útil.
Um abraço,
Newton,Vi e Luca

 

 

Durban a East London (em 03 de janeiro de 2006)

Ficamos duas semanas em Durban aguardando o momento mais propício de descermos a costa em direção a Cape Town. Durban tem os defeitos das grandes cidades, sendo superpopulosa trazendo com isso violência e desemprego e ainda com resquícios de preconceitos raciais de ambos os lados . Ficamos na marina do centro e entramos como sócios temporário do Iate Clube Natal livre de qualquer taxa. Os iatistas são bem vindos. Dia 29 de dezembro surgiu uma janela de 48 horas e resolvemos,junto com outros 11 barcos, seguir viagem.
Acordamos bem cedo e o vento de SW contra ainda soprava com 15-20 nós e chovia fino como a garoa paulista. Ficamos um pouco desanimados pois seria duro ficar lá fora tomando porrada do mar até o vento virar. Não deu outra. Saímos as 09 horas com motor e mestra e colocamos um rumo SSE, que era menos desconfortável e só conseguíamos 2-3 nós de velocidade. Os barcos grandes, éramos o caçula, seguiram na frente e em pouco tempo sumiram no horizonte. Fomos ficando dentro da plataforma até que o vento mudou para SE e seguimos para a linha de 200 metros de profundidade onde a corrente é mais forte. Infelizmente, como ventou muito de SW até o dia anterior, a corrente foi jogada para mais fora e mais ao sul de onde estávamos e por isso continuamos sem tirar proveito da dela até as 19 horas. Após isso começamos a velejar a 4-5 nós e ficamos assim até a madrugada quando encontramos a corrente principal. Ai então o barco disparou em 8-9 nós e o vento rondou para o E-NE e ia aumentando gradativamente. Primeiro 10, 15, 20 nós. Quando
amanheceu, já estava em 25 nós e o mar começou a ficar grande e desconfortável. Finalmente estabilizou em 30-35 ns com o mar confuso e com ondas quebrando nas cristas. Fazíamos `surf' fantásticos, uma vez atingimos 18 nós!!! Começava a ficar perigoso. Reduzimos bem a genoa e retiramos totalmente a mestra e ficamos assistindo meio "descabriados" aquele espetáculo. O barco se comportou muito bem e o "Rocha", nosso piloto de vento trabalhava divinamente.
Recuperamos logo o tempo perdido do dia anterior e quando anoitecia já estávamos saindo da corrente em direção a EL. Não pense que é fácil sair dela. O mar na transição fica totalmente ensandecido e o barco fica apontado para fora, mas andando de lado com o predomínio da corrente que por aqui chega a 6 nós! Finalmente conseguimos sair e ficamos impressionado como o mar fica bem mais calmo. A velocidade caiu para 6-7 nós e assim fomos até chegarmos em East London onde
nos amaramos no cais. Mesmo com o atraso inicial fizemos 165 milhas em 18 horas. Logo chegaram mais dois barcos e ficaram no lado do Hippo que parecia um pastel amassado. O problema desse porto é que quando a maré baixa expõe os pilares e o barco fica entrando por baixo do cais e danifica os postes do guarda-mancebo. A solução é usar tábuas nas defensas para evitar o problema.
A cidade fica próximo ao porto a aprox. 20 minutos de caminhada. Fizemos a compra, ficamos no barzinho a beira do cais onde teve caraoquê e churrasco na virada do ano. Estávamos muito cansados e com muita saudades do Brasil e por isso fomos cedo para a cama.
OK, um feliz 2006 para todos.
Newton,Vi e Luca
 

 

