GLOSSÁRIO

 

Para você não ficar boiando e poder acompanhar nossa aventura, tome um Dramin, vista o colete salva-vidas e conheça alguns dos termos náuticos usados nos Diários de Bordo do MaraCatu

 

Tentando não escrever uma coisa monótona de ler, quando possível, fiz analogia com os termos usados no dia-a-dia dos terráqueos, ou das pessoas que vivem em terra

 

Esse glossário não poderia ter sido elaborado sem a ajuda dos amigos velejadores, do ócio, do Dicionário Aurélio e, principalmente, sem a complacência de minha querida comandante

 

Dica: Se, quando lendo um verbete (por exemplo Adriça), for necessário clicar em outro (por exemplo Cabo), para retornar, clique na seta para a esquerda lá em cima, embaixo de arquivo (ou file), no menu do seu navegador

A

 

Adriça é um cabo utilizado para içar determinadas velas, bandeira ou flâmula; o mesmo que driça. As adriças têm a capacidade de se enroscar no topo do mastro nos piores momentos, forçando alguém da tripulação - normalmente o menos graduado - a subir lá em cima e ficar pendulando até resolver o problema

 

Aduchar pode ser um jorro de água dirigido sobre o corpo de alguém, com fins terapêuticos ou higiênicos. Mas em nautiquês é arrumar um cabo de modo que ocupe menos espaço e, principalmente, não enrosque na perna do marujo quando tiver de ser usado; também é dobrar uma vela quando fora de uso

 

Amantilho é um cabo que agüenta para cima a extremidade de ré da retranca da vela grande ou da carangueja. Normalmente é confundido com a adriça da vela grande e quando folgado por engano, faz com que a retranca caia na cabeça de algum marujo desatento

 

Ancorar é lançar uma âncora ao fundo, para com ela manter a embarcação parada; o mesmo que lançar ferro. Também se pode ancorar numa mesa de bar

 

Apoitar é prender as amarras de um barco a um bloco de concreto, ou qualquer coisa pesada (pode ser aquele motor de popa que não funciona), submersa no fundo do mar (veja poita)

 

Arinque pode ser o primo do arenque, aquele peixe abndante no Atlântico Norte. Mas em nautiquês é uma linha que prende uma pequena bóia na âncora para indicar a posição aproximada da mesma quando fundeada

 

Armengue é um conserto provisório que nunca vai ser consertado definitivamente; o mesmo que gambiarra (ou gambi para os íntimos)

 

Asa de pombo pode ser cada um do par de membros emplumados que, nos pombos, constituem os principais órgãos do vôo. Mas em nautiquês é velejar nos ventos folgados, armando a vela grande para um bordo e a genoa, presa ao pau do balão, para o outro lado. Visto de frente, um barco com as velas em asa de pombo parece mais com uma borboleta. Em espanhol se diz: “orelhas de burro”

 

Aterrar pode ser encher de, ou cobrir com, terra. Mas em nautiquês é aproximar-se do litoral, vindo do alto-mar para reconhecimento de determinado trecho da costa. Também pode ser aterrorizar. Esse verbete foi cunhado na época das descobertas, quando os mareantes aterravam aterrorizados em costas nunca dantes navegadas

 

Atracar é prender as amarras de um barco em um píer que pode ser fixo ou flutuante. Os cruzeiristas passam 98,7% do tempo ancorados, apoitados ou atracados

B

 

Balão ou spinnaker é uma vela grande, leve e linda, fabricada de tecido fino,usada nos ventos do través para a popa. A vela balão tem a tendência de se torcer no meio formando um cálice monumental muito difícil de ser desfeito (também pode formar um sutiã, tipo o da Fafá de Belém)

 

Barco a vela “é o meio de transporte mais lento, mais desconfortável e mais caro, mas é o mais belo” (citado por Hélio Magalhães). Aliás, como perguntou Luiz Melodia, você já apagou seu barco a vela?

