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Versão da Catarina

Saímos às 5 horas da manhã do dia 01/06, já com o barco balançando, recebendo aquelas ondas de lado. Algum tempo depois, ligamos o motor para ajudar, com o inconveniente do cheiro do diesel, pois o vento estava meio de popa (por alheta). Algumas horas depois, o Dorival já estava mareado, então, praticamente só eu me alimentei naquele dia, com a comida que tinha preparado no dia anterior (arroz à grega e picadinho de carne); até esquentei para o Dorival, mas ele virou a cara. Depois disso, ele só foi piorando, e vomitando, e mareando… Resultado, dobrei meus horários de turno, para ele poder se recuperar, e nem deu tempo de esquentar mais comida nenhuma, jantei uma maçã, e levei um pacote de bolacha água e sal para o cockpit, e assim passei a noite.
À noite choveu bastante, eu fiquei um bom tempo no cockpit, preocupada com os espinhéis, para cortar o motor, se precisasse, mas depois de ficar um tempo assim, não aguentei mais, e desci, só via o radar, e olhava lá fora pelo dodge, a cada dez minuto. Acho que entreguei a Deus.
O Dorival ainda conseguiu fazer a parte dele, desviar de barcos, baixar a mestra, quando precisou (eu ainda não sei fazer isso, viche!), passar instruções, afinal, em terra de cegos, ele é o caolho-capitão, sabe mais que eu, que sou só arraes.
E chegando aqui, o bote se soltou (alguém deu bobeira, claro), ele ainda teve que pular na água, de cuecas, para buscar lá longe.
Bom, estamos vendo alternativas para a próxima vez, parece que existem uns remédios mais modernos, e uns selos de colocar na pele. Passada a esfrega, ele já está fazendo planos para a próxima perna, este troço é um vício!
Depois da terceira perna, estou achando que não vamos pegar mar liso para subir. Não sei porque…  Com tudo isso, acho que minha vida está melhor que atrás de um computador, fazendo serviços para os outros, sobre coisas que não acredito. Abriu-se uma janela de coisas novas, e diferentes, que eu quero explorar. E o mar não é mais duro conosco, do que a vida foi para nós. Fora que, no mar, você está longe de todos os tubarões da civilização: a ambição, a cobiça, a miséria humana em todas as suas faces. Temos que respeitar a natureza, aprender com ela, só isso, o que não é fácil. Ou somos mesmo masoquistas, e não estamos percebendo.
A conexão está caindo. Depois falo mais besteira. Bom dia!

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Versão do Dorival

Búzios é uma cidade de contrastes. A despeito das lojas da Rua das Pedras, caríssimas, R$ 3,30 o café expresso, e R$ 50,00 o kg do sorvete, que não é pra qualquer um, existe uma atividade de pesca artesanal muito intensa. Os pequenos barcos saem no fim da tarde, tripulados tipicamente por três pescadores, e chegam no raiar do dia. É bom vê-los chegando com seus barcos pesados, quase entrando água pelos bordos e popa. Também há pescadores solitários, com suas redes em canoas a remo.
Logo que os pescadores chegam, iniciam a rotina de passar a rede da popa para a proa, retirando os peixes, e, em seguida, enquanto um separa os peixes de valor comercial, os outros dois arrumam o equipamento para o dia seguinte. Reparei que o descarte do pescado que não interessa sempre é feito por bombordo, quando, muito atentas e ordenadas, gaivotas aproveitam tudo o que é jogado fora.
Na cidade, há um sistema de transporte com peruas e vans, que funciona bem por R$ 2,00, por pessoa. Passa uma a cada 3 minutos. Tomamos uma dessas, e fomos até um supermercado em Manguinhos, bem servido e limpo, onde pudemos comprar alimentos, a preços justos.
Saímos de Búzios no dia 01 de junho, às 5:00 hs da manhã, com destino à Vitória, velejando com um vento SSW, de 20 nós. Com a mestra no segundo riso, e a genoa enrolada para 100% (toda aberta é 130%), navegamos a 6,5 nós, por 2 horas. As ondas vinham de S, com dois metros, e período de 12 segundos. Nosso rumo até o Cabo de São Tomé era NE. O vento, quase popa rasa, e as ondas de alheta, fazem o barco balançar, mas, com período de 12 segundos, é bastante aceitável.
Às 7:00 hs, o vento baixou para 10 nós, e ficou em popa rasa; com o balanço das ondas de S, a genoa não se acomoda, e não é razoável armar asa de pombo. Enrolei a genoa, e liguei o motor, para manter a velocidade superior a 6 nós. Nessa condição, fomos até o Cabo de São Tomé, só que, com as ondas aumentando para em torno de 2,5 metros, com 8 segundos de período. Comecei a enjoar.
Chegamos ao Waypoint marcado, situado há 5 milhas, afastado do Cabeço de Fora, do Cabo de São Tomé, às 17 hs, com ondas de S, de 3 metros, e período de 5 segundos, combinadas com ondas que vinham de W, com igual período. Esse mar desencontrado começou a aparecer umas 20 milhas antes. Mudamos o rumo direto para Vitória, o que nos deixou em melhor condição, porque as ondas passaram de alheta, para popa, e diminuíram para uns 2 metros, logo umas 10 milhas depois. Perdi a conta de quantas vezes vomitei.
Esse mar nos acompanhou até Vitória. Às 22:00 hs, começou a chover e ouvi pela primeira vez a Estação Costeira da Embratel – Vitória Rádio, canal 16 – VHF, informando o desaparecimento de uma embarcação de pesca, com 4 pessoas a bordo, desde o dia 25. Passamos a observar com mais atenção, procurando por eles. A chuva reduziu a visibilidade para 100 metros, no máximo. O radar nessa hora ajudou bastante. Ajustei o ganho e o filtro de chuva, e deixei no automático, para a Catarina poder vigiar. Nessa hora, eu já estava tão ruim, que não conseguia fixar a vista na tela do radar.
À meia noite, o vento começou a rondar muito, passando pela popa. Depois da contra escota atuar algumas vezes, impedindo o “gibe”, e de tentativas de mudança de bordo da vela não resolverem, decidi baixar a mestra, e ficar só com o motor. Logo cedo, ouvimos pela CBN-AM-RJ, notícias da queda do Avião da Air France; gostei de estar a bordo de um veleiro.
Pela manhã, avistei um pesqueiro roda a roda, fui observando, até que, quando estava a uns 200 metros de distância, resolvi manobrar para boreste; em seguida, ele fez a mesma coisa, e passamos a uns 60 metros, um do outro. Da próxima vez, vou manobrar bem antes.
Chegamos no Iate Clube do Espírito Santo, em Vitória, com mar de ressaca, campeonato de pesca cancelado, e muita gente perguntando do mar.
Parece uma estória de horror, mas horror mesmo foi marear. O Barco se comportou muito bem e, ao chegar, bastou arrumar os cabos, e ele estava como saiu de Búzios, mas com sal no convés. Adoro ver os porões secos, e tudo no lugar, depois de 30 horas, para vencer 185 milhas, o que deu uma média de pouco mais de 6 nós.
Para coroar, tem aquelas coisas que fazemos automaticamente, tipo trocar a marcha do carro. Pois é, de vez em quando, damos uma mancada e a marcha não entra, arranhando. Então, quando chegamos, ancoramos e fomos até a sede do clube. Quando voltamos, amarrei o cabo do bote no guarda mancebo, com um lais de guia. Faço esses nós automaticamente, mas, como não verifiquei, e nós mal feitos não arranham como o câmbio do carro, quando vi, o bote estava à deriva, a uns 100 metros afastado do barco. Tirei a roupa, e, de cuecas, nadei até o bote. Claro que a chave do motor não estava lá. Remei arfando, contra um vento de 15 nós.
A previsão de ventos foi correta, mas as ondas estavam mais altas, ou, talvez, eu esteja avaliando errado a altura. O período das ondas estava menor, e medir o período das ondas, eu tenho certeza que sei. Não fosse marear, a viagem teria sido boa.