Port Elizabeth a Mossel Bay

A estadia em Port  Elizabeth foi de apenas dois dias porque logo surgiu uma janela de 48 horas de vento SE que agora é favorável . A cidade fica um pouco distante da marina e o Hippo ficou amarrado no cais com grandes pneus como defensas deixando sua marca preta em todo o casco. No porto entra um swell constante que faz o barco entrar por baixo dos pneus e entortar os postes do guarda-mancebo, fazendo um ruído muito incômodo que não nos deixava dormir. No dia seguinte surgiu uma vaga na marina e pudemos ficar mais confortáveis pagando 48 rands por ia (8usd). Fomos ao supermercado mais próximo, o Spar, o mais caro da África pois não tínhamos outra opção a não  ser pegando um táxi que inviabilizaria pelo preço. Abastecemos e aprontamos tudo.
Saímos 04-01-06 as 11 horas motorando até fora do porto e tivemos que voltar porque tinha esquecido de devolver as chaves do clube cujo deposito de 100 rands seria perdido caso não voltássemos. 12:00 estávamos fora do porto novamente so que com o vento na cara e aumentando fazendo o Hippo pular feito cabrito nas ondas. 15 horas ainda não tínhamos dobrado o cabo recife a apenas 07 milhas do porto.
O mar agora já bem grandinho como é comum em "cabos" freava o barco que ficava completamente parado no gps. Mudei um pouco o rumo para ajudar um pouco com a vela e o barco agora encontrou fôlego e partiu a dar porrada nas ondas. Nós embaixo do "dog house" ficávamos assistindo com um aperto no coração aquela briga desigual, mas o Hippo foi ganhando águas profundas e as ondas ficavam maiores mas sem quebrar muito. Já tínhamos vencido o cabo e agora íamos a 7 nós no rumo oeste. O vento aumentou muito e rondou para sul. Reduzimos os panos e seguíamos em disparada quando percebi que havia água abaixo dos paineiros. Revirei tudo e descobrir que a água estava entrando pelo orifício de saída da bomba de porão toda vez que uma onda mais ousada estourava no convés. Estávamos a apenas 10 millhas de Port S. Francis  e a 45 milhas de Port Elizabth e mudamos o rumo para lá para passarmos a noite. Liguei para Fred, o homem da meteorologia e confirmei que o vento continuaria SSE de 25 a 30 com melhora pela manhã. A marina estava fechada e com pouco calado na hora que chegamos (23hs) e ficamos no pontoon dos pesqueiros. Bem cedinho saímos com vento fraco de 15 nós de SE. Perfeito. Íamos com o moral alto e velejando magnificamente até 22 horas quando de repente ouvimos pelo VHF um alarme de tempestade de SW para o cabo das agulhas e vindo em direção a Mossel Bay, nosso destino em 2 horas.
Estávamos a 60 milhas do destino e a aproximadamente 11-12 horas com a velocidade que fazíamos. Foi um choque para mim, pois tinha ouvido várias vezes sobre mudanças rápidas de clima nessa região e fiquei realmente muito nervoso com a possibilidade de pegar uma tempestade de SW. Liguei para Cape Town rádio e confirmei o "gale warning", discutimos o que seria melhor de fazer, enfrentar a tempestade que poderia não nos alcançar ou procurar abrigo em uma baia que estava a dezoito milhas ao NW. Decidimos pela segunda opção que parecia a melhor e fomos para Platenberg bay onde ancoramos as 12:30. acontece que essa baia era desprotegida para ventos de S-SE e entrava um swell insuportável e a tal tempestade de SW não chegou.
Resultado: para ficar um pouco mais seguro, cometi o erro de soltar 35 metros de corrente mais 20 de cabo. O barco ficou bem ancorado, mas as 4:30 da matina ouço um estalo e dou um salto e vejo que o cabo partiu e o barco ia bem rápido para as pedras. Acordei Viviane com um grito para podermos ligar o motor. Para quem não conhece o Hippo, para ligar o motor é necessário mergulhar atrás do motor, abrir o registro do cano de descarga; enquanto isso eu faço o pré-aquecimento para só depois desse ritual poder dar partida. Imaginem minha aflição vendo as pedras afiadas cada vez mais perto e sem poder ligar o motor imediatamente. Felizmente tudo correu bem e eu tinha colocado um arinque na ancora e depois do susto bastou umas três voltas para podermos encontrá-lo e içarmos a ancora. Liguei novamente para Fred (já era 6:30) e ele me informou que o temporal de SW só chegaria em Mossel Bay as 20 horas. Não pensei duas vezes, motor e vela para manter a velocidade acima de 6 nós e finalmente chegamos em Mossel Bay  dia 06-01 as 18 horas com o vento já de SW, mas fraco.
Quando amarramos o barco no cais o pau comeu, mas já estávamos bem seguros e felizes com o desfecho da viagem. Essa perna foi um pouco complicada por dois fatores: primeiro pegamos uma costal low que incrementou o vento de 20 que era o esperado para 30 nós e mudou de SE para S. Isso fez com que a viagem ficasse muito desconfortável e o barco apanhou muito com as ondas pela bochecha, alem da água que entrou pelo orifício da bomba. Resolvemos parar em Port S. Francis para dar uma arrumada no barco e isso causou um atraso de 10 horas no cronograma. Segundo o serviço de meteorologia nos deu uma previsão um pouco precipitada de tempestade que não ocorreu e nos fez arribar para Platemberg Bay desprotegida para S-SE.
Como o vento não mudou para SW, ficamos recebendo o swell ancorados, quebrando na nossa proa. Ai resolvi soltar mais cabo que culminou  arrebentando com o atrito na ferragem de proa. Quase fomos a pique.
Normalmente tenho 60 metros de corrente que emendo quando está previsto ancoragem em lugares difíceis ou profundos, mas normalmente só uso 35 metros mais 50 metros de cabo de 01 polegada devido ao excesso de peso que fica na proa somado com o dingue. Naquela situação de ondas resolvi, equivocadamente, liberar cabo ao invés de emendar a corrente e isso foi determinante pois o roçar constante do cabo com a ferragem de proa cortou o cabo e deu no que deu. Afinal tudo bem quando acaba bem e continuamos nossa viagem até o destino que era Mossel Bay.
Logo envio o trecho até Cape Town
Um abraço,
Newton,Vi e Luca
 