 

Barlavento é o lado da embarcação voltado para a direção de onde o vento sopra. Nunca jogue farinha por esse lado do barco, principalmente se estiver de roupa de banho e com o corpo lambuzado com óleo de bronzear

 

Batimetria pode ser o aparelho de medições do cinto de utilidades do Batman. Mas em nautiquês é a determinação da profundidade e do relevo do fundo de uma área oceânica, lacustre ou fluvial

 

Biruta pode ser aquele tripulante que não é muito certo do juízo; um tanto maluco. Mas em nautiquês é um aparelho que indica a direção dos ventos, normalmente instalado no tope do mastro

 

Boca pode ser a cavidade na parte inferior da face (ou da cabeça) pela qual os homens e outros animais ingerem os alimentos. As mulheres, por estarem sempre de regime, as usam mais para falar. Mas em nautiquês é a largura (de qualquer seção transversal) do casco da embarcação. A boca máxima do MaraCatu é 3,12 metros

 

Bolinar pode ser procurar contatos voluptuosos, sobretudo em aglomeração de pessoas, em ônibus cheios, no escurinho do cinema; o mesmo que tirar um sarro, xumbregar, amassar. Mas em nautiquês é simplesmente velejar no contra-vento, obviamente com a escota do grande bem tesada

 

Bombordo é o lado esquerdo da embarcação com você olhando da popa para a proa. Como os aviões, cada embarcação, exceto as miúdas, leva por bombordo uma luz encarnada

 

Bordo cada uma das duas partes delimitadas pela linha longitudinal do casco

 

Boreste é o lado direito da embarcação com você olhando da popa para a proa. A Marinha de Guerra do Brasil adotou, em 1884, esse termo em vez de estibordo, para, nas vozes de manobra, evitar confusão com bombordo. Como os aviões, cada embarcação, exceto as miúdas, leva por boreste uma luz verde

 

Botar o pau pode ser aquilo que uma moça de família não deve fazer antes do casamento. Mas em nautiquês é colocar uma barra, normalmente de alumínio e não de pau, para armar o balão ou a vela de proa

 

Bote pode ser o salto da cobra sobre a presa. Mas em nautiquês é uma embarcação menor que o barco, normalmente de borracha e de inflar. O bote de apoio é a pick-up de carga do cruzeirista. No MaraCatu temos um de 2,40 metros com um motor 4 tempos de 5 HP, que batizamos de Unidade Móvel

 

Burro pode ser o primo do cavalo ou uma pessoa com deficiência de QI. Mas em nautiquês é um sistema de cabos que prende a parte de baixo da retranca ao pé do mastro, dando-lhe maior firmeza

C

 

Cabine pode ser uma caixa de vidro com um telefone dentro. Mas em nautiquês é o interior da embarcação, pra onde a tripulação corre quando o pau está comendo

 

Cabo pode ser a patente daquele menino chato do seriado Rin-Tin-Tin. Mas em nautiquês são todos aqueles que, em terra, você chamaria de cordas. Diz-se que as únicas cordas que existem a bordo são a do sino e aquela usada para enforcar quem chama cabo de corda

 

Cabo solteiro pode ser aquele militar que ainda não está sendo utilizado por uma mulher. Mas em nautiquês é um cabo sem aplicação específica, que fica à mão para ser utilizado em qualquer eventualidade

 

Caçar o burro pode ser sair por aí atirando naquele animal, primo da mula, normalmente utilizado como cargueiro. Mas em nautiquês é tesar o cabo que prende a parte de baixo da retranca ao convés

 

Caçar o cabo pode ser perseguir a tiro, ou a laço no caso dos gaúchos, aquele soldado que, por não ser burro, galgou uma patente superior. Mas em nautiquês é tesar qualquer dos cabos de laborar

 

Calado pode ser um tripulante que não fala, ou que fala pouco; silencioso. Mas em nautiquês é quanto um barco precisa de água para boiar. Pelo projeto, o MaraCatu tem 1,65m de calado mas, ao contrário do caixa de bordo, vive aumentando, estando hoje pela casa dos 1,75m

 

Calmaria é quando o vento vai ventar em outro lugar. Esse termo foi criado pelos portugueses na época dos descobrimentos. Era uma forma de Joaquim tentar esfriar a cabeça de Maria quando as caravelas ficavam presas no cinturão sem vento próximo ao Equador. De tanto eles falarem "calma Maria, calma Maria, o vento chega", ao longo dos séculos, por corruptela, virou calmaria

