A Partida

O momento de soltar as amarras e partir é sempre o que mais me emociona.
Partir é deixar para trás um porto amigo com pessoas que nos receberam de braços abertos e gentilezas. Gente amiga que nos acolheu e nos orientou sobre a próxima pernarda, e mesmo sabendo como é dificil voltar, nos perguntam quando voltaremos. Gente do mar, acostumada aos mares bravios dessas latitudes, que nos perguntam como é o atlantico do outro lado. São pessoas que tiveram seus ancestrais arrancados a força dos seus lares, confinados em porões de navios, levados para as américas para serem escravizados. Gente que hoje nos admira, pela liberdade e fraternidade existente no nosso querido Brasil, mas nem de longe sabem dos brasileiros que sofrem com a desigualdade social ainda existente, desigualdade que esperamos, despareça, na esteira da vida. A essas pessoas explico que do outro lado do oceano atlântico está a verdadeira motivação da minha vida, lá estão as pessoas a quem eu amo, que quando eu as encontrar, iluminarão a minha vida, transformando minha chegada em um momento especial de AMOR, FÉ, ALEGRIA E SUPERAÇÃO.

Adeus CAPE TOWN, adeus AFRICA DO SUL.

Até um dia.

Marinheiro Raimundo

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Grande chegada a Cape Town

Caros amigos e leitores do blog.

Vocês não podem imaginar a alegria de  que foi  amarrar o veleiro CAROLL no ROYAL YATE CLUBE DE CAPE TOWN. O fato de ter vencido a perna mais perigosa de toda a viagem, e de  estar novamente em águas do OCEANO ATLÂNTICO, que emoldura o nosso querido BRASIL, com suas águas. Agora estamos a 3.600 milhas náuticas do Brasil, cuja navegação levará entre 25 e 30, a contar da nossa partida.
Saímos de Porto Elizabeth, dia 25/01/2012 ao meio dia, velejando no contra vento até as 22 horas, quando o vento rondou para Sueste, ai sim totalmente favorável a nossa travessia.
A quantidade de navios e barcos de pesca encontrados nesta pernada, eram tantos que durante as três noites eu dormia com intervalos irregulares de 40 minutos. Me agasalhei bem pois fazia muito frio durante a noite, e ficava com atenção toda voltada para o RADAR, e o AIS que tocavam seus alarmes  pelo menos de 10 vezes na noite, me acordando sempre que eu tentava dormir. Mesmo assim foi uma navegação gloriosa, que nos encheu a mim e ao CAROLL, de orgulho e satisfação, com mais uma pernada cumprida.
Estou me preparando para partir o mais rápido que puder, logo que abastecer  e provisionar o barco para mais esta travessia.
Ao começar minha volta ao mundo soltando as amarras do PINDÁ IATE CLUBE DE  ILHA BELA, para o RIO DE JANEIRO, onde o RICARDINHO do veleiro SEACHEGUE faria manutenção e troca da antena radar, a minha cabeça estava cheia de dúvidas, estava levando meu projeto adiante com fé, esperança e todo o meu coração.
Nesta penúltima pernada, atravessei dois cabos importantes, o CABO DAS AGULHAS, que divide os oceanos INDICO E ATLANTICO e o CABO DA BOA ESPERANÇA, que plagiando o que disse o grande velejador de todos os tempos o Capitão ALEIXO BELOV, CABO DA NOVA ESPERANÇA.
Um abraço cheio de  alegria, fraternidade e felicidade.

Marinheiro Raimundo

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O Retorno – Volta ao Mundo Solitário

Após 40 dias em SP, finalmente cheguei a Port Elizabeth Africa do Sul. Foram doze horas de viagem de aviã. Ao chegar peguei um taxi e fui direto ao Yate Club, já que eu estava sentindo muito a falta do veleiro e tambem muito preocupado se estava tudo bem, pois a ancoragem aqui não é muito segura quando entra vento e mar de leste. Entrei no Yate Club e corri direto para o pier onde o veleiro estava amarrado.
Tomei um susto pois o barco estava cheio de fuligem preta, vindo de uma fundição que opera dentro do porto. Demorei um dia e meio limpando, mesmo assim, os cabos e as velas continuaram cheios de pó preto.
Felizmente o conserto da retranca estava pronto, que era o que mais me preocupava, o Sr Andrew cumpriu com a palavra me entregando todos os consertos no prazo estipulado, ainda bem. Eu fiquei preocupado quando eu fui para SP, pois o Sr Andrew é um “faz tudo” em veleiros desde estaiamentos até consertos de eletronicos.
Bem agora que já matei a saudade e o veleiro está pronto para partida, vamos aguardar uma janela de tempo favoravel e partir para Cape Town, ultimo porto antes de soltar as amarras para o Brasil.
Ao chegar em Cape Town, relatarei como foi a travessia.
Até lá com a permissão do Criador.

