12 de Setembro de 1998

 

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Partimos de Bora Bora pela manhã, com o rumo planejado para Vavau Grupo, Tonga. Segundo os guias, um lugar belíssimo. Seriam duas semanas de velejada.

Os dois primeiros dias foram ótimos! Passamos por algumas pequenas ilhas, vento favorável, contato pelo rádio com outros barcos, tudo estava realmente correndo muito bem. A partir do terceiro dia o tempo começou a deteriorar. O vento apertou, começou a chover. O vento de Leste virou para Sul e passou a soprar muito forte, fazendo o mar crescer. Esta noite foi inteira com chuvas torrenciais e tempestades. Nosso leme de vento deu o primeiro sinal fora, a junta universal de plástico desencaixou. Trabalhamos duro timoneando a noite inteira, nos revezando em períodos mais curtos. Foi a primeira vez que tivemos que fazer isso por tanto tempo. Durante o dia o mar baixou um pouco, melhorando as condições de navegação. Identificado o problema no leme de vento conseguimos repará-lo. A nossa alegria de vê-lo funcionando novamente durou pouco. Estávamos dentro de um forte sistema de baixa pressão. Falei com o Green Nomad que ainda estava em Bora Bora, o qual nos disse que o tempo também estava pegando forte por lá. As condições pioraram, e só nos restava correr com o tempo com uma pequena vela na proa. O jornal andando muito! As ondas roncavam debaixo do casco.

De repente, um barulho como se alguma coisa tivesse se chocado com o casco, nos fez adernar violentamente. Depois de alguns segundos para tentarmos entender o que estava acontecendo, no meio daquele temporal, pois não conseguíamos ver nada. Estávamos novamente sem nosso piloto, o leme de vento. Desta vez era um pouco mais sério o problema, quebrou a parte que trabalha dentro da água, ficando somente a haste no lugar. Em nenhum momento em condições de mar como esta, podemos contar com o piloto automático elétrico. Não foi forte, nem rápido o suficiente para impedir o barco de atravessar nas ondas. E mais uma vez, agora por um tempo ainda mais longo, tivemos que timonear, o que demandava um esforço enorme devido as fortes condições do mar.

A essa altura já tinhamos mudado os planos com relação a Tonga, e começamos a rumar para Samoa Americana, que além de estar 200 milhas mais perto, também as condições do tempo nos favoreciam para aquela direção.

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No décimo segundo dia, chegamos a Samoa ao amanhecer, com mar ainda muito grande. Entramos no porto de Pago-Pago. Um visual um tanto desolador com restos de navios sinistrados pelos furacões. Um grande porto comercial. Frotas de barcos atuneiros tão grandes como jamais tínhamos visto, todos usando alta tecnologia na pesca. Cada barco com um helicóptero sobre a cabine para o auxílio na captura. Todos produzindo para alimentar uma fábrica de peixe enlatado dentro desta única baia que possui a Samoa Americana, causando um auto índice de poluição, sendo todos os resíduos ali liberados. Um outro agravante seriíssimo nesta Ilha, o lixo plástico. É muito plástico nas águas. Para se ter uma noção, o ancoradouro na baia já esta comprometido. O ferro deixando de unhar as vezes com o fundo coberto de plásticos.

Um dos acontecimentos que nos deixou muito felizes, foi reencontrar o veleiro Samuel do casal Albert e Maryke, holandeses, nos conhecemos no Canal do Panamá. Eles planejavam passar a estação em Samoa, principalmente porque Maryke estava nos últimos dias de gestação, o que deveriam aguardar pelo menos até o bebe nascer, e todas as dificuldades estavam junto as autoridades locais. Por outro lado, o povo samoano, muito amigo, já os tinham acolhido ajudando-os de todas as formas possíveis.

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E a nossa preocupação em arrumar nosso leme de vento permanecia. Tivemos muitas dificuldades em conseguir material para o conserto, que depois de muita procura acabamos improvisando com o que podemos encontrar desde que nos desse autonomia até o próximo porto. Com medidas aproximadas reconstruímos a peça, que por sinal acabou funcionando perfeitamente.

Um dia antes de partirmos, fomos com os holandeses fazer algumas incursões pela Ilha. Conhecemos algumas vilas sempre com as mesmas características, como: uma casa grande no meio da vila para abrigar as pessoas nas festividades ou reuniões, sinos pendurados nas árvores que todos os dias as dezoito horas são tocados, e todos em sinal de respeito tem que parar por alguns minutos para rezar, e se você estiver em uma destas vilas caminhando no exato momento em que eles estiverem tocando, alguém virá ao seu encontro e pedirá que você fique onde está por uns minutos, em silêncio. O Samoano é um povo amistoso e muito simples.

Fiji será nosso próximo destino.