 

Calmaria podre não é quando o vento vai ventar em outro lugar na Baía de Guanabara e sim uma calmaria total, enervante, zero absoluto de vento; calmaria estatelada

 

Cambar é  mudar a disposição das velas de uma embarcação, de sorte que receba o vento pelo outro bordo. Se você, em pé no cockpit, ouvir de relance o timoneiro gritar CAMBEI!, se abaixe o mais rápido que puder. O ato de cambar é uma forma de dar um croque, no sentido não náutico, num tripulante chato

 

Carangueja pode ser a mulher do caranguejo. Mas em nautiquês é uma peça de madeira ou de ferro, que cruza num mastro, ou que se prende por um dos extremos em um mastro. Os lindos saveiros de içar da Bahia usam vela carangueja

 

Carneirinho pode ser um pequeno mamífero, coberto de lã e que faz bééé. Mas em nautiquês é uma vaga ou onda de crista espumosa. Quando o mar está cheio de carneirinhos é hora de, muito sério, dar um rizo nos panos

 

Carta pode ser a carteira de habilitação para os paulistas. Mas em nautiquês é um mapa construído especificamente para a navegação marítima; carta náutica

 

Carvalho pode ser aquela árvore ornamental da família das fagáceas, de rápido crescimento e madeira pardacenta, dura, usada na construção em geral. Mas em nautiquês é um tripulante que está presente em quase todos os barcos de regata. Sempre se escuta em alto e bom som: Carvalho, caça essa genoa. Regula a vela grande Carvalho!

 

Catamarã é um salão enorme construído sob dois cascos esguios, presos lado a lado por fortes travessões.  É o barco ideal para "queimar uma carne" (leia-se churrasco) nos fins de tarde

 

Catraca pode ser uma roda de ferro dentada que entala as pessoas gordas ao entrarem no ônibus. Mas em nautiquês é um sistema de redução – um molinete - que diminui a força imprimida pelas velas quando estão cheias de vento, possibilitando regulá-las

 

Chicote pode ser uma correia de couro comumente usada para castigar animais ou crianças rebeldes. Mas em nautiquês é cada uma das extremidades de cabo, corrente, ou amarra

 

Churrasco é a comida preferida dos cruzeiristas, principalmente quando navegando em flotilha

 

Coçar pode ser esfregar ou roçar (a parte do corpo onde há coceira) com as unhas ou com objeto áspero. Mas em nautiquês é quando um cabo, vela ou toldo desgastou-se pelo atrito com outro objeto

 

Cockpit é o espaço onde, além de pilotar o barco, todos os cabos se embaralham formando um ninho de cobras e onde se leva onda na cara, quando navegando em contra-vento

 

Comandante é o responsável pela embarcação e pelas decisões a bordo, coordena o trabalho da equipe. Num barco, a palavra do comandante é lei. No MaraCatu, Mara é a comandante e eu o co-mandante

 

Comer a bóia pode ser ingerir comida, a refeição ou o rango. Mas em nautiquês é quando o timoneiro não consegue desviar e passa por cima da bóia que demarca a raia da regata. Ato que não traz conseqüências maiores para a embarcação quando é uma bóia de inflar, mas quando é uma baliza de concreto...

 

Convés é toda a parte superior do barco, onde escorregamos quando está molhado e invariavelmente damos topadas

 

Contra-bordo é quando dois (ou mais) barcos são amarrados lado a lado. Geralmente um deles está ancorado ou atracado. Também é a maneira dos baianos que têm catamarã parar na ilha de Itaparica

 

Contra-vento é o inimigo número 1 das velejadas, é quando o vento vem exatamente da direção que se quer seguir, acarretando “o dobro da distância, o triplo do tempo e o quádruplo da paciência” (citado por José Raimundo Zacarias). Diz-se que só os regateiros e os idiotas velejam no contra-vento

 

Costado são as laterais do barco, do convés para baixo (até a linha d’água)

 