 

East London a Port Elizabeth (janeiro de 2006)

Passamos o reveillon em EL juntos com o Ailisaa, (finlandês), O poli (autraliano) Good Hope (norueguês), Manage (francês) e um Japonês americano com um Beneteau que esta a quatro semanas aguardando janela boa. Luca brincava o tempo todo com o amigo Michael do barco francês com direito a firework e tudo. O barzinho no cais tinha churrasqueira self-service e um grupo de pessoas da cidade que faziam uma algazarra com um karaoquê. No dia seguinte, após uma conversa com o Fred ,que fornece os boletim meteorológico, resolvemos seguir para Port Elizabeth com pouco vento e motorando a maior parte do tempo. Saímos as 11 horas do dia 01-01-06 e seguimos direto para a profundidade de 200 metros para tirar proveito da corrente das agulhas. Mesmo sem vento íamos a 7-8 nós no motor. Uma maravilha. O Problema era que tínhamos que sair dela 60 milhas antes do destino e ai a velocidade caiu para 4-5 nós. O que foi perigoso nessa viagem foi a neblina que a partir de 20 hs a neblina forte que impedia a visibilidade a menos de 20 metros. Hippo sem radar, cheio de navios e aquela cerração. Que sufoco! A solução foi emitir mensagens de `securité' para alertar os navios da redondeza. Por duas vezes fomos contactado por navios querendo confirmação de nossa posição para tomarem medidas evasivas. Uma verdadeira M.. experiência nova e aterradora, pois ficávamos totalmente impotentes diante daquilo, dependíamos somente das outras embarcações. Não gostei nada dessa situação. Finalmente amanheceu e a cerração diminuiu um pouco e já mais tranqüilos fomos até Port Elizabeth onde chegamos as 15 horas do dia seguinte. O `verdão', nosso motor, trabalhou duro e muito bem e nos trouxe são e salvo pelas 145 milhas.
Ancoramos na marina da cidade por 46 rand o dia (08 USD) e fomos direto para o restaurante do clube deliciar uma "geladinha" para comemorar.
Um abraço a todos,
Newton,Vi e Luca
 

 

Hippocampus em Cape Town (Quinta 12 de Jan de 2006)

Chegamos em Cape Town. Passamos pelo cabo das agulhas,cabo das tormentas e chegamos são e salvos.
esse Hippocampus...
logo mando mais noticias, pois agora vou para a cerveja de boas vindas.
Newton,Vi e Luca