Um abraço a todos.

Marinheiro Raimundo

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Entrevista

Amigos, bom dia !!

O Marinheiro Raimundo foi entrevistado pelo Sr. Hélio do site MaraCatu, leiam a reportagem, segue link:

http://maracatublog.com/2012/01/07/a-viagem-meteorica-do-caroll/

Até a próxima !!

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Volta ao mundo / A origem

Bom dia a todos,

No ultimo dia do ano de 2011, não poderia deixar de agradecer a todos que me incentivaram, na realização do meu sonho que está se tornando realidade. Gostaria também de partilhar da minha alegria de haver terminado meus exames de saúde, e ser informado pelos médicos, que estou em plena forma física, com próximos exames  em junho de 2012.
Eu nasci no dia  16/10/1949, na cidade de Juazeiro da Bahia, as margens do Rio São Francisco, foi nesta cidade que aos cinco anos de idade, eu vi pela primeira vez um barco a vela, tratava-se de um barco a vela chamado de CANOA DE TOLDA, oriunda do baixo São Francisco, mas precisamente do estado de Sergipe, daí o nome popular em JUAZEIRO/BAHIA, de barcas Sergipanas.
Minha mãe Dona ROSA, uma lavadeira de roupas das margens do Rio São Francisco, me levava aos domingos a missa, e na volta, por insistência minha, dava uma passada pelo cais, de onde partiam as barcas Sergipanas, para vários destinos, além das barcas menores que faziam a travessia Juazeiro/Petrolina. Esta visão da barcas Sergipanas, e mesmo dos” vapores” (Barcos a vapor chamados de gaiolas, típicos do Rio S.Francisco) marcaram a minha infância, deixando em minhas lembranças de menino, uma vontade não realizada de navegar naqueles barcos. Com a minha vinda junto com minha mãe para SP, fui morar em um bairro da cidade de DIADEMA, as margens da represa Billings, onde  havia muitos barcos, reacendendo o  sonho de navegar em um barco a vela. Somente no ano de 1979, ao entrar  em curso de vela no IATE CLUB SÃO PAULO, na represa de Guarapiranga, o antigo e esperado sonho se tornou realidade. Foi logo após a minha habilitação de Arrais que eu prometi a mim mesmo, um dia você vai fazer uma volta ao mundo em seu próprio veleiro.

A todos

UM FELIZ ANO NOVO, CHEIO DE REALIZAÇÕES.

Marinheiro  Raimundo

CANOA DE TOLDA

Canoa de Tolda

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Incidente em Nuku Hiva

Meus amigos, voltei a escrever pois não poderia deixar de divulgar uma noticia incrível sobre canibalismo acontecido recentemente na ILHA DE NUKU HIVA, na Polinesia Francesa, O VELEJADOR ALEMÃO STEFAN RAMIN, SEGUNDO INFORMAÇÕES DE SUA NOIVA, FOI MORTO E COMIDO, POR UM NATIVO CHAMADO HENRY HAITI, ELA CONSEGUIU ESCAPAR E ESTÁ NA ALEMANHA ONDE DEU DECLARAÇÕES A REVISTA “BUNTE”. Vale a pena dar uma olhada na internet, procurar com o nome de STEFAN RAMIN, ou HEIKE DORSCH.
Esta  ilha foi a minha primeira ancoragem no oceano pacifico. Eu vi os “guerreiros” com o corpo todo tatuado, uma visão macabra.

