Companheiros do Vento ou A Vida a Bordo que Deu Certo

 

 

Sempre pensara em ir

 caminho do mar.

 Para os bichos e rios

 Nascer já é caminhar.

 Eu não sei o que os rios

 têm de homem do mar;

 Sei que se sente o mesmo

 E exigente chamar

 

 João Cabral de Melo Neto

 

 

 

Qual o resultado da união de um casal e um filho pequeno, muita determinação e habilidade, respeito e comunhão com a natureza, humildade e planejamento, tudo isso tendo como cenário de fundo o litoral brasileiro? O catamarã Polinésio.

Tarcísio, Dandô e Pedro saíram de Recife em outubro de 2001 com o projeto de navegar até Ilhabela (SP) em seu pequeno catamarã de 21 pés, construído de forma amadora a partir de um projeto de James Wharram, o Tiki 21.

A construção do PolinésioO veleiro muito bem construído em madeira, fibra e epóxi, possui duas pequenas cabines e um arranjo tipo “barraca” armada na área central quando estão parados num porto. Ao longo do tempo e de uma vida a bordo que foi obrigada a se acostumar com a falta de espaço e restrições de peso, foi criado um sem número de soluções inteligentes e criativas para as tarefas domésticas mais simples como cozinhar, lavar roupa ou estudar.

A primeira vez que o catamarã içou as velas, antes de entrar na águaNesses 3 anos de navegação visitaram Maceió, entraram no Rio São Francisco até Penedo, Salvador, Morro de São Paulo, Camamu, Itacaré, Ilhéus, Santo André, Porto Seguro, Corumbáu, Cumuruxatiba, Caravelas, Vitória, Macaé, Búzios, Arraial do Cabo e chegaram ao Rio de Janeiro no final de dezembro de 2004. Por conta do baixo calado do veleiro (40 centímetros), puderam visitar barras de pequenos rios, praias escondidas, mangues intocados ao longo do nosso litoral nordeste e sudeste, um privilégio para poucos.

A família em Coroa Vermelha, BahiaConviveram com comunidades isoladas e acumularam uma enorme experiência de vida. O pequeno Pedro (8 anos) representa muito bem o resultado dessa experiência: estudando com o auxílio dos pais e usando o material didático fornecido por escolas oficiais, o Pedro apresenta um desembaraço acima da média, resultado do reforço das “aulas” diárias ministradas gratuitamente pela natureza. Ajuda na navegação, na mareação das velas, nas ancoragens e é muito corajoso e responsável. Todo o tempo está recebendo lições de economia de recursos naturais, ecologia, preservação do meio ambiente, geografia.

Hora de estudo...A renda da família é garantida pela execução de trabalhos de marcenaria e fibra de vidro em embarcações e, sendo pouca e incerta, é suficiente pelo cultivo de hábitos simples e de uma vida cujas prioridades estão muito distantes das adotadas pela maioria das famílias urbanas. E além de todas as habilidades marinheiras e de construtor, o capitão Tarcísio pinta minuciosamente pequenos quadros com paisagens litorâneas e, sob encomenda, com a silhueta do veleiro do cliente. Oferece ainda um serviço Em Macaé, uma parada para "encher" o caixapersonalizado de construção “em domicílio” de embarcações e peças para veleiros (mastros, retrancas, rodas de leme) pois devido a facilidade de ancoragem, o seu veleiro-casa pode permanecer próximo ao local da construção ou reforma pelo tempo necessário. Foi o que aconteceu em Macaé no Rio de Janeiro. O Tarcísio iniciou a reforma de um veleiro de 23 pés que durou exatos 12 meses e o Polinésio ficou todo este tempo ancorado no rio Macaé, bem próximo do estaleiro.

 

Por onde passa, a família Polinésio coleciona amizade e simpatia, com seu jeito simples e despojado. A sua história impressiona a todos que a conhecem, alguns achando "uma loucura", outros considerando-os "muito corajosos", outros ainda, com uma pontinha de inveja, reconhecendo que a felicidade cabe sim numa pequena casa flutuante (e auto-móvel) de 21 pés.

 

 

Conheça a história completa da família Polinésio em www.veleiro.net/polinesio