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Versão da Catarina

Barco abastecido de água, fomos ao supermercado, comprar alimentos e bebidas, para a viagem. No dia anterior, feriado do dia 11/06, não conseguimos quase nada; o comércio realmente fecha, em dia santo.
Acabei preparando uma carne com muitos legumes, pensando em balancear a proteína, e o carboidrato, e comemos um dia antes, para ver se a gororoba não ia fazer mal. Ainda deixei, à mão, umas sopas instantâneas, uma massa para lasanha, molho, e uns lanchinhos.
Checada a previsão, saímos no dia 13 de junho, às 15 horas, com destino a Salvador/BA, velejando com um vento de alheta maravilhoso, constante, de uns 15 a 20 nós, suficiente para levar-nos a 6 nós, com a ajuda de ondas vindas de sul.
Logo depois de passar o Porto de Tubarão, avistei um bichão cinza, vindo no través do barco, bem rente à água, que só podia ser um golfinho; indício de uma boa viagem, ou de nada, mesmo, só ele indo procurar sua turma.
Quanto ao mar, não teve jeito, a previsão já dizia que ia ser em torno de 2 metros, em média, e balançamos muito, principalmente depois de Abrolhos, quando as ondas vinham de leste. Foi difícil arranjar um jeito de tomar banho, que foi no cockpit, com aquele ventinho sul, gelado, soprando, mas achei tudo ótimo: a sensação de ficar ensebada é pior que o desconforto. Tudo ficou mais difícil: beber água, comer, esquentar a comida, mas assim saímos, balançando, e assim chegamos.
Eu nunca vi uma noite tão estrelada, tão linda, quanto na passagem por Abrolhos, acho que por estar longe de qualquer clarão das cidades. E que lindo ver a lua nascer no horizonte, uma bola alaranjada, à meia noite, subindo devagarzinho.
Tive certeza que estávamos no nordeste do país, quando um pescador pediu, pelo VHF, para que fossemos para o canal “dezoiTWO”. Logo depois ouvi, pelo FM, a rádio Ubatã, da cidade de mesmo nome, na Bahia, apresentada pelos médiuns videntes Mestre Jacob, e Dra. Janaína, se é que entendi direitinho, falando bem devagarzinho. Até então, no Espírito Santo, só tinha captado rádios religiosas católicas, na maioria, ou evangélicas.
O rádio AM/FM foi um companheirão, para mim, naqueles momentos em que você fica contando as ondas, e vai dando um soninho. Você escuta os vários tipos de música, regionais, pontos de vista diferentes, e notícias. E isso tudo a 20 milhas da costa!
Chegando perto de Salvador, deu para captar um programa noturno, com esclarecimento de dúvidas sobre sexo, por uma médica local, Dra. Gilda, e um outro muito semelhante, em um canal próximo; nada a ver com os do gênero, de São Paulo, aqui muito mais diretos, e informais; as doutoras parecem umas amigonas, dando conselhos. E cada pergunta! Assunto de grande relevância, por aqui.
A viagem transcorreu bem, com um pequeno incidente com o GPS, e outro com a escota da genoa, mas sempre tem que ter alguma emoção. E emoções não faltaram ao ver a minha chaleira voando para bombordo, com um onda mais forte que bateu no casco por boreste. Claro que ela não estava vazia, mas como água evapora, tudo bem. E se fosse uma panela com o rango? Ou se ela estivesse com água quente, vindo na minha direção? Ia chorar muito. É bom eu largar de ser besta, e prender as coisas direito!
Fiquei namorando, fortemente, a idéia de ter um microondas. E já estou casada com a de arrumar uns estofados para o cockpit, que mais parece, hoje, um chão de cimento gelado; e também uns protetores para o sofá da dinete, para a gente não cair com o balanço do mar. Coisas que fomos deixando para depois.
O Dorival mareou, mas conseguiu, desta vez, controlar a situação, e foi melhorando, a cada dia. Se fosse comigo, não sei se teria esse controle mental, e ia ficar muito chata, eu me conheço. Ainda não mareei, mas como sei que isso pode acontecer com todo mundo, a qualquer momento, não estou dando bobeira com a alimentação, e com o calor.
Os nossos turnos de vigília foram um desrespeito só: um ficava com dó de acordar o outro, e ia se aguentando, até que o outro acordasse sozinho. Assim não dá! Falta de organização!
Mas assim chegamos, à terra dos reis, às 22 horas, do dia 16 de junho de 2009, pedindo licença para singrar as águas da Baía de Todos os Santos, e cansados, mas muito contentes, satisfeitos por mais essa perna, que transformou em realidade, um sonho antigo. Isso é que é emoção!

