A preservação
do meio ambiente está na ordem do dia e na boca de todos que fazem questão
de serem “politicamente corretos”. A mídia, os políticos, as ONGs, os
militantes de plantão, todos tiram casquinha nesse tema visando a
auto-promoção (e a participação em congressos com todas as despesas pagas
em lugares exóticos) e muito pouco se faz realmente de prático.
Longe do
discurso e próxima da prática, a atividade de cruzeiro a vela esbanja
pragmatismo e, impulsionada pela necessidade absoluta da economia de
recursos escassos, pode reivindicar o título de “lazer verde”.
Vamos começar
pelo uso da água doce. Preciosidade em qualquer veleiro de cruzeiro, o seu
consumo é controlado pelo capitão com o zelo de um Ministro da Economia.
As bombas de pé permitem um gasto mínimo e as elétricas, quando existem,
normalmente emitem um ruído logo identificado por todos a bordo, o que
ajuda a constranger o “gastador”. A louça é lavada com água salgada e
depois enxaguada com a água doce. Os banhos pessoais adotam o mesmo
procedimento: lava-se com água salgada e enxágua-se com água doce. Usa-se
sabão líquido que faz espuma com mais facilidade com a água salgada. O
condicionador (que precisa de uma quantidade enorme de água para enxaguar)
é substituído pelos cremes para pentear aplicados depois do banho, que não
precisam de enxágüe. No vaso sanitário usa-se a água salgada para a
lavagem. Com todos esses cuidados o consumo per capita diário é
muito baixo, em torno dos 10 litros. Nem vale a pena comparar esse número
com os gastos domésticos urbanos (aproximadamente 200 litros por pessoa).
No item
“energia”, renovável ou não, estamos muitos anos na vanguarda. Há 30 anos,
já se usava painéis solares nos veleiros. Geradores eólicos e hélices
rebocadas que movimentam dínamos são outros equipamentos usuais. Os
veleiros usam ainda alternadores potentes com reguladores inteligentes,
capazes de maximizar a geração de energia através do consumo de
combustível derivado de petróleo. Toda a energia gerada é acumulada em
baterias cada vez mais sofisticadas, capazes de reduzir ao máximo as
perdas. Na hora de consumir, novamente entra a figura repressiva do
capitão. Usa-se lâmpadas fluorescentes e eletrônicas em detrimento das
convencionais de resistência. A iluminação é sempre localizada. A nova
sensação são as luminárias de LEDs, extremamente econômicas e duráveis.
Estão sendo usadas inclusive para as luzes de navegação. Os instrumentos
usam telas de cristal líquido de baixo consumo e, geralmente, possuem
dispositivo de desligamento automático das respectivas iluminações e de
bipes e outros dispositivos consumidores de energia. Alguns possuem até a
opção de ligar e desligar automaticamente em determinados intervalos de
tempo. Outro procedimento usual é aproveitar a hora que o motor está
ligado gerando energia para executar tarefas que demandam um gasto maior.
Cuidados extras com o tamanho dos fios e com a integridade dos contatos e
conexões refletem uma preocupação incomum com as perdas inerentes a
instalações mal executadas. Quantos de nós temos o mesmo cuidado nas
nossas casas?
Na cozinha mais
uma goleada: os grãos e cereais são armazenados em embalagens PET de
refrigerante o que garante um enorme tempo de estocagem. A comida é
geralmente feita em porções pré-estabelecidas de forma a não haver sobras
(e de preferência também não haver faltas). O cruzeirista comum, ao
contrário do que se pensa, não consome somente enlatados. Com a facilidade
das geladeiras elétricas cada vez mais usadas nas embarcações, a comida
passou a ser muito parecida com a de qualquer residência. Mas com uma
diferença: não se pode fazer grandes estoques e, por isso, o desperdício é
muito menor. Muitas refeições são feitas em somente uma panela para poupar
tempo e combustível (e, de quebra, água e sabão para lavar a dita cuja).
Usa-se muito também a panela de pressão que proporciona uma enorme
economia de gás.
E finalmente,
no item propulsão somos imbatíveis. Exceto pelos carrinhos experimentais
movidos à energia solar, o veleiro que usa a energia dos ventos para se
locomover é o único meio de transporte completamente ecológico. Claro que
é o mais ineficiente, mas quem tem pressa contribui mais para o
aquecimento global.