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Clique aqui para conhecer a história do veleiro Luthier e sua tripulação

 

Versão da Catarina

A previsão de mar para a saída de Cabedelo, no dia 03/11, não era das melhores, com ondas de 2,5 metros, picos de 3 metros, com 14 segundos, mas não chegava a ser perigosa. Pesou na nossa decisão de sair o compromisso que temos em Salvador, em novembro, e o desejo de, antes, conhecer Suape, em Pernambuco.
O desconforto do vento e mar de proa, para abrir algumas milhas da Costa, e para vencer o Cabo Branco, se fizeram sentir logo nas primeiras 4 horas de navegação, com toda a tripulação enjoada. Nada a reclamar, sabíamos da bordoada.
Na chegada a Suape, no início da manhã do dia seguinte, já próximo ao Cabo de Santo Agostinho, outra pauleira, com o mar alto, e desencontrado. Chegamos inteiros, tripulação e barco. Ancoradouro em Suape
Por várias vezes, durante a viagem, o serviço de rádio da Embratel informou a ocorrência de “homem ao mar”, nas proximidades de Olinda, no dia 29/10; pedia a assistência de quem o localizasse. Nota triste.
A entrada em Suape foi por etapas, porque o local está bastante assoreado, e não há levantamento batimétrico da Marinha. Na chegada, ancoramos próximos ao Porto, para esperar a maré enchente. Quando ela chegou, avançamos bem próximos à barreira de corais, seguindo os “waypoints” do pessoal de Pernambuco; impressionante aquelas ondas quebrando nos corais, ali, do nosso lado. Então, foi um tal de seguir para boreste, intercalando com bombordo, para chegar a um ponto final indicado. E agora? O ponto final sugerido é no meio do canal, nada abrigado, sujeito à toda correnteza do rio. Seguimos um pouco mais, para um local onde havia 2 veleiros e PÁ, batemos em alguma coisa. Foi de leve, e continuamos. Achamos um local com profundidade de mais de 3 metros; parecia bom, descontando a maré.
A ancoragem escolhida parecia boa, mas viemos a saber que não era: perto das dez da noite, daquele mesmo dia, fomos acordados pelo movimento do barco, adernando para bombordo. Socorro! Começou com dez graus e, à medida que a maré baixava, ia adernando mais, alcançando os 28º. O que fazer? Nada, não havia nada a fazer, só esperar a maré subir, apoiando-se no outro bordo. Eu chorei, porque achava que, com o peso do mastro, o barco ia emborcar de vez. O Dorival me garantiu que não, mas ficava aquela impressão de coisas anormais acontecendo. Pedi a todos os santos, inclusive, pensei em fazer um promessa. Lembrei do meu pai: “Promessa é barganha com o santo!” Mas vale tudo, nessas horas. As horas foram passando, eu vi que nada acontecia de mais grave, então, me apoiei como pude para tirar um cochilo, até o barco voltar ao normal. Passado o susto, vou pagar a promessa, quando chegar na Bahia.Praia Paraíso
No dia seguinte, saímos às 6 da manhã para ancorar em outro ponto, dessa vez, estudando minuciosamente o giro do barco. Achávamos que, naquele dia, íamos ter uma noite restauradora; ledo engano! Próximo à meia noite, com o vento de 30 nós que soprava, soou o alarme do GPS: a âncora tinha garrado. Menos mal que a nova posição era ainda mais profunda! Novamente, nada a fazer. Fomos dormir, e nada aconteceu, digo, não encalhamos. Restaram as emoções.
O lugar ainda está bonito, apesar da construção do Porto, que enfeia a paisagem, e das demais construções previstas para a área, como a de um estaleiro. A curta faixa de praia é de uma areia clara, finíssima, e para dentro do rio ainda há mangue. Não há abrigo para o vento que vem do mar, de leste, e a correnteza do rio é muito forte.
Aqui, estamos filados ao vento, e não passamos calor. Nem chegam os pernilongos. Gosto dessa vida mais selvagem. Não há marinas, temos que sobreviver com a água disponível, e com nossa energia. Estamos sozinhos, mais ninguém na ancoragem, inclusive, no final de semana.
Para enfrentar a viagem de 3 dias até Salvador, nada melhor que andar bastante. Então, fomos caminhar até a ponta do Cabo de Santo Agostinho, onde está o que sobrou de um Forte, o Castelo do Mar. No percurso, encontramos um rapaz que pesca na praia, com quem tínhamos conversado no dia anterior. Ele foi, de boa-vontade, nos mostrar as trilhas da região, fazendo perguntas sobre pesca para o Dorival, achando que ele é um “expert” no assunto; não adiantou eu falar que ele não pesca nada. Por fim, o Dorival montou um destorcedor na linha de pesca do cara, para ajudar com a isca artificial. Ai dele, se herdar nossa sorte na pescaria!
O rapaz é um caso típico daqui: pescador nas horas extras, e trabalhador de uma das fábricas da região, nas demais. Natural de São Paulo, ele oscila entre o “meu, assim….” e “pronto”, para explicar alguma coisa, um deslocado na vida, como nós.
O topo do morro, onde está o Cabo, sofre problemas de erosão, com muitas crateras. E Porto e Ilha dos Francesespensar que em 1498, quando Vicente Yañes Pinzon teria aqui aportado, era tudo mata, povoada por índios.
Fomos por uma estrada arborizada, com muitos cajueiros e mangueiras, atrás de um doce de caju-passa, indicado por formigas humanas. O doce é bom, mas a cocada de colher, e a pasta de amendoim da doceira são demais, não ficam atrás.
Estamos descansando e nos preparando para ir direto para Salvador, agora, com previsão de ondas de menos de 2 metros.
Vou ficar com saudades do queijo de coalho, da tapioca, do caju doce, e do povo alegre daqui. Mas também estou com saudades da Bahia, do perfume na entrada da Baía de Todos os Santos, das festas, do colorido, do sorriso aberto das pessoas. Ainda é bom viajar pelo Brasil. Aqui me despeço. Até Salvador.

