Diário 14 – Visita ao Rio de Janeiro e Salvador

01/11/2000 a 18/1/2001

Alo impacientes acompanhantes deste diário. Saímos do ar novamente, em parte graças a placa (filha da) mãe do lepitopi que deu tilt, mas já estamos de volta com algumas novidades.

Deveríamos começar do começo, ou seja, do ponto onde parou nosso ultimo diário, narrando a aventura como tripulantes na entrega da escuna Valtur Bahia, empreitada completada com sucesso entre agosto e outubro de 2000. Mas isto foi no século passado e além do mais, essa estória está na Revista Náutica (março/2001) ainda nas bancas. Apenas acrescentamos que apesar dos percalços valeu muito a pena.

Depois de 77 dias negociando cada uma das 5.403 milhas que fizemos entre Salvador e Trapani na Sicília, de carro ate' Palermo, mais dois aviões (um ate' Milão e outro ate' o Rio) e em menos de 20 horas desembarcamos no Aeroporto do Galeão, hoje Tom Jobim. Foi meio assustador, mas fomos salvos pelo Ricardinho que largou tudo que tinha para fazer e ficou plantado no aeroporto adivinhando em que vôo viríamos.

Já' no chão, fomos direto para o Clube São Cristóvão, onde passamos 72 meses de nossas vidas construindo o MaraCatu e onde hoje o Ricardinho, não satisfeito com os oito anos gastos na construção do Seachegue, esta' investindo outro tanto no seu novo barco, agora um 36 pés, também projeto do escritório do Cabinho. Pó de fibra no ar, cheiro forte de resina, perfume de cedro quando se corta o compensado naval... Para tudo ficar igual aos velhos tempos combinamos um churrasco para o dia do desmolde da forma, claro que com Manolo pilotando a churrasqueira.

Passamos uma semana na Cidade Maravilhosa com agenda cheia, dormindo pouco, meio zonzos mas felizes por reencontrar todos.

No início de novembro retornamos a Salvador e encontramos o MaraCatu em ordem, apenas um pouco triste e muito saudoso, com o fundo tomado por algas e tombado pelo IBAMA. Também estávamos com saudades de casa. Para compensar tanto tempo longe, investimos uns 15 dias de trabalho e demos um bom trato nele: lavagem por dentro e por fora, instalação de um novo "dog house" feito com muita competência pela equipe do Bailly, troca da bucha do eixo do motor e é claro, três demãos de tinta anti-incrustante no fundo do bichinho.

Nesse meio tempo íamos consolidando algumas amizades no Aratu Iate Clube. A varanda com o bar e restaurante está sempre cheia. Os sócios, essencialmente velejadores já que o estatuto impõe restrições a barcos a motor, freqüentam efetivamente o clube e nos finais de semana dá gosto de ver aquela montoeira de velas ao vento. Aqui a cozinha do MaraCatu fica fechada já que o Wilson, responsável pelo restaurante, sempre serve uma comida BBB (boa, bonita e barata), a conta sempre é pendurada no prego mais alto e o churrasco feito por ele no happy hour das sextas feiras está cada dia mais gostoso e famoso.

Jornal, MaraCatu, Taai-Fung II e Yahgan em SalvadorAos poucos a flotilha foi se juntando, primeiro Helinho do Mantra, depois João do Yahgan e Ivan do Taai-Fung. Juntos preparamos a recepção para o irmão gêmeo mais ilustre do MaraCatu, o veleiro Jornal. Vilmar e Gina, atuais proprietários do Jornal, estavam fechando uma circunavegação depois de mais de 5 anos navegando mundo afora. Foi o menor barco brasileiro e o único com projeto nacional a dar a volta ao mundo.

Mara e Gina descobriram uma costureira barateira e de mão cheia aqui na Ilha de São Joao e entre idas e vindas a lojas de retalho de lycra, provas e reprovas, andam faceiras nos novos modelitos de biquínis, sainhas e saídas de praia - tudo combinando. Agora a flotilha conta com 4 "Ajuricabenses", dois deles com as linhas d’água um pouco mais afundadas.

Deixamos um pouco o nosso lado cruzeirista e fomos participar do encerramento do Campeonato Baiano de Vela Oceânica. É claro que não foi com o MaraCatu, pois ele é um cruzeirão e, como Hélio, anda meio pesado. Participamos no Vmax2, um Multimar 32' do chinês-baiano Kan Chu.

Foi uma experiência interessante, uma série de regatas barla-sota na boca da barra com o barco andando muito. A tripulação era formada por nós, Vilmar, Gina e Helinho, todos cruzeiristas e segundo o Skipper, meio passados. Mas arrasamos assim mesmo. Triste foi ser desclassificado por excesso de peso (regra IMS), pois na pesagem da tripulação, alem de Mara mentir no peso, Helinho e Kan resolveram levar as namoradas, já que não acreditaram na garra da tripulação.