Tenho certeza que, depois dessa, vamos juntos a qualquer lugar!

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Versão do Dorival

A decisão de ir direto para Salvador surgiu a partir de uma janela de previsão de tempo muito boa. Teríamos uns 3 dias de vento SE, e chegaríamos a Salvador com vento Leste. Ondas de 1,5/2 metros.
Preparei uma rota direta de Vitória para Salvador e, caso fosse necessário parar, programei alguns waypoints para Caravelas, Ilhéus e Camamu.
Dois pontos devem ser observados com cuidado nessa rota: o Canal de Abrolhos e o Banco Royal Charlotte. Saindo de Vitória, a rota que usamos passa por dois Waypoints no Canal de Abrolhos, um no início e outro no fim da rota recomendada na carta 1310 (Canal de Abrolhos e Proximidades). Depois, seguimos um rumo direto para Salvador, com um pequeno desvio próximo a Belmonte, para passar com segurança pelo Banco Royal Charlotte.
Saímos de Vitória às 15:00 hs do dia 13 de junho de 2009, logo após abastecer com diesel. Com a mestra no segundo rizo, motoramos um pouco até sair da proteção do Porto de Tubarão, onde abri a genoa e desliguei o motor. Com o vento de alheta (SE) de 16 nós rumamos para o Canal de Abrolhos, desenvolvendo velocidades entre 6 e 7 nós.
Logo que anoiteceu, avistei um barco de pesca que me pareceu ancorado. O nosso rumo o deixaria pelo nosso bombordo. Logo, ele chamou pelo rádio e avisou que estava com a rede dele, 1 milha de comprimento, lançada a 70º, com uma bóia em cada ponta, sinalizadas com piscas. Depois de alguns câmbios, até eu entender qual era a referência dos 70º que ele reportava, verifiquei que nosso rumo estava safo. Algumas horas mais tarde, avistei outro barco de pesca, desta vez, eu chamei pelo rádio perguntando se ele estava com o material na água, ele respondeu que não, seguido de várias formas diferentes de agradecimentos pela minha preocupação com o material dele. Não me lembro dessas gentilezas no sudeste.
Traduzindo: material é o conjunto de rede, bóias e sinalização luminosa; xº, lançado, é em relação ao norte magnético; a posição é reportada pelo valor cheio (arredondado) dos graus, primeiro a latitude e depois a longitude. Exemplo, se você estiver na Latitude 12º58’ S, e Longitude 38º 30’ W, chame o pesqueiro assim: Barco de pesca perto de 1338, aqui é o veleiro Luthier…
Às 07:30 hs do dia 14, reduzi a área da genoa mantendo a velocidade de 7 nós. O vento subiu para 25 nós SE e as ondas eram de popa, 2 metros, 8 segundos, vindas de S.
Chegamos no primeiro Waypoint, da rota do canal de Abrolhos, às 18:30 do dia 14, com ondas de 2 metros e período de 6 segundos. O Vento continuava SE. Enrolei a genoa completamente, reduzindo a velocidade para 5 nós, com medo de colisão com alguma baleia, e liguei o motor para, com o barulho, acordar alguma que estivesse nas proximidades. A passagem pelo canal de Abrolhos durou seis horas. Logo depois, desliguei o motor e abri a genoa, e, sem ter visto baleia, rumamos a 6,5 nós, direto para Salvador.
