A frase ouvida numa das ruas do centro de Salvador não deixa de ser original apesar de mostrar uma face triste da metrópole super povoada, que atrai cada vez mais pessoas que se dedicam ao sub-emprego, aos pequenos delitos, ao comércio ambulante. Nada diferente de outras cidades grandes do Brasil como o Rio de Janeiro, São Paulo, Recife ou Belo Horizonte. Mas São Salvador tem seu lado muito pitoresco e peculiar. Não estou falando da Salvador moderna da Pituba, Barra, Praia Vermelha. Esses bairros para onde a classe média alta se refugiou em condomínios são bonitos e pasteurizados. Refiro-me a Salvador antiga. Andando pelas ruas do centro, da cidade baixa, do Pelourinho, da Barroquinha, da Baixa do Sapateiro, Politeama, Calçada, Água de Meninos, Ribeira, bairros onde se encontra o típico soteropolitano e tudo que Salvador tem de melhor (e pior também).
Gosto de andar a pé por essas ruas, perscrutando as conversas, observando os hábitos, anotando os termos diferentes. Como o Hotel Por Hora, o Hotel Modelo (que tem uma freguesia profissional), o anúncio do supermercado vendendo "Carne Chupa Molho", o bolo de carimã, de tapioca (que só se encontra por aqui), o bolinho de estudante (que nunca consegui entender porque o chamam desse jeito), o cartaz no bar Cravinho que adverte: "é proibido vomitar no banheiro".
Bem a propósito estou lendo o livro de Ana Maria Gonçalves "Um defeito de cor": a Salvador do início do século 19 retratada no livro ainda se parece muito com a atual. Muitos governantes acham que progredir é se parecer com outros centros mais desenvolvidos o que eu acho uma enorme bobagem. Progredir é criar as condições necessárias para que as pessoas tomem o seu próprio rumo e façam as suas escolhas através da educação, do saneamento básico, da saúde preventiva.