A todos os amigos,
Às oito horas da manhã do dia 13/11/2011, deixei o ancoradouro da marina em Reunion, e fui ao posto de combustível, abastecer. Devidamente abastecido me fiz ao largo, às dez horas já via REUNION, pela popa.
Eu estava ansioso, para continuar a viagem, pois sabia que esta perna da viagem, poderia ser mais dura, devido a um grande numero de tempestades que ocorre, entre o sul de MADAGASCAR e o continente Africano.
A meia noite acordei com o barulho das velas, fazendo “flap, flap.” por falta de vento, e o balanço causado pelo SWELL, vindo do sul, liguei o motor e continuei a viagem.
Nesta região, é recomendado velejar no mínimo a 150 milhas longe da Costa de MADAGASCAR, para evitar micro climas, e correntes contra que correm junto ao litoral deste país.
Os dias foram se alternando em dias com bons ventos, e dias com pouco vento, após dobrar o sul de MADAGASCAR, o vento passou a ser uma constante, melhorando muito nossa média de singradura diária, pelos cálculos chegaríamos a DURBAN, na sexta feira dia 25/11/2011.
Na quinta feira às nove horas faltavam apenas 140 milhas para chegar, em DURBAN, com previsão de chegada no final da tarde da sexta feira. Logo após o almoço o tempo começou a mudar rapidamente, o aumento repentino do vento que neste momento era de 22 nós. Pressentindo uma mudança radical, comecei a me preparar para enfrentar ventos mais fortes, e ondas maiores.
Às 14 horas já estávamos com 26 nós de vento com rajadas até 28 nós.
A tormenta chegou às 16 horas para valer com ventos de 30/35 nós, vindos de sudoeste. Com as velas todas içadas, começamos a velejar em contra vento, conseguindo manter o rumo para Oeste.
O barco começou a caturrar, e receber pancadas das ondas no costado, a cada pancada ele perdia o rumo, voltando em seguida corrigido pelo ótimo leme de vento que temos. Às 19 horas as ondas e o vento e as constantes regulagens das velas, me deixaram cansados.
Ao plotar nossa posição, percebi que se continuasse avançando como estávamos fazendo, iria atravessar a temida corrente das agulhas no meio da noite, com um risco muito grande de encontrar as ondas com mais de seis metros, colocando em risco a segurança minha e do CAROLL. Como o vento e o mar não davam sinal de dar tréguas, resolvi então aquartelar a buja, e colocar o barco na capa. Como nunca havia utilizado esta tática, tinha minhas duvidas se iria dar certo. Para minha grata surpresa logo após ajustar as velas, a velocidade, caiu de 7/8nós, para 1,6 nós, derivando para nordeste, nos tirando da rota direta da CORRENTE DAS AGULHAS. A estabilização do barco foi algo incrível, paramos de receber as ondas pelo través, restando apenas o balanço e as adernadas, porem com pouco risco para integridade do barco. Fechei totalmente o barco, preparei algo rápido para comer, tomei um chá quente, instalei um beliche entre a caixa da quilha e o tanque de água, forrei as laterais com almofadas, deitei e dormi muito rápido de tão cansado que eu estava.
Acordei a meia noite e meia, coloquei minha roupa de tempo e fui lá fora para ver como estava o tempo.
A escuridão era total, o vento soprava desbragadamente, tocando sua musica desafinada nos estais, mastro e cordames.
O medidor de vento marcava 35/40 nós constantes. Como o barco continuava estável, chequei os alarmes de radar, e AIS, como estavam OK, voltei para o meu beliche e continuei a dormir, acordando às 04h30min da manhã, quando o dia começa a clarear.
Às 10 horas do dia 26/11/2011, o vento começou diminuir de intensidade, quando novamente eu ajustei as velas para rumar para oeste com destino a Durban, aonde chegamos no sábado dia 26/11/2011 às 14h30min.
E assim cumprimos mais uma etapa de nossa odisséia, motivo pelo qual estou muito feliz e com a sensação do dever cumprido.
Quero cumprimentar o projetista do barco ROBERTO MESQUITA BARROS e o construtor MARCOS DELAMARE TOLEDO, pelo barco marinheiro, forte e confiável, que velejo.
Todos os dias eu converso com o CAROLL, e sinto que estamos cada vez mais entrosados.
Até CAPE TOWN, no oceano ATLANTICO, com as bênçãos do CRIADOR.
Muito obrigado a todos.
Marinheiro Raimundo