O veleiro MaraCatu, um Samoa 29', foi
construído de forma amadora por seus proprietários, Mara Blumer e Hélio Viana durante 6 anos (1988-1994), no Clube São Cristóvão no Rio de Janeiro,
junto com outros 7 barcos, todos assinados pelo projetista Roberto
"Cabinho" Mesquita de Barros. O grupo, autodenominado
Sindicato
Ajuricaba (mutirão em tupi-guarani), viveu uma rica experiência de trabalho em
equipe, compartilhamento de espaço, decepções e muitas alegrias.
Os quatro
anos seguintes a construção (1995-1999) foram dedicados a preparação do
barco e tripulação para a vida a bordo, sempre curtindo uma velejada em Angra
dos Reis nos finais de semana. Neste período, além dos cursos de meteorologia,
rádio amador, mecânica Diesel e a habilitação para capitão amador, barco e
tripulação foram testados em uma viagem até Joinville, passando por São
Francisco do Sul, Paranaguá e Cananéia. Testes feitos, veio a etapa mais difícil,
cortar os vínculos com a terra e mudar de vida.
Mara iniciou sua vida náutica aos 9 anos com o esqui aquático, mas,
sempre de olho nas velas que passavam ao seu lado, não tardou para entrar
na escolinha de vela do Clube Naval. No final dos anos 60, seu pai comprou um
Rio de Janeiro, veleiro clássico de madeira, e a família começou a fazer
cruzeiros de férias para a Ilha Grande em Angra dos Reis (RJ), coisa pouco
habitual para a época. Desde então a vida a bordo virou um sonho.
Hélio, repórter fotográfico em João Pessoa, só conhecia as tradicionais
jangadas nordestinas. Seu contato com veleiros de oceano foi em 1982 quando
veio morar no Rio.
Mara e Hélio tinham um emprego estável e uma posição de destaque como
analistas de sistemas na Fundação Getulio Vargas, com benefícios e dinheiro
certo no final do mês, um confortável apartamento, além da convivência
constante com a família e amigos. "Largar tudo isto não foi fácil",
lembra Mara. Sentada na proa do veleiro numa noite estrelada logo no início da
viagem, ainda angustiada com a nova realidade, disse para si mesma: "Calma,
a liberdade inicialmente assusta".
O MaraCatu largou as amarras do Clube Naval - Charitas em junho de 1999 e desde
então já navegou 9000 milhas, cobrindo o trecho do Rio de Janeiro a Natal,
incluindo os arquipélagos de Abrolhos e Fernando de Noronha. Para participar
dos eventos comemorativos dos 500 anos do Brasil, retornou até Porto Seguro. No
segundo semestre de 2000 foram como tripulantes da escuna Valtur Bahia de
Salvador ate a Itália. Em meados de 2003 foram até a Flórida ajudar o amigo
Walter Antunes a trazer o Galileo, um catamarã de 44 pés, até Maceio.
As travessias são, na maioria das vezes, com vento favorável e mar calmo, pois
usam sempre a velha máxima de "estar no lugar certo na hora certa",
para aproveitar os ventos e correntes favoráveis, com paciência para aguardar
as boas condições meteorológicas.
O melhor da nova vida, além dos belos lugares visitados, tem sido os amigos
feitos ao longo do caminho, a valorização do simples e o exercício da
capacidade de flexibilização e adaptação.
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