Às 7:30 hs do dia 15, o vento reduziu para menos de 10 nós, então, liguei o motor para manter a velocidade acima de 6 nós. Logo em seguida, o vento mudou e ficamos em popa rasa, o que me obrigou a reduzir a genoa para estabilizá-la. Às 10:30 hs, o vento voltou a aumentar, então, desliguei o motor, e abri a genoa. Seguimos a 6,5 nós, com vento de alheta. Nessa hora, percebi que, enquanto a genoa estava reduzida e usava o motor, o cabo da contra-escota ficou roçando na escota da genoa, provocando desgaste.
A viagem seguiu sem problemas e fomos observando Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Santo André passarem. As ondas começaram a mudar de direção, passando a vir de leste, e o vento também. Desta vez, a previsão foi certeira.
Logo depois de passarmos pelo Banco Royal Charlotte, fui alertado pelo alarme do piloto automático que ele tinha desligado, por uma falha de dados do GPS. Como estávamos com vento de alheta, quase popa rasa, o barco girou 180º e aquartelou as velas, parando completamente (o motor estava desligado). A contra-escota funcionou perfeitamente. Tudo ocorreu lentamente, sem qualquer adernada violenta, só uma sensação de pisada no freio porque estávamos a mais de 6 nós.
Folguei as escotas da genoa e ajustei o rumo, com isso a mestra se acertou, mas, infelizmente, a escota de boreste da genoa se enroscou no bote, que estava preso logo avante do mastro. A falha de dados do GPS sumiu, sem que eu pudesse saber o que ocorreu, permitindo ativar novamente o piloto automático.
Fiz várias tentativas para livrar a escota da genoa, mas só consegui enrolar a genoa até que ficasse um pequeno triangulo. Enquanto isso, o vento de leste foi diminuindo para uns 8 nós, e estávamos com ondas diretamente na lateral do barco. As ondas não eram altas, a maioria com 1,5 metros, mas algumas, com intervalo de 5 a 15 minutos, vinham com mais de 2 metros, em grupo de 3 ou 4, balançando bastante.
Liguei o motor, e percebi que, com velocidade de 6,5 nós, a navegação ficava mais confortável, mas não o suficiente para que eu tivesse coragem para ir até o mastro abrir toda a mestra, e livrar a escota da genoa do enrosco, para poder andar a mais de 6 nós, sem motor.
Assim, viemos até Salvador com a mestra no segundo rizo, 50% de genoa, e motor a 2000 giros.
Chegamos no TENAB (Terminal Náutico da Bahia) às 22:00 hs do dia 16 de junho de 2009. Chamamos pelo rádio e ninguém respondeu, então, peguei uma poita para ir de bote ver onde iríamos atracar o Luthier. A Catarina não queria que eu fosse, achava que podíamos ficar ali mesmo e tratar com a marina no dia seguinte. Teimoso, e com medo de ser acordado na madrugada para sair dali, fui até a marina. O guarda estava desesperado para me avisar que eu saísse dali, porque a poita era de um barco a serviço da Capitania dos Portos, e estava para chegar. Eu não sabia, a Capitania fica em frente à poita, ao lado do TENAB.
Navegamos 471 milhas, em 78 horas, velocidade média de 6 nós, 30 horas com ajuda do motor, porque nas 6 horas que gastamos para passar por Abrolhos o motor estava ligado mas desengatado.
No dia seguinte, foi só lavar o convés, aduchar os cabos, e o Luthier estava como saiu de Vitória, nada quebrou.
Mareei, mas, desta vez, consegui lidar melhor com isso.
Ficaremos um tempo em Salvador, haverá o que relatar. Aguardem.