Craca é uma praga, um crustácio, que gruda em tudo que vive boiando: no fundo do casco dos barcos, em rochedos (sim, em Angra dos Reis as pedras bóiam!) e até nos corpos dos animais marinhos

 

Croque pode ser aquele catiripapo dado no topo da cabeça com os nós dos dedos, que os mineiros, só porque não têm mar, também chamam de coque ou cocre; pode ser também o pai do croquete. Mas em nautiquês é um bastão comprido com um gancho na ponta usado para puxar pontas de cabos ou para dar um caldo no seu cunhado, que está bebendo demais e estragando o passeio. (contribuição de Luiz Roberto Delphim)

 

Corrico é um método de pesca com isca artificial, em que se deixa uma linha com um anzol especial ser arrastada na popa do barco. O peixe abocanha a isca com o barco em movimento. No MaraCatu, geralmente navegamos corricando mas raramente pegamos algo

 

Cruzeirista é uma classe de gente que vive boiando de porto em porto, conhece lugares fantásticos e pessoas maravilhosas, normalmente vê o pôr-do-sol com um drinque gelado nas mãos, porém, e sempre tem um porém, de vez em quando leva umas porradas do mar grosso, enfrenta um contra-vento fresco e tira turno no quarto do cachorro

 

Cruzeta pode ser uma mulher muito feia. Mas em nautiquês é uma barra de alumínio presa ao mastro (no sentido bordo/bordo) para dar-lhe mais sustentação; forma com o mastro uma cruz. O mastro do MaraCatu, que mede 11,20 metros, possui dois pares de cruzeta

D

 

Dácron é um tipo de tecido sintético à base de poliéster, de grande resistência, usado para fabricar velas.

 

Dar um Rizo pode ser, para o tripulante não muito versado na língua portuguesa,  o ato ou efeito de rir, dar uma risada. Mas em nautiquês é reduzir a área vélica da mestra ou da genoa. Quando se precisa dar um rizo é porque o vento está fresco e a última coisa que a tripulação quer é dar um riso

 

Defensas são bisnagas ou bolas de borracha usadas para defender o casco da embarcação contra danos e avarias nas atracações ou quando amarrado à contra-bordo

 

Dobrar o cabo é passar, deixar para trás, uma ponta de terra que entra pelo mar. Depois que Bartolomeu Dias passou o Cabo da Boa Esperança, por ele ser muito velho, foi cunhada a frase “dobrar o Cabo da Boa Esperança” com o sentido de ultrapassar uma idade já madura, ser velho

E

 

Empopada é velejar com o vento soprando pela popa da embarcação; o mesmo que popa rasa. Na velejada de empopada normalmente se arma as velas em asa de pombo

 

Encarnado é como os marujos chamam a cor vermelha

 

Engaiar pode ser quando a mulher de um nordestino sai com o Ricardão. Mas em nautiquês é enrolar linha, merlim ou arrebém em torno de (um cabo fixo), seguindo-lhe as cochas, a fim de tornar mais lisa a sua superfície, antes de o percintar (não tenho a menor idéia do que é isso, mas não podia deixar de pegar na deixa)

 

Enjoar é uma doença que afeta os cruzeiristas; o mesmo que deitar cargas ao mar, chamar Raul, alimentar os peixinhos. É como nos ensina Marçal Ceccon do Rapunzel. "O enjôo é tão ruim que existe duas fases da situação: na primeira, o cidadão passa tão mal que fica até com medo de morrer; na segunda é pior, porque aí a coisa continua e ele, desesperado, tem medo de não morrer!"