Catarina em Vitória

7 Responses to “De Búzios a Vitória no Luthier”

  1. Gunnar Hansen disse:

    Parabens Catarina e Dorival;
    acompanhamos voces aqui em Maringá e Floripa.
    Um abraço forte Gunnar.

  2. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Caro Gunnar,

    Obrigado, visite-nos sempre no blog.
    Benvindo a bordo.

    Dorival e Catarina

  3. Adorei!Bom poder acompanhar a viagem de vocês!Nós vamos começar a subir em julho… quem sabe nos encontramos pelo caminho, ou talvez em Salvador… Catarina, que bom que você não enjoou, porque 2 enjoados é pior… Já devem ter ouvido muitas dicas e simpatias para não enjoar… Mas, lá vai… Tome o remédio que escolher (stugeren ou meclin) no dia anterior a saída e novamente na manhã do dia da saída. Evite cafeína e chocolate, alcool e alimentos gordurosos. Faça tudo que exija concentração antes da partida (o que der). Não fique de estomago vazio… E acredite piamente que não vai mais enjoar… beijos e bons ventos!

  4. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Oi Cecília e Fábio, bem-vindos a bordo. Já estamos em Salvador, viemos direto de Vitória, o relato sairá logo. Nos vemos em Salvador ou Recife, na Refeno. Beijo para o Igor.
    Abraço
    Dorival e Catarina

  5. João Blauth disse:

    Olá..tenho acompanhado os relatos de vcs, muito legais…e divertidos…rss. Principalmente a diferença entre um e outro, Dorival e Catarina….Um é prá navegantes o outro é um relato espirituoso do dia-a-dia…
    Agora quanto ao enjoo, acho que não existem fórmulas. Duas coisas levam ao enjoo. Uma é o desequilibrio do labirinto…principalmente dentro o barco (cabine) o tato diz que estamos em movimento, o labirinto tb, mas os olhos dizem que estamos parados..então a gente se sente desiquilibrado e isso leva ao enjoo. E o outro, e talvez um dos maiores problemas, é a tensão nervosa. Aposto que depois de navegarem mais um pouco,
    quando tudo (ondas grandes, ventos fortes, rumos duvidosos, pesqueiros, etc….) se transformar em rotina isso passa. … Principalmente o Dorival, palpite meu…..mas ele sente na pele a responsabilidade de comandar o barco…isso as vezes deixa a gente uma pilha..Pensamos (com certa razão) que se der alguma besteira feia a culpa é nossa, essas coisas.
    Sei lá, não estou querendo dar uma de professor desculpem, é só talvez uma forma de dizer que com o tempo as coisas se ajeitam e vcs vão curtir cada vez mais a vida que estão levando.

    João

    Veleiro Zuretta

  6. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Olá João, bem-vindo a bordo do Luthier! Grato pelos palpites e explicações sobre as causas do enjôo. Não sei se tem fundamento científico, mas ficar do lado de fora do veleiro, para que os olhos percebam o movimento do barco, ajuda. Existe uma lenda dizendo que os piratas não tinham um olho só, tampavam um deles para evitar ficar mareado. Tentei, parece que funciona. Independente disso, estamos nos divertindo muito, inclusive com as nossas inevitáveis trapalhadas.
    Abraço
    Dorival

  7. João Blauth disse:

    Essa é a idéia…ser divertido…
    abração…
    good winds

    João

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