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Versão do Dorival

Em Cabedelo estava quente, muito quente. Um dos problemas quando se está parado em um cais é que “sempre” o vento sopra de lado e não circula no interior do barco. Os 35ºC dentro do barco estavam tirando a Catarina do sério. Foi quando percebemos uma pequena janela de previsão do tempo que indicava ventos de E e ondas de 2,5 metros longas, com 12 a 15 segundos de período, supostamente vindas de NNE. Parecia tentador, porque poderíamos adiantar a viagem para Salvador indo até Suape, onde ficaríamos ancorados e filados ao vento.
Planejamos a saída para dia 3 de novembro. Na noite anterior, chegou na marina um veleiro de 43 pés novinho, vindo da Europa, com tripulação brasileira e um italiano. Perguntei do mar e eles disseram que estava alto, mas com ondas longas, sem problema algum.
Às 11:00 horas, saímos do cais da marina do francês, em Cabedelo. A barra
Barreira de Coral do Rio Paraíba já mostrava ondas altas, mas nada que pudesse ser problema para o Luthier. Logo que passamos a última bóia do canal, adotei um rumo SSE, uma orça apertada com 25º de vento aparente. Seguimos com a mestra no primeiro rizo e ajuda do motor. Passamos próximos ao Cabo Branco e depois fomos nos afastando da costa até ficarmos 15 milhas distante, bem longe da área de pesca, porém, antes das rotas dos navios. Mudei o rumo para um pouco mais ao sul e, com isso, a orça ficou mais folgada. O Luthier adernou um pouco mais.
Foi a primeira vez que, com motor ligado, tínhamos sotavento a boreste, e as ondas vinham de SE, e não de NNE, como previsto. Nesse caso, a saída do motor ficou permanentemente debaixo d’água, alterando o som. Fiquei preocupado, e resolvi entrar no barco para verificar se tudo estava em ordem; estava, mas, ficar olhando para baixo, fixando os olhos em filtros de entrada d’água e no motor, foi fatal: com mar de 3 metros, enjoei mesmo. A Catarina, que já não vinha muito bem, logo ficou ruim também.
O mar, apesar de alto, tinha ondas com período de 12 segundos ou mais. O Luthier não caturrava, e não houve um episódio sequer de onda sobre o convés. O problema, na minha opinião, foi forçar a orça com ondas nas amuras. O balanço do barco, e a forma como o vento sai da vela, fez um cheiro forte de diesel queimado entrar no barco, o que para mim é o suficiente (já verifiquei com o barco ancorado, e o motor não tem escape de gases no interior). Tenho que evitar essa situação, do mesmo jeito que evito navegar a motor com vento aparente zero. Pode estar um mar liso, fico mal com o cheiro do diesel.
Logo depois, o vento foi para E, desliguei o motor, abri toda a genoa e velejamos tranquilos, a noite toda. Apesar do enjôo instalado em mim e na Catarina, passamos bem a noite. Velejando, o Luthier balança menos
Forte Castelo do Mar, e o motor desligado é um tremendo alívio para o nariz e os ouvidos. 
Próximos a Suape, mudei o rumo para fazer a aproximação do porto, as ondas que estavam de través passaram a quase popa, e o vento, de alheta, nos levava a 7 nós. À medida que nos aproximávamos de terra, a altura das ondas aumentava e o período encurtava, efeito da proximidade do Porto com o Cabo de Santo Agostinho. A três milhas do Porto, tive que abaixar todos os panos e ligar o motor, segurando o Luthier a 4 nós para não surfar. Depois de passar o molhe e entrar no Porto interno, resolvi ancorar o barco para aguardar a próxima maré alta, antes de entrar no ancoradouro final.