Próximo a Ilheus

Salvador

13 Responses to “De Vitória a Salvador no Luthier”

  1. Chris disse:

    Olá Dorival e Catarina
    Não sei se vcs já repararam os números de visitas desde que começaram seus relatos, são mais de setecentas visitas em um mês. Vcs estão fazendo sucesso!!! bons ventos e muitas palavras!
    bjim
    Chris

  2. Daniel(Harry) disse:

    Adorei conhecer vocês um casal encantador.Desejo o melhor sempre.Estarei acompanhando a aventura de vocês.Boa sorte,Boas Viagens,Bons Mares.Abraços.Adorei o Blog.

  3. alison disse:

    oi foi um grande prazer conhecer vcs la na insinuante do shopping iguatemi espero que voltem em breve pra trocarmos mais historias,valeu mesmo aeh gostei muito das fotos e historias sobre velejar tenho muita vontade de fazer o mesmo porem amo muito mais mergulho… abraçao!!!

  4. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Daniel e Alison, bem-vindos a bordo.
    Também gostamos muito de conhecer vocês, pessoas interessadas nas coisas do mar. Continuem trabalhando e estudando bem, que terão um bom futuro, e, aos poucos poderão realizar todos os seus sonhos.
    Grande abraço, e não deixem de ver nossos próximos comentários sobre a Bahia.

    Forte abraço

    Dorival e Catarina

  5. conde disse:

    Olá Dorival, olá Catarina, eu sou um dos setecentos que a Cris fala. È muito bom ler as vossas aventuras, principalmente porque o fazem com sinceridade. Vou continuar a segui-los, bons ventos.

  6. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Oi, Conde. Bem-vindo a bordo.
    Grato pelo elogio. É bom saber que temos companhia como a sua nas nossas viagens. Bons ventos para você também.

    Forte abraço

    Dorival e Catarina

  7. Ivan mais Egle disse:

    Olá Catarina e Dorival,

    Parabéns pelo Blog – bem interessante essa idéia do relato sob dois pontos de vista diferentes. Sentimos falta de fotos da Catarina …

    Curtam essa maravilhosa Baía de Todos os Santos.

    Bons ventos,

    Ivan mais Egle

  8. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Olá Ivan e Egle,
    Ficamos gratos pelo elogio. A idéia de publicar os relatos dessa forma foi do João e da Christina, a partir dos e-mails que enviamos para eles.
    Bons ventos e um abração.
    Dorival e Catarina
    PS: Vou providenciar fotos da Catarina. Dorival

  9. amyres lencioni jr disse:

    olá vai a dica do adesivo -transderm scop- aplique-o atrpas da orelha 12 horas antes de embarcar, tem ação por 3 dias.
    11-55396677
    traderma@traderma.com.br

  10. João Blauth disse:

    Olá…
    Já estou com sindrome de abstinência de novidades..rss.
    Abração

    Fininho

    Veleiro Zuretta

  11. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Oi Fininho, já estamos providenciando um relato de Salvador, estamos gostando bastabte daqui. Em breve, vamos para Itaparica, aí conto da velejada na Baia de Todos os Santos. Aqui tem vento o tempo todo.

    Amyres, bem-vindo a bordo e obrigado pela dica.

    Abraço
    Dorival e Catarina

  12. amyres lencioni jr disse:

    olá dorival e catarina, este pacth usamos numa refeno e sua ação é sensacional, as pessoas que o usaram passaram “ilesos”. caso não consiga comprá-lo lance mão do medicamento -VONAU- use-o dissolvendo na boca ou engolindo, inicie sua tomada 6 horas antes da saída e vá tomando de horário ( 6/6h, 8/8h ou 12/12h) dependendo de seu estado. por enquanto estou tendo o gostinho com seus relatos, mas ano que vem subiremos a costa com o c.c.l.. felicidade na viagem.
    amyres e julia

  13. Dorival Gimenes Júnior disse:

    Oi Amyres e Julia, mais uma vez, obrigado pela companhia e as dicas contra enjôo. Que bom que no ano que vem vocês virão para o nordeste, realmente é um lugar encantador.
    Bons ventos, e bem-vindos a bordo.
    Abraço
    Dorival e Catarina

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