Depois de tantos eventos tão diferentes da nossa rotina, saímos com a flotilha Ajuricaba e com os baianos do Anni e do Borimbora para curtir um cruzeiro de dez dias pelo rio Paraguaçu. Como é bom simplesmente cruzeirar em tão boa companhia. Anni que só podia ficar no fim de semana, prepara a bordo uma super paelha e convida todos para o almoço. Aproveitamos estes dias para conversar com Vilmar e Gina e absorver um pouco da experiência deles.

Próximo ao Natal retornamos ao Aratu para participar da festa de confraternização dos sócios na Ilha do Frade, numa enseada que eles chamam de Loreto. Era a primeira vez que uma festa deste tipo acontecia por aqui. Se nossa amiga Susy, responsável pelo Natal dos Velejadores de Angra estivesse presente, garanto que até o Papai Noel apareceria. Mesmo sem Papai Noel a festa foi um sucesso. Velejada gostosa, muitos barcos na ancoragem, um belo churrasco comandado pelo Wilson, música ao vivo, muito sol e cerveja. O ponto alto foi a palestra da tripulação do Jornal sobre a circunavegação.

Ainda como fruto da viagem para a Itália, fomos curtir uma semana de mordomia total no Resort Valtur Nas Rocas, na ilha Rasa em Búzios. O dono da escuna, também dono de vários resorts do tipo do Mediterrané, ofereceu para cada tripulante este brinde extra. Ficamos num chalé enorme virado pro leste, com uma varandinha e um tremendo visual que curtíamos até da cama. Hotel vazio, tínhamos toda a equipe praticamente só para nós e muitas atividades a fazer: velejar de laser e dingue, caminhada em volta da ilha, nadar na piscina e no mar, arco e flecha, hidroginástica, alongamento, muita comida regada a vinho tinto Italiano (Hélio já achou parte dos 5 quilos perdidos na viagem da escuna) e sempre encerrávamos a noite tentando dançar "o tigrão vai te ensinar" na super animada boate.

Aproveitando a proximidade com Macaé, fomos visitar nosso amigo Fausto "Furacão" e ver o catamarã que ele projetou e está construindo. Um bicho enorme de 63 pés. Navegamos em sonho com ele durante os 2 dias que ficamos por lá.

Aproveitamos também para passar o Natal e Ano Novo no Rio com a família e amigos. Angra dos Reis não podia ficar de fora e num fim de semana chuvoso (não podia ser diferente) demos uma esticadinha até lá. A surpresa foi encontrar Olmar e Ana do Papaleguas que deram uma palestra sobre as aventuras da Regata do Descobrimento entre Lisboa e Rio.

No início de janeiro retornamos ao Aratu enquanto João e Ivan permaneceram mais uns dias no Rio, pois estavam decidindo que rumo tomar. Infelizmente a decisão deles foi rumar para o sul e retornar ao Rio. Ficamos tristes, pois além de grandes amigos temos sido companheiros constantes nos últimos 13 anos. Vamos sentir muito a falta deles.

Foi nesse momento que o Helinho do veleiro Mantra, que como Hélio é paraibano, fotógrafo, mora a bordo, nasceu também em fevereiro e na mesma maternidade, nos arrastou para seu projeto. Ele está levantando detalhadamente a costa nordeste do Brasil para produzir um roteiro para os navegantes (Cruising Guide).

Desta forma, estamos visitando cada lugarzinho do nosso litoral nordeste e verificando se o acesso é seguro e se é um bom ancoradouro. Se for, fuçamos todas as informações necessárias ao roteiro. Para que os Hélios possam registrar as melhores imagens do lugar, sempre fazemos boas caminhadas e visitamos todas as atrações turísticas, incluindo obviamente todos os bares para escolhermos o melhor deles. As agências de turismo e prefeituras locais tem dado apoio ao projeto e sempre conseguimos transporte ou acesso aos locais mais difíceis. De quebra, a tripulação do MaraCatu esta' preparando matérias dos lugares mais bacanas e ainda pouco freqüentados por cruzeiristas. Nada mal, hein? Vocês já' ouviram falar de Itararé, Tremembé', Garapuá, Galeão ou Cairu? Aguardem ...

Sendo assim, no inicio de janeiro de 2001, seguimos com o Mantra para Itacaré', mas este será o próximo diário.

Ah sim, enquanto estivermos na Bahia (e parece que vamos ficar mais um tempo), dispomos de um celular de numero (71) 9931-1715. Dependendo do lugar da ancoragem temos sinal e será ótimo falar de viva voz com vocês.

Bons ventos,

Mara e Hélio