 

Enrrolador de genoa é uma peça de engenharia que facilita a vida dos cruzeiristas. Quando o vento aumenta, o ato de rizar uma genoa com um enrrolador se resume a puxar um simples cabo. O regateiro odeia esse equipamento pois uma vela semi-enrrolada perde seu shape, portanto sua eficiência

 

Escota é um cabo usado para regular as velas. No caso das de proa ele é preso no punho da mesma e vem até o cockpit, um por bombordo e o outro por boreste

 

Escotilhas são pequenas aberturas na cabine, usadas para iluminação e ventilação. Pena que com o tempo, além de luz e vento, elas também deixem a água entrar

 

Espia pode ser uma pessoa que às escondidas observa ou espreita as ações de alguém; espião. Mas em nautiquês é um cabo que se passa de um barco para um cais, uma bóia ou outro barco, a fim de segurá-lo

 

Estais pode ser a segunda pessoa do plural do presente do indicativo do verbo estar. Mas em nautiquês são cabos de aço presos na popa e na proa do convés, que servem para  sustentar o mastro no sentido longitudinal

 

Estourar o Balão pode ser rebentar com estrondo aquelas bolas de inflar que em São Paulo são chamadas de bexiga. Mas em nautiquês é quando o vento aperta e a tripulação demora a baixar o balão, que de vela multicolorida rapidamente se transforma  em tirinhas também coloridas

F

 

Fazer Água pode ser produzir aquele líquido incolor, sem cheiro ou sabor, que congela a 0°C e entra em ebulição a 100°C. Mas em nautiquês, é quando toda a parte líquida do globo terrestre está querendo entrar no barco. Uma embarcação fazendo água de forma incontrolável é a maneira mais rápida de transformar um marujo num náufrago

 

Flotilha é uma forma de velejar em grupo com outros barcos. Normalmente os outros querem ir para onde não lhe interessa e na hora em que você está dormindo. Em compensação, o grupo toma muita cerveja e é sempre uma grande festa

 

Focinho do cabo pode ser a parte da cabeça do militar que compreende boca, ventas e queixo. Mas em nautiquês é a parte mais avançada de uma ponta de terra que entra pelo mar. Nunca use esse termo no sentido não náutico, você pode ir em cana

 

Folgar é o mesmo que afrouxar. Também é o estado de quem não faz nada, vive no ócio, tem uma boa vida, ou seja, um cruzeirista

 

Fortuna pode ser boa sorte, felicidade ou riqueza. Mas em nautiquês diz-se de qualquer dispositivo, engenho ou arranjo feito em condições precárias, para atender uma emergência. Quando você tem que fazer, por exemplo, uma mastreação de fortuna, você não está com sorte ou feliz e, com certeza, estará menos rico

G

 

Gaiato é aquele que, segundo a música, embarca em um navio: “Entrei de gaiato num navio”; é aquele que entra pelo cano ou o sujeito que deu mole no cais e foi pego para tripular uma expedição ao Pólo Norte (contribuição de Luiz Roberto Delphim)

 

Gaiúta pode ser a mulher do gaiato. Mas em nautiquês é uma grande abertura usada como janela na parte superior da cabine, ou como entrada para a mesma. Como as escotilhas, além de luz e vento elas também deixam a água entrar, só que em maior quantidade

 

Gambiarra é uma lâmpada instalada na extremidade dum comprido cabo elétrico para poder ser utilizada numa área relativamente grande. Também tem o mesmo sentido de armengue

 

Garlindéu pode ser um galo pequeno. Mas em nautiquês é uma peça articulada (tipo uma junta omocinética num carro) que une a retranca ao mastro, permitindo que ela se movimente no plano horizontal e vertical; galindréu, garlindréu

 

Guarda-mancebo pode ser um guarda ainda jovem. Mas em nautiquês é o cabo de aço que contorna o convés para proteger todos os tripulantes, não só os mancebos, de caírem no mar

 

Gato pode ser um animal mamífero e carnívoro usado para combate aos ratos de bordo. Mas em nautiquês é um gancho de aço, com um olhal móvel, para ser preso onde for necessário

 

Genoa é a vela fixa ao estai de proa; conforme o tamanho são chamadas de Genoa 1 (maior), Genoa 2 (média) e Genoa 3 (menor). O MaraCatu só tem uma genoa um pouco maior que a 2 e a regulagem do tamanho é feita pelo enrrolador de genoa

 

Guincho pode ser o som agudo e inarticulado emitido quando a gaiúta cai em cima do dedão do pé do gaiato, normalmente seguido de um sonoro PQP. Mas em nautiquês é uma máquina constituída com reduções, movida a eletricidade ou a feijão, empregada a bordo na manobra de cabos, corrente ou amarras. O MaraCatu tem um guincho, movido a feijão, para a corrente da âncora