Um Feliz ano novo

Do Marinheiro Raimundo

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Travessia de Durban a Port Elizabeth

Boa tarde a todos,

No sábado dia 03/12/2011, após olhar a previsão do tempo na internet, resolvi partir para Port Elisabeth no domingo dia 04/12/2011, para tentar chegar o mais rápido que pudesse em Cape Town, para poder voar para o Brasil, já que eu tinha agendado vários exames de saúde a partir do dia 14/12/2011. Dos quinze veleiros programados para esta travessia, pelas notícias que recebi posteriormente, apenas o Caroll, o Tutatis e o Estrela do Mar, deixaram o porto de Durban.
Ao olhar a  previsão do tempo percebi que na segunda feira, teríamos ventos de 25 nós leste/nordeste, que só mudariam de direção com a entrada de uma nova frente fria, que deveria acontecer na terça-feira à tarde.
Na saída de DURBAN às 10 horas, tínhamos uma corrente contra de um nó contra, mas com o vento  de Sul de 10/15 nós, ou seja, vento na cara, às 23 horas o vento rondou leste nordeste, com 25/30 nós.
Preparei o barco para ventos fortes, enrolei a genoa, e rizei a vela grande  na terceira forra, já me preparando para ventos mais fortes. A meia noite já tínhamos ventos constante de 35/40 nós, com ondas de 3 metros. Com um período de 8/10 segundos. O barco surfava as ondas atingindo velocidades de 15 nós. A meia noite as rajadas já chegavam a 40 nós, fazendo com que o barco adernasse quando recebia ondas cruzadas no costado. Como eu estava recebendo o vento  pela alheta, em uma destas surfadas, a retranca passou de um lado para o outro, entortando o perfil de alumínio, no ponto de fixação do carrinho. Amarrei um cabo na retranca passei em moitão e levei para catraca, para evitar que  acontecesse outro jaibe “chinês.” No dia seguinte ao avaliar o estrago percebi que teria de parar em Port Elizabeth, para consertar a retranca, pois ela poderia quebrar com facilidade.
Segui direto para Port Elizabeth, chegando lá às 23 horas do dia 06/12/2011, após navegar o dia inteiro com visibilidade reduzida por um intenso nevoeiro.
Ao chamar o técnico para avaliar o estrago da retranca, ele me disse que era possível consertar, mas que precisaria de 15 dias, como eu tinha que estar em SP até dia 14/12/2011, resolvi deixar veleiro no  Iate club de Port Elisabeth e voltar para SP imediatamente. Consegui vaga no vôo do sábado dia 10/12/2011, já estou em SP e voltarei para buscar o veleiro dia 14/01/2012.
Um grande abraço a todos e muito obrigado por acompanharem minha jornada e espero que continuem, pois em Janeiro/2012 volto para terminar “Minha Volta ao Mundo”.

Postamos no youtube um vídeo da Travessia de Durban a Port Elizabeth.
Click no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=tPtOSW4JvXM

Marinheiro Raimundo

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Resposta aos leitores do Blog

Bom dia a todos,

Uma vez mais quero agradecer as mensagens de incentivo e amizade que tenho recebido. São estas mensagens que me dão a certeza, de que sem amigos verdadeiros a vida não teria sentido. Durante esta viagem em solitário, percebi que eu não sou a pessoa mais indicada para viver sozinho, e que deste momento em diante procurarei viver e dividir meus momentos com meus amigos de verdade.
Um leitor do blog me perguntou por que eu transformei esta viagem em um verdadeiro rali oceânico, e eu respondo com varias ponderações transcritas abaixo:
1. -A circunavegação estava programada para ser realizada em 2 anos, que é o tempo ideal para se realizar uma travessia deste porte. Em 24 meses você pode escolher os melhores meses para fugir dos furacões, ciclones, e trovoadas, com estatísticas comprovadas pelos ‘PILOT BOOK”.
2. -Havia uma oposição muito forte, da minha esposa para que eu não  fizesse esta viagem. Como ela passa mal em travessia de Ilhabela a Angra, forçar a sua participação, neste desafio seria um ato desumano. Então resolvi realizar viagem em solitário, como era meu sonho antes do meu casamento.
3. -Ao chegar a GRENADA no caribe percebi que fazer uma viagem destas sozinho, para ver paisagens não tem graça nenhuma, seria maravilhoso se pudesse contar com meus familiares para dividir alegrias e curtir a viagem. Então a solução era acelerar o máximo que pudesse, para voltar para casa no prazo de um ano, tarefa nada fácil de ser realizada.
4. -Outro motivo é o custo de vida nos lugares exóticos, tipo Polinésia Francesa que é muito caro.  A  manutenção de barcos também é cara. Sem contar que os nativos que antigamente eram puros, hoje estão contaminados, pela febre do celular, e da TV de Plasma, sabendo exatamente quanto vão cobrar por sua frutas, por seu trabalho, nada mais justo!
5. -No dia 19/11/2009, por ocasião de “check up” geral da saúde, foi diagnosticado um câncer de colon, que comprometia ¾  do sigmóide. No dia 16/12/2009, fiz a cirurgia para retirada do tumor, no centro cirúrgico do hospital Oswaldo Cruz  em São Paulo, em seguida precisei fazer 12 aplicações de quimioterapia, que me debilitaram. Como a recuperação de tudo isto leva um tempo, eu não pude iniciar a viagem na  data planejada. E também dependia de uma liberação pelos meus médicos.
6. -Em seguida as sessões  de quimioterapia, eu tenho que fazer complexos exames a cada quatro meses, motivo pelo qual retornei ao Brasil, pelo prazo de uma semana, da cidade do PANAMÁ, e do TAHITI, (o custo destas viagem também é muito alto.)
7. -Na realidade eu também percebi que eu adoro mesmo é velejar, não existe sensação melhor do que ver as velas cheias e o CAROLL deslizando sobre as águas, deixando em sua esteira borbulhas, como em uma taça de champagne. Na verdade após três dias em terra eu começava a ficar infeliz. Viver e conversar comigo mesmo, durante as travessias, fez o tempo passar muito depressa, e me deu uma nova perspectiva de vida.
8. -Mas tenho que ser honesto o principal motivo desta pressa toda é a saudade que sinto, da minha primeira neta ISABELLA, que nasceu não por acaso, na mesma noite em que eu estava sendo operado para retirada do tumor de colon.
O leitor me perguntou se quando eu agradeço ao criador estou falando do Cabinho, o projetista do CAROLL.
Não meu caro amigo, eu estou falando de algo muito mais sublime, de DEUS, criador do universo. Como entre os meus leitores existem pessoas de todos os credos, e eu os respeito nas suas convicções, e como este não é um blog religioso, eu prefiro falar do CRIADOR, DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.
Caso ainda persista alguma duvida, por favor, escrevam que eu terei o máximo prazer em responder.