À tarde, com a maré faltando 0,5 metro para encher, rumamos para a ancoragem em frente a um Resort. Usando 18 waypoints, passamos tranquilos pelo canal que fica muito próximo aos recifes. Vinte metros após o ultimo waypoint, raspamos em uma pedra. O Luthier deu um leve tranco, isso deve ter feito um pequeno dano na pintura da quilha.
Ancorei com 4 metros de profundidade. Como a maré aqui é de dois metros, e o Luthier cala 1,6 metros, achei que estava bom. Porém, com o giro do barco, na maré baixa ficamos em cima de um pequeno banco de areia que existe no meio do rio. O resultado foi que acordei às 9:40 hs da noite com o barco adernado 10º para bombordo, e a maré baixa seria às 22:49 hs. O Luthier chegou a adernar 28º. Na manhã seguinte, com maré alta, mudamos para um local com 5 metros de profundidade na maré cheia.
Praia próxima a Suape
Navegantes que estiveram por aqui, quando o porto estava iniciando atividades, e recentemente, dizem que a paisagem mudou muito. Nunca estive aqui antes e, por isso, estou achando tudo muito bonito. É muito interessante como a barreira de corais é praticamente reta desde a passagem norte, junto à ponta sul do Cabo de Santo Agostinho, até a entrada do porto de dentro.
A cidade de Suape e as praias estão bastante limpas, talvez porque estejamos fora da estação, que aqui começa em janeiro.
É uma pena que a margem sul do Rio Massangana terá sua paisagem muito modificada com a construção de uma refinaria.
Logo seguiremos direto para Salvador, estou com saudades de lá, de um bom acarajé, das frutas compradas nas ruas do comércio, das escunas e do Cais Cairú, onde fica o Terminal Náutico da Bahia – TENAB.

 

3 Responses to “Luthier – Em Suape”

  1. João Gimenes disse:

    Olá, que tremenda aventura essa viagem até Suape!!!!
    Pelas fotos deve ser um lugar muito bonito.
    Bom… ta chegando o dia…
    Inté lá…
    Um abração…
    João

  2. Ivan e Egle disse:

    Olá Dorival e Catarina,
    Que aventura heim ?
    Já estivemos umas quatro vezes no Suape, a última com o veleiro AYA (um desenho do Cabinho com 40 pés) no ano passado. Pudemos revisitar o local através de seus relatos.
    Pelo que escreveram acreditamos que não utilizaram os waypoints que nós temos e que evitariam seu toque de quilha na entrada, além de os colocar numa área de fundeio mais confortável, livre das correnteza excessiva que existe no leito do rio.
    Visitaram o bar que fica um pouco acima do resort, na margem direita de quem sobe o rio ? É um local muito agradável (alcançável com o bote).
    Ficamos sempre à disposição para mandar dicas sobre os lugares que desejem conhecer nesse retorno para o sul. Basta que nos avisem com alguma antecedência para que possamos transmitir as informações por e-mail.
    Continuem se divertindo e mandando seus interessantes relatos.
    Abraços e beijos,
    Ivan e Egle (TAAI-FUNG II)

  3. Dorival e Catarina disse:

    Olá Ivan e Egle.

    Obrigado por nos acompanhar.
    Sabemos que podemos contar com vocês.
    Fomos até o restaurante, Bar do Doido, e achamos muito interessante.

    Abraço
    Dorival e Catarina

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