 

GPS é o instrumento que fez com que qualqer um possa se sentir um Cabral, o Pedro e não o Sacadura, cruzando os mares nunca dantes navegados; fornece a posição da embracação com precisão de alguns metros

I

Investir pode ser aplicar dinheiro em títulos, imóveis, etc., em geral para obter ganho. Mas em nautiquês é entrar por um canal, barra ou porto depois de avistá-los. Investir numa barra não cartografada pode ser um péssimo investimento

J

 

Jaqueísmo é uma doença que ataca os cruzeiristas, principalmente quando estão com os barcos docados. O sintoma é transformar um simples reparo numa interminável lista. Já que o barco está em seco, vamos trocar o reparo da privada. Já que a privada está desmontada, vamos trocar as mangueiras, e assim vai indefinidamente... (inspirado no livro O Nauticômico de Hormiga Negra)

L

 

Lais de guia é  um nó que se dá no chicote de um cabo, formando uma alça ou balso, e serve para encapelá-lo ou para fazer um laço de correr. É o nó mais utilizado na arte da marinharia

 

Lazeira é o espaço que se considera suficiente para a evolução do barco. Sempre que for navegar próximo a uma pedra, não seja leso, dê lazeira!

 

Leme pode ser aquela pequena praia, colada em Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas em nautiquês é uma placa vertical que fica submersa, presa na popa do barco e que serve para lhe dar direção

M

 

Malagueta pode ser uma espécie de pimenta muuuito ardida. Mas em nautiquês é um pino de madeira ou metal que se prende verticalmente em um mastro, antepara, turco, etc., a fim de nele dar-se volta a cabos de laborar

 

Manicaca pode ser a irmã da macaca. Mas em nautiquês é uma peça de metal que encaixa na catraca para girá-la

 

Manilha pode ser um tubo de cerâmica, de concreto ou de aço, que compõe canalizações para escoamento de águas e esgotos. Mas em nautiquês é um acessório constituído por um vergalhão metálico em forma de U, com um pino (cavirão) atravessado entre as duas extremidades, e que se emprega para unir amarra, cabos, corrente, etc.

 

Mão pode ser o segmento terminal de cada membro superior, que se segue ao punho, dotado de grande mobilidade e apurada sensibilidade, e que se destina, sobretudo, à preensão e ao exercício do tato. Acrescida do sufixo –Boba, se destina ao ato de bolinar no sentido não náutico. Mas em nautiquês é um arremate em forma de alça, feito no chicote de um cabo para prendê-lo num cabeço, tope de mastro, haste ou moitão

 

Mar-de-almirante é quando o mar está bonançoso, com boa visibilidade. É a condição ideal para velejar com o possível comprador do seu barco

 

Mar grosso é quando o mar está com grandes vagas ou vagalhões, áspero, escabroso, ou seja, é um mar mal-educado. Daniel, o velho do livro Meu Velho e o Mar, descreve um mar grosso como “as ondas parecem um caminhão jamanta verde, derrapando em sua direção com cinqüenta tinas de creme de barbear em cima”

 

Marola é uma ondulação na superfície do mar; uma onda pequena. Também é aquilo  produzido pelas lanchas, nesse caso no aumentativo, que teimam em passar bem próximo ao barco ancorado exatamente na hora que foi servido aquele espaguete a bolonhesa

 

Marujo é o homem do mar, aquele que conhece seus segredos e, acima de tudo, o respeita

 

Mastro é uma coluna de madeira ou alumínio, na vertical e presa ao convés; possui um encaixe por onde sobe a vela mestra. No MaraCatu o mastro possui uma escada que facilita a subida do tripulante para desenroscar a adriça

 

Mestra pode ser a professorinha tratada com respeito. Mas em nautiquês é a vela principal, fica permanentemente presa ao mastro e à retranca. Ela possui talas horizontais (que lhe dão firmeza) e rizos (que permitem reduzi-la horizontalmente)

 