Um grande abraço a todos, e que o CRIADOR os ilumine, aliás, já o faz todos os dias.

Marinheiro Raimundo

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Durban

Hoje faz uma semana que eu cheguei a DURBAN, foi muito boa esta parada, porque permitiu uma recuperação adequada para o corpo e para a mente, já que a travessia de REUNION para DURBAN foi muito estressante.
Como eu estava sempre atrasado em relação à flotilha dos veleiros que se deslocavam para a AFRICA, finalmente os alcancei.
Conheci muitos velejadores, inclusive um brasileiro, José Prieto do veleiro TUTATIS, que como eu está voltando para o BRASIL.
DURBAN é uma cidade moderna, com bom apoio para os velejadores, que aproveitam a parada para consertar os itens que estão quebrados.
Estamos todos esperando uma “JANELA DE TEMPO” que permita avançar um pouco mais em direção a CAPE TOWN.
A navegação de DURBAN, para CAPE TOWN, é sem duvida uma das mais difíceis de toda travessia, atemorizando até os mais experientes navegadores.
Somente podemos seguir para o SUL, quando temos uma janela de tempo que permita alcançar o próximo porto, que ofereça abrigo contra os ventos de sudoeste causados pelas frentes frias. Quando a frente fria está terminando, e os ventos de sudoeste começam a perder a força, é o momento de partir e cumprir mais uma etapa até o próximo porto. Temos que tomar cuidado também com os ventos de LESTE/NORDESTE, que também atingem picos de até 40 nós com facilidade, que apesar de serem ventos favoráveis, oferecem perigo a navegação, por causa da corrente das agulhas. Não é à toa o grande numero de naufrágios desta região, temida até pelos grandes navegadores portugueses.
O trecho que mais preocupa é de  DURBAN a PORTO ELISABETH, somente existe um porto abrigado no trajeto que se chama EAST LONDON, é exatamente entre estes dois portos que a corrente atinge 6 nós de velocidade, formando ondas enormes, quando sopra ventos acima de trinta nós.
Obrigado a todos que tem me enviado e-mail. Quando houver alguma pergunta, responderei no blog, oportunamente.
Até o próximo porto.

Um grande abraço.

Marinheiro Raimundo

FOTO 01 – ESTAI QUEBRADO

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FOTO 02 – MARINA DE ILHA MAURICIO

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FOTO 03 - PESSOAL DA ODEBRETECH

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FOTO 04 - COCOS KEELING

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FOTO 05 - MEUS NOVOS AMIGOS, FILHOS DE VELEJADORES SUIÇOS DO BARCO TOP TO TOP

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FOTO 06 - YACHT CLUB DURBAN

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Travessia Reunion a Durban (África do Sul)

A todos os amigos,
Às oito horas da manhã do dia 13/11/2011, deixei o ancoradouro da marina em Reunion, e fui ao posto de combustível, abastecer. Devidamente abastecido me fiz ao largo, às dez horas já via REUNION, pela popa.
Eu estava ansioso, para continuar a viagem, pois sabia que esta perna da viagem, poderia ser mais dura, devido a um grande numero de tempestades que ocorre, entre o sul de MADAGASCAR e o continente Africano.
A meia noite acordei com o barulho das velas, fazendo “flap, flap.” por falta de vento, e o balanço causado pelo SWELL, vindo do sul, liguei o motor e continuei a viagem.
Nesta região, é recomendado velejar no mínimo a 150 milhas longe da Costa de MADAGASCAR, para evitar micro climas, e correntes contra que correm junto ao litoral deste país.
Os dias foram se alternando em dias com bons ventos, e dias com pouco vento, após dobrar o sul de MADAGASCAR, o vento passou a ser uma constante, melhorando muito nossa média de singradura diária, pelos cálculos chegaríamos a DURBAN, na sexta feira dia 25/11/2011.
Na quinta feira às nove horas faltavam apenas 140 milhas para chegar, em DURBAN, com previsão de chegada no final da tarde da sexta feira. Logo após o almoço o tempo começou a mudar rapidamente, o aumento repentino do vento que neste momento era de 22 nós. Pressentindo uma mudança radical, comecei a me preparar para enfrentar ventos mais fortes, e ondas maiores.
Às 14 horas já estávamos com 26 nós de vento com rajadas até 28 nós.
A tormenta chegou às 16 horas para valer com ventos de 30/35 nós, vindos de sudoeste. Com as velas todas içadas, começamos a velejar em contra vento, conseguindo manter o rumo para Oeste.
O barco começou a caturrar, e receber pancadas das ondas no costado, a cada pancada ele perdia o rumo, voltando em seguida corrigido pelo ótimo leme de vento que temos. Às 19 horas as ondas e o vento e as constantes regulagens das velas, me deixaram cansados.
Ao plotar nossa posição, percebi que se continuasse avançando como estávamos fazendo, iria atravessar a temida corrente das agulhas no meio da noite, com um risco muito grande de encontrar as ondas com mais de seis metros, colocando em risco a segurança minha e do CAROLL. Como o vento e o mar não davam sinal de dar tréguas, resolvi então aquartelar a buja, e colocar o barco na capa. Como nunca havia utilizado esta tática, tinha minhas duvidas se iria dar certo. Para minha grata surpresa logo após ajustar as velas, a velocidade, caiu de 7/8nós, para 1,6 nós, derivando para nordeste, nos tirando da rota direta da CORRENTE DAS AGULHAS. A estabilização do barco foi algo incrível, paramos de receber as ondas pelo través, restando apenas o balanço e as adernadas, porem com pouco risco para integridade do barco. Fechei totalmente o barco, preparei algo rápido para comer, tomei um chá quente, instalei um beliche entre a caixa da quilha e o tanque de água, forrei as laterais com almofadas, deitei e dormi muito rápido de tão cansado que eu estava.
Acordei a meia noite e meia, coloquei minha roupa de tempo e fui lá fora para ver como estava o tempo.
A escuridão era total, o vento soprava desbragadamente, tocando sua musica desafinada nos estais, mastro e cordames.
O medidor de vento marcava 35/40 nós constantes. Como o barco continuava estável, chequei os alarmes de radar, e AIS, como estavam OK, voltei para o meu beliche e continuei a dormir, acordando às 04h30min da manhã, quando o dia começa a clarear.
Às 10 horas do dia 26/11/2011, o vento começou diminuir de intensidade, quando novamente eu ajustei as velas para rumar para oeste com destino a Durban, aonde chegamos no sábado dia 26/11/2011 às 14h30min.
E assim cumprimos mais uma etapa de nossa odisséia, motivo pelo qual estou muito feliz e com a sensação do dever cumprido.
Quero cumprimentar o projetista do barco ROBERTO MESQUITA BARROS e o construtor MARCOS DELAMARE TOLEDO, pelo barco marinheiro, forte e confiável, que velejo.
Todos os dias eu converso com o CAROLL, e sinto que estamos cada vez mais entrosados.
Até CAPE TOWN, no oceano ATLANTICO, com as bênçãos do CRIADOR.
Muito obrigado a todos.

Marinheiro Raimundo

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