Milha é uma unidade de distância usada em navegação, igual ao comprimento de um minuto de meridiano terrestre, equivalente a 6.080 pés ou aproximadamente 1.853,18 metros. Para simplificar um pouco, a Conferência Hidrográfica de 1929 fixou seu valor em exatos 1.852 metros

 

Moitão pode ser uma moita grande e abrigada, lugar em terra para onde os marinheiros de todos os tipos correm quando o banheiro do barco pára de funcionar. Mas em nautiquês é um tipo de roldana por onde passam os cabos que controlam as velas (contribuição de Luiz Roberto Delphim)

 

Morder pode ser apertar com os dentes; cortar ou ferir com os dentes. Mas em nautiquês é apertar, engasgar, entalar (um cabo, corrente, amarra)

 

Motorar é viajar de barco usando como propulsão o motor.

N

 

Navegar pode ser ficar a noite toda na frente do computador olhando o conteúdo de um sistema de hipertexto ou de hipermídia, ou seja, mulher pelada nas paginas da Internet. Mas em nautiquês é viajar sobre água, viajar de barco, motorando ou velejando

 

Nave Mãe é o barco que vai na frente da flotilha. No nordeste é chamado de Nave Mainha (contribuição de Artur do veleiro Toatoa)

 

pode ser a articulação das falanges dos dedos. Mas em nautiquês é uma unidade de velocidade, igual a uma milha náutica por hora

O

 

Orçar é navegar a vela num ângulo reduzido com o vento. O mesmo que velejar no contra-vento

P

 

Patesca pode ser a avó do pato. Mas em nautiquês é uma peça usada para dar retorno a cabos - semelhante ao moitão -, tendo na alça uma peça que, quando levantada, deixa passar o cabo pelo seio

 

Pau do balão é uma barra de alumínio, e não de pau, presa perpendicularmente ao mastro (para os bordos) e à ponta do balão ou genoa para deixá-las numa determinada posição

 

pode ser cada uma das duas extremidades inferiores, uma em cada membro inferior. Mas em nautiquês é uma unidade de medida linear anglo-saxônica, de 12 polegadas, equivalente a cerca de 30,48cm do sistema métrico decimal. O MaraCatu tem 29 pés ou 8,80m

 

Perna pode ser cada um dos membros locomotores de certos animais. Mas em nautiquês é o percurso, nunca o menor, que é feito entre dois pontos. Numa regata é o percurso entre duas bóias

 

Perna longa pode ser aquele personagem de história em quadrinhos. Mas em nautiquês é quando o percurso entre dois pontos, ou duas bóias, é longo

 

Pirajá é um aguaceiro, com muito vento, rápido e súbito, comum nos trópicos. Velejar numa área com pirajás é muito cansativo, se não tiver cuidado, você pira e já

 

Plotar é passar as coordenadas – normalmente dadas pelo GPS - para a carta náutica

 

Poita é um corpo pesado que se usa nas pequenas embarcações, em vez de âncora, para fundear. Diz-se também do barco que navega devagar

 

Popa é a parte traseira do barco. Motor de popa foi nomeado assim porque vai na parte de trás do barco

 

Proa é a parte dianteira do barco

 

Púlpito pode ser a tribuna para pregadores, nos templos religiosos. Mas em natiquês é uma armação, normalmente de inox, que serve de proteção na proa e na popa do barco

Q

 

Quarto pode ser aquele compartimento de uma edificação normalmente usado para dormir. Mas em nautiquês é ficar lá fora, faça chuva ou faça sol, vendo se o barco está indo para onde você quer ir ou se algum navio está querendo passar por cima de você. Quando um tripulante vai pro quarto a única coisa que ele não deve fazer é dormir

 

Quarto do cachorro  pode ser aquele compartimento, normalmente construído fora da casa, que serve para o cachorro dormir. Mas em nautiquês é ficar lá fora, faça chuva ou faça sol, vendo se o barco está indo para onde você quer ir ou se algum navio está querendo passar por cima de você. Tudo isso entre 2h e 4h da manhã!

 

Quilha é uma barbatana enorme que vai embaixo do veleiro, com a função de lhe dar estabilidade; também serve para encalhar o veleiro em águas rasas e para meter medo nos tubarões, dando a eles a impressão de que a turma que fica fora da água nada de costas e é sempre maior e mais forte (contribuição de Luiz Roberto Delphim)

R

 

Retranca é uma barra, normalmente de alumínio, presa perpendicularmente na parte inferior do mastro onde se prende a esteira da vela mestra. Ao cambar ela pode bater na cabeça de um tripulante desatento, por isso, em inglês, ela é chamada de boom

 

Ressaca pode ser uma indisposição de quem bebeu, felizmente os sintomas só aparecem depois de passar a bebedeira. Mas em nautiquês é a elevação do nível do mar acompanhado de ondas maiores que as de costume. A ressaca ocorre no litoral, mas estão associadas as correntes de ventos presente em sistemas de baixa pressão atmosférica, geralmente em alto mar. Conhecemos um velejador na Bahia que bebia tanto que não tinha ressaca, tinha maremoto. E quando se excedia chegava a ter tizunami

 

Roda de leme veja timão

S

 

Seio do cabo pode ser a parte do colo feminino que fica a descoberto quando o cabo da Polícia Militar deixa a farda aberta. Mas em nautiquês é a parte mediana de um cabo, que fica entre seus chicotes

 

Sotavento é o lado para onde vai o vento; lado do barco que é usado para fazer xixi no mar. Se o tripulante se enganar e fizer em barlavento ele vai molhar os pés

T

 

Tesar pode ser endurecer, enrijar, enrijecer um membro (oops). Mas em nautiquês é o mesmo que caçar um cabo

 

Timão é uma barra de madeira usada para mudar a direção do leme e, conseqüentemente, do barco; ao contrário da roda de leme, que é mais parecida com um volante de automóvel, se o timão for empurrado para a esquerda o barco vira para a direita, e vice-versa. Ou seja, só funciona quando o timoneiro (o gaiato que timoneia) não está de fogo, e, definitivamente, não funciona se ele é daquelas pessoas que têm de usar relógio só para lembrar qual é o braço esquerdo. No futebol é um certo time que, durante muitos anos navegou, navegou e morreu na praia (contribuição de Luiz Roberto Delphim)

 

Través é o vento que sopra pelos bordos da embarcação; o melhor vento para se velejar

 

Trimarã é um veleiro de muletas (contribuição de Roberto Barros)

 

Timoneiro é aquele que pilota ou timoneia o barco, determinando-lhe a direção. O timoneiro também pode ser costureiro, nesse caso o rumo é feito com um zigue para um bordo e um zague para o outro

 

Tripulação é um conjunto de tripulantes

 

Tripulante pode ser o atleta especializado em salto triplo. Mas em nautiquês é aquele que toca o barco, executando tarefas necessárias como subir âncora, trimar as velas, etc.

V

 

Vela é a arma do negócio, um pedaço de pano que, quando há vento, empurra o barco para a frente e que, quando não há, provoca um irresistível desejo de chorar: “Sem choro nem vela”; a primeira coisa que pega fogo num veleiro (daí o nome). (mais uma contribuição de Luiz Roberto Delphim)

 

Velejador é aquele que exerce a arte de velejar

 

Velejar é a arte de ficar molhado e enjoado enquanto se vai lentamente a lugar nenhum a um custo altíssimo (traduzido livremente da camiseta da amiga Betulia)

 

Vento é o ar em movimento;  o combustível dos barcos à vela

 

Vento de porão é a forma de fazer o barco a vela andar sem vento. O ar é injetado no cilindro que depois de fortemente comprimido, recebe uma injeção de combustível líquido, que se vai inflamando à medida que entra em contato com o ar comprimido aquecido; o mesmo que motor a explosão. Aliás, o seu motor a explosão já explodiu?

 

Vento folgado pode ser um vento confiado, atrevido, metido. Mas em nautiquês é quando o vento entra no barco de través ou de popa. O melhor vento para velejar

 

Vento fresco pode ser o vento efeminado, excessivamente delicado. Mas em nautiquês é quando está ventando pra caralho

Z

 

Zarpar é levantar âncora; fazer-se ao mar; partir em uma viagem de